quarta-feira, 27 de novembro de 2013

EVANGELII GAUDIUM - Papa Francisco

Foi dada a conhecer ao público, nesta terça-feira, dia 26/11/2013, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) do Papa Francisco. A exortação fala do anúncio do Evangelho no mundo atual.

Uma frase contundente do Papa nesta Exortação: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.


Vale à pena conferir o texto desta Exortação Apostólica por inteiro!





quinta-feira, 3 de outubro de 2013

FRANCISCO DE ASSIS: HOMEM LIVRE!

Frei Nilo Agostini, ofm

São Francisco revela-se surpreendente no modo de viver a liberdade. Não foi um teórico da liberdade. Antes, viveu-a. Sua biografia é a de um homem livre. Sua grandeza provém de uma personalidade integrada e de uma liberdade humanizante e criadora. Tal liberdade é, antes, fruto de uma libertação de tudo o que poderia entorpecer e obstaculizar o seu projeto de vida.

Em Francisco encontramos uma liberdade que é soberana. Por isso, as instituições, com sua tendência a tudo determinar, enquadrar, codificando a vida nos mínimos detalhes, têm no poverello de Assis alguém capaz de ater-se mais ao carisma, mais à espiritualidade que às regras, às leis. Para ele, bastava um mínimo de controle e importava um máximo de expansão espiritual. A sua regra de vida não é senão um convite a galgar os mais altos graus de liberdade. Não temia a lei e a norma; era-lhes até fiel, sem ser escravo. “Conseguiu ser espontâneo, sem cair na arbitrariedade e na anarquia, na mediocridade e na superficialidade” (1).

Frei José Antonio Merino, em seu belo livro Visión franciscana de la vida cotidiana, retrata com acerto o itinerário de conquista da liberdade em Francisco, ao escrever:

“Francisco foi singularmente livre. Porém adquiriu uma exemplar liberdade através de um doloroso e difícil processo de libertação. Libertou-se das forças caprichosas dos próprios instintos, libertou-se da vaidade de ser um personagem importante na sociedade, libertou-se de um amor possessivo e apaixonado carnalmente, libertou-se do particularismo da própria família, libertou-se das paixões paralisantes, libertou-se das formas convencionais da sociedade de seu tempo, libertou-se de coisas e de casas, libertou-se das formas rotineiras da vida religiosa de então, libertou-se de estruturas e de instituições convencionais, libertou-se de pertencer a uma única classe social, libertou-se das formas tradicionais de dirigir-se a Deus, libertou-se da grande tristeza, libertou-se do antagonismo entre alma e corpo e inclusive libertou-se do medo da morte” (2).

O comportamento de Francisco é revelador de uma força e flexibilidade de caráter (3). Intrépido “idealista”, de temperamento afetivo e espírito de intuição, duríssimo se necessário: isto é Francisco! Encontramos nele “a convergência de duas características aparentemente contraditórias, mas que não se excluem mutuamente: a ‘firmeza’ na indicação do próprio ideal e a ‘flexibilidade’ em torná-lo possível nas circunstâncias concretas sem nunca desvirtuar seus elementos constitutivos fundamentais” (4). Podemos compreender, assim, que Francisco tenha se pautado por uma grande liberdade na busca da forma própria de vida evangélica que “o Altíssimo mesmo lhe revelara que deveria viver” (5). Isto causou certo espanto nas autoridades eclesiásticas de então, para quem Francisco deveria assumir “caminhos mais fáceis” (6).

Citações:
1. KOSER, C., Vida com Deus no mundo de hoje, Petrópolis, Ed. Vozes, 1971, p. 113.
2. MERINO, J. A., Visión franciscana de la vida, Madrid: Ed. Paulinas, 1991, p. 101-102.
3. Cf. ZAVALLONI, R., A personalidade de Francisco de Assis - Estudo psicológico, Petrópolis, CEFEPAL, 1993, p. 20ss.
4. Ibidem, p. 22. Cf. MANSELLI, R., São Francisco, Petrópolis, Ed. Vozes/FFB, 1997, p. 238ss.
5. SÃO FRANCISCO DE ASSIS, Testamento, nº 14, em: FONTES FRANCISCANAS, Escritos e biografias de São Francisco de Assis - Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano, Petrópolis, Ed. Vozes, 1988, p. 168.
6. Cf. CELANO, T., Vida I, nº 33, em: FONTES FRANCISCANAS, op. cit., p. 201.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

PELA PAZ, COM SÃO FRANCISCO E SANTA CLARA!

O Papa Francisco visitará Assis cidade seráfica onde nasceu Francisco e Clara... Francisco vai como peregrino de Francisco e Clara trilhando com eles os passos do Senhor, na oportunidade presidirá grande Solenidade do seráfico pai São Francisco neste dia 04 de Outubro de 2013. Vamos com o Papa nesta peregrinação a Assis com nossa oração e comunhão, todos pela Paz no Mundo!

A MISERICÓRDIA - Papa Francisco

"A misericórdia é a verdadeira força que pode salvar o homem e o mundo do "câncer" que é o pecado, o mal moral, o mal espiritual. Só o amor preenche os espaços vazios, os abismos negativos que o mal abre no coração e na história. Somente o amor pode fazer isso, e essa é a alegria de Deus!"

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SEXUALIDADE E REALIZAÇÃO HUMANA

"A sexualidade é uma das maiores riquezas do ser humano; a realização deste está intimamente ligada a ela. Vivê-la com equilíbrio e maturidade é hoje o grande desafio. As mudanças trazidas pela modernidade e... pela pós-modernidade introduziram padrões e comportamentos que mudaram a forma de viver a sexualidade. A visão fragmentada da modernidade e as manifestações miniaturizadas da pós-modernidade tendem a reduzir o seu potencial e a banalizar o seu valor. A Igreja Católica, por sua vez, propõe uma visão integral do ser humano, na qual a sexualidade é parte integrante de todo o seu ser; capta a sua riqueza, sendo ela um bem; busca vivê-la no amor, no dom de si, buscando sempre o bem das pessoas e da sociedade. Assim, a sexualidade torna-se fonte de realização e de comunhão entre as pessoas e com o próprio Deus".

Frei Nilo Agostini, ofm

POR UM EQUILÍBRIO DINÂMICO DA CRIAÇÃO

"A consciência dos limites da natureza leva-nos a sublinhar a interação ser humano-natureza, numa atitude participante, na qual nos sentimos parte de uma teia de relações inclusivas. No entanto, persiste uma atitude depredadora que 'desnatura' a criação, fazendo ecoar muito forte a crise ecológica, que nos reenvia à crise do humano, verdadeira crise civilizatória e ética. Vivemos num desequilíbrio vital grave. Importa reassumirmos a criação, reorientarmos o lugar que nela ocupamos como humanos, numa rede multifacetária de relações. Soou a hora de uma ética capaz de levar-nos a integrar o equilíbrio dinâmico da criação, na teia das relações globais, lastreados na co-responsabilidade. Isto significa engajarmo-nos em favor de todo ser vivente, em favor das gerações futuras, situando-nos parte da criação, gestando uma nova síntese 'Deus-ser humano-natureza'".

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

TEXTOS SELECIONADOS DA ENTREVISTA DO PAPA NO RETORNO DO BRASIL PARA A ITÁLIA (2013-07-30 Rádio Vaticana)


Cidade do Vaticano (RV) – Depois de uma verdadeira maratona, repleta de atividades no Rio de Janeiro, por ocasião da JMJ, Papa Francisco se encontra no Vaticano.

Durante a viagem de retorno a Roma, Papa Francisco concedeu uma longa entrevista aos jornalistas, que viajavam com ele no mesmo avião. Em cerca de quase uma hora e meia, o Pontífice fez um balanço da sua viagem ao Brasil, falando, em italiano, aos jornalistas, com total liberdade:

Vamos apresentar a vocês, amigos ouvintes, parte desta longa entrevista que o Papa Francisco concedeu aos jornalistas acreditados junto à Santa Sé.

Sob a direção do Padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa de Santa Sé, 21 jornalistas, doze homens e 9 mulheres, fizeram suas perguntas ao Papa, em seis línguas: português, espanhol, italiano, francês e inglês.

O jornalista Juan de Lara, da agência de notícias EFE, perguntou em espanhol: “Que tipo de reforma o senhor pretende fazer, no que se refere ao IOR, o Banco do Vaticano?
“Os passos, que comecei a dar nestes quatro meses e meio de Pontificado, provêm de duas vertentes: a primeira é das reuniões gerais dos Cardeais, sobre as muitas coisas que o novo Papa deveria fazer, como a de criar uma Comissão de Cardeais para uma consulta outsider. Estes oito Cardeais favorecem o aspecto sinodal, ou seja, são interlocutores dos episcopados do mundo no governo da Igreja. Além da reforma do IOR, são muitas as propostas de reforma dos Organismos Vaticanos, como por exemplo: a metodologia da Secretaria do Sínodo dos Bispos; o caráter permanente da consulta da Comissão pós-sinodal; as temáticas dos Consistórios, que não devem ser tão formais etc. A segunda vertente refere-se à oportunidade. Por enquanto, constitui uma Comissão de oito Cardeais, mas queria tratar da parte econômica no próximo ano, porque não era tão importante no momento. Mas, devido às circunstâncias, como todos sabem, tivemos que enfrentar alguns problemas concernentes ao IOR: como dirigi-lo, delineá-lo, reformulá-lo. Por isso, constituímos uma Comissão de Referência, com um quirógrafo e seus membros integrantes. Enfim, tivemos a reunião de quinze Cardeais, de diversos Países, encarregados dos aspectos econômicos da Santa Sé”.

Em nome do grupo de jornalistas de língua inglesa, um representante da Reuters perguntou ao Santo Padre: “Em algumas das suas afirmações, o senhor tem dito que no Vaticano trabalham muitas pessoas santas, mas também algumas menos santas, que colocam resistência ao seu desejo de renovar e mudar o Vaticano. Por exemplo o fato de permanecer residindo na Casa Santa Marta, ao invés do Palácio Apostólico. O senhor gostaria que seus colaboradores, inclusive os Cadeais, seguissem seu exemplo de austeridade ou é uma escolha apenas pessoal?
“As mudanças também provêm de duas vertentes: as que os Cardeais pedem e as que eu gostaria de fazer, pessoalmente. Eu quis ficar na Casa de Santa Marta, porque não conseguiria viver sozinho no Palácio Apostólico: embora ele seja espaçoso e não tão luxuoso, eu não posso viver sozinho com um pequeno grupo de colaboradores. Preciso estar no meio da gente, encontrar a gente, falar com a gente... Não é por austeridade ou pobreza, mas simplesmente por questões psicológicas. Cada um tem seu estilo de vida e de ação... Os Cardeais que conheço, moram em apartamentos simples e austeros no Vaticano... É justo que cada um deve viver como o Senhor quer... a austeridade é exigida, sobretudo, para aqueles que vivem a serviço da Igreja... existem tantos aspectos da austeridade, mas cada um deve seguir o caminho que é mais oportuno... Em relação às pessoas santas é verdade: existem tantos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, leigos que são realmente santos! Trata-se de gente que reza, que trabalha muito e que se dedicada aos pobres, mesmo no escondimento. Sei de alguns que, no tempo livre, vão dar de comer aos famintos, mas, depois, voltam a exercer seu ministério na igreja ou em outros lugares... Também na Cúria há pessoas santas, mas há alguns menos santos, que fazem mais barulho, causam escândalo, praticam o mal. Vocês sabem que “faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce”! Pessoalmente, acho que a Cúria Romana decaiu um pouco, em relação aos antigos curiais, que trabalhavam seriamente Precisamos de gente assim! Na verdade, até agora encontrei mais ajuda que resistência! Eu gosto de pessoas que dizem “que não concordam”. Isto não quer dizer fazer resistência! Este sim pode ser um bom colaborador, ao invés daquele que sempre diz “que bom, que bonito” e depois age ao contrário!

Uma representante da Rádio Renascença, de Portugal, Aura Miguel, perguntou ao Papa: “Por que o senhor pede tanto orações aos fiéis para a sua pessoa... a gente não está acostumada a ouvir um Papa que pede tantas orações para si...”.
“Eu sempre fiz este pedido, mesmo quando era sacerdote, embora de maneira não muito frequente... comecei a pedir, de modo mais insistente, quando exercia a missão de bispo, porque, se o Senhor não ajudar no trabalho com o Povo de Deus, a pessoa não consegue ir adiante. Eu tenho tantas limitações, tantos problemas, mesmo como pecador... eis porque tenho que pedir orações aos fiéis. Esta é uma coisa que nasce espontaneamente dentro de mim... Eu também peço a Nossa Senhora, pra que interceda por mim junto a Deus”.

Depois, uma jornalista brasileira, Patrícia Zorzan, tomou a palavra, em nome dos jornalistas brasileiros, dizendo: “A sociedade mudou e os jovens também, mesmo no Brasil. Mas, durante a JMJ o senhor não falou sobre o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por que?
“A Igreja já se expressou perfeitamente a este respeito. Por isso, não era necessário voltar sobre este assunto, como também não falei sobre corrupção e outras coisas, sobre as quais a Doutrina da Igreja é muito clara! Sei que isto interessa aos jovens, mas achei que deveria falar mais de coisas positivas, que pudessem ajudar os jovens em seu caminho de fé. Eles sabem muito bem qual é a posição da Igreja sobre tais temas. Eu sou filho da Igreja e, por isso, a minha posição é a mesma da Igreja”.

Em nome dos nove jornalistas de língua francesa, Antoine-Marie Izoard perguntou ao Santo Padre: “Desde o início do seu Pontificado, 13 de março, o senhor insiste em afirmar que é Bispo de Roma. Isto significa colegialidade, ecumenismo?
“Sim, de fato, mas não devemos ir além do que se diz, pois o Papa é Bispo; é Bispo de Roma por ser o Sucessor de Pedro, Vigário de Cristo... há outros títulos, mas o principal é este: “Bispo de Roma”. Daí vêm os demais títulos, que podem favorecer o que você diz sobre ecumenismo etc... Ser Bispo é belo! O problema nasce quando alguém pretende ser Bispo, para ser superior aos outros, não como os outros... querendo ser Príncipe... Assim, pode-se correr o risco de cair em pecado. Mas a missão do Bispo é maravilhosa, pois confirma os fiéis na fé, os ajuda a trilhar na fé. O Bispo deve viver em comunhão com o seu rebanho. Eu gosto muito de ser Bispo. Em Buenos Aires eu era muito feliz como sacerdote e depois como Bispo. E agora, faço a vontade de Deus como Papa, Bispo de Roma”.

Uma jornalista norte-americana da CNN, Ada Messia, perguntou ao Papa: “No encontro com os argentinos, na Catedral de Rio de Janeiro, o senhor falou, brincando ou seriamente, que, às vezes, se sente “enjaulado”. O que queria dizer, exatamente?
“Você sabe quantas vezes eu gostaria de sair pelas ruas de Roma, como fazia em Buenos Aires? Lá eu era chamado de “padre ruador” porque gostava de sair... É neste sentido que eu me sinto um pouco enjaulado... Quanto são bons os gendarmes do Vaticano, que me permitem sair um pouco dos esquemas protocolares... me deixam fazer um pouco mais do que eu deveria... Claro, entendo que o dever deles é cuidar da minha segurança. Por isso, eu lhes agradeço e entendo que não é possível sair sozinho pelas ruas de Roma”.

Entre os jornalistas brasileiros, Márcio Campos, que representa os demais colegas do Diário, do Estado, da Globo, perguntou ao Papa Bergoglio: “A Igreja católica no Brasil perdeu muitos fiéis nestes últimos anos. O senhor acha que o Movimento da Renovação Carismática poderia ser um meio para evitar este êxodo para as Igrejas pentecostais?
“È verdade o que você diz sobre a queda dos fiéis, mas, sobre estas estatísticas, conversei com os Bispos do Brasil... Para dizer a verdade, no fim dos anos Sessenta, eu não podia ver e nem falar do Movimento da Renovação Carismática. Uma vez, comentando sobre seus membros, eu até disse: “Eles confundem a celebração litúrgica com uma escola de samba”. Eu disse, mas me arrependi, depois que os conheci. Eles percorreram tanta estrada e fizeram também muito bem à Igreja, em geral. Hoje, acho que os Movimentos na Igreja são muito necessários: são uma graça do Espírito Santo; eles podem ajudar a manter os fiéis na Igreja, mas devem servir à Igreja. Cada um se insere no Movimento eclesial segundo o próprio carisma, segundo a inspiração do Espírito“.

A jornalista francesa, Guénois, representante dos jornais Le Figaro e Le Croix, perguntou ao Papa: “O senhor fala sobre a importância da mulher na Igreja. Quais as medidas concretas o senhor vai tomar: criar um diaconato feminino ou colocar alguma mulher como chefe de Organismos vaticanos?
“Uma Igreja sem mulheres é como um Colégio apostólico sem Maria. A função da mulher na Igreja não é somente a de maternidade, de mãe de família, de doméstica, mas é bem maior. Ela deve ser como o ícone de Nossa Senhora: aquela que ajuda a Igreja a crescer! Vocês não acham que Maria era maior que os Apóstolos? De fato, ela era mais importante que eles! O papel das mulheres na Igreja não deve ser limitado. Os Papas falaram sobre a sua função e carisma em âmbito eclesial. Não se pode conceber uma Igreja sem as mulheres, sem a sua atividade! Na Igreja, deve-se pensar à mulher na perspectiva de escolhas mais ousadas. Seria preciso uma profunda teologia sobre a mulher na Igreja! Mas, a respeito de uma eventual ordenação de mulheres, a Igreja se declara contrária. No entanto, repito: Maria era mais importante que os Apóstolos, bispos, diáconos e sacerdotes. Eis porque acho que deve haver uma teologia sobre as mulheres, para dar uma maior explicação teológica sobre a sua presença e função na Igreja!”. (MT)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

ÍNTEGRA DO DISCURSO DE DESPEDIDA DO PAPA FRANCISCO NO AEROPORTO - Rio de Janeiro, 28/07/2013

“Senhor Vice-Presidente da República,
Distintas Autoridade Nacionais, Estaduais e Locais,
Senhor Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado,
...
Queridos Amigos!

Dentro de alguns instantes, deixarei sua Pátria para regressar a Roma. Parto com a alma cheia de recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração; este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha. Tenho a certeza de que Cristo vive e está realmente presente no agir de tantos e tantos jovens e demais pessoas que encontrei nesta inesquecível semana. Obrigado pelo acolhimento e o calor da amizade que me foram demonstrados. Também disso começo a sentir saudades.

De modo particular agradeço à Senhora Presidenta, por ter-se feito intérprete dos sentimentos de todo o povo do Brasil para com o Sucessor de Pedro. Cordialmente agradeço a meus Irmãos Bispos e seus inúmeros colaboradores por terem tornado estes dias uma celebração estupenda da nossa fé fecunda e jubilosa em Jesus Cristo. Agradeço a todos os que tomaram parte nas celebrações da Eucaristia e nos restantes eventos, àqueles que os organizaram, a quantos trabalharam para difundi-los através da mídia. Agradeço, enfim, a todas as pessoas que, de um modo ou outro, souberam acudir às necessidades de acolhida e gestão de uma multidão imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no silêncio e na simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude fosse uma verdadeira experiência de crescimento na fé. Que Deus recompense a todos, como só Ele sabe fazer!

Neste clima de gratidão e saudades, penso nos jovens, protagonistas desse grande encontro: Deus lhes abençoe por tão belo testemunho de participação viva, profunda e alegre nestes dias! Muitos de vocês vieram como discípulos nesta peregrinação; não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do amor. Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita!

O meu pensamento final, minha última expressão das saudades, dirige-se a Nossa Senhora Aparecida. Naquele amado Santuário, ajoelhei-me em prece pela humanidade inteira e, de modo especial, por todos os brasileiros. Pedi a Maria que robusteça em vocês a fé cristã, que é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros países, tesouro de sua cultura, alento e força para construírem uma nova humanidade na concórdia e na solidariedade. O Papa vai embora e lhes diz “até breve”, um “até breve” com saudades, e lhes pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele. Este Papa precisa da oração de todos vocês. Um abraço para todos. Que Deus lhes abençoe!

 

ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PAPA PARA VOLUTÁRIOS DA JMJ - Rio de Janeiro, 28/07/2013

“Queridos voluntários, boa tarde!

Não podia regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuoso, a cada um de vocês pelo trabalho e dedicação c...om que acompanharam, ajudaram, serviram aos milhares de jovens peregrinos; pelos inúmeros pequenos detalhes que fizeram desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé. Com os sorrisos de cada um de vocês, com a gentileza, com a disponibilidade ao serviço, vocês provaram que “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35).

O serviço que vocês realizaram nestes dias me lembrou da missão de São João Batista, que preparou o caminho para Jesus. Cada um, a seu modo, foi um instrumento para que milhares de jovens tivessem o “caminho preparado” para encontrar Jesus. E esse é o serviço mais bonito que podemos realizar como discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam conhecer, encontrar e amar o Senhor. A vocês que, neste período, responderam com tanta prontidão e generosidade ao chamado para ser voluntários na Jornada Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e comos demais.

Não se perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe! Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção da realização jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”; na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!

O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados. Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria!

Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho. Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10). Peçam vocês também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?

Caros amigos, novamente lhes agradeço por tudo o que fizeram nestes dias. Não se esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar sempre com minhas orações, e sei que posso contar com as orações de vocês.”

domingo, 28 de julho de 2013

TEXTO DO DISCURSO DO PAPA AO CELAM - Rio de Janeiro, 28/07/2013

1. Introducción

Agradezco al Señor esta oportunidad de poder hablar con ustedes, hermanos Obispos, responsables del CELAM en el cuatrienio 2011-2015. Hace 57 años que el CELA...M sirve a las 22 Conferencias Episcopales de América Latina y El Caribe, colaborando solidaria y subsidiariamente para promover, impulsar y dinamizar la colegialidad episcopal y la comunión entre las Iglesias de esta Región y sus Pastores.

Como Ustedes, también yo soy testigo del fuerte impulso del Espíritu en la Quinta Conferencia General del Episcopado Latinoamericano y El Caribe en Aparecida, en mayo de 2007, que sigue animando los trabajos del CELAM para la anhelada renovación de las iglesias particulares. Esta renovación, en buena parte de ellas, se encuentra ya en marcha. Quisiera centrar esta conversación en el patrimonio heredado de aquel encuentro fraterno y que todos hemos bautizado como Misión Continental.

2. Características peculiares de Aparecida

Existen cuatro características que son propias de la V Conferencia. Son como cuatro columnas del desarrollo de Aparecida y que le dan su originalidad.

1) Inicio sin documento

Medellín, Puebla y Santo Domingo comenzaron sus trabajos con un camino recorrido de preparación que culminó en una especie de Instrumentum laboris, con el cual se desarrolló la discusión, reflexión y aprobación del documento final. En cambio, Aparecida promovió la participación de las Iglesias particulares como camino de preparación que culminó en un documento de síntesis. Este documento, si bien fue referencia durante la Quinta Conferencia General, no se asumió como documento de partida. El trabajo inicial consistió en poner en común las preocupaciones de los Pastores ante el cambio de época y la necesidad de recuperar la vida discipular y misionera con la que Cristo fundó la Iglesia.

2) Ambiente de oración con el Pueblo de Dios

Es importante recordar el ambiente de oración generado por el diario compartir la Eucaristía y otros momentos litúrgicos, donde siempre fuimos acompañados por el Pueblo de Dios. Por otro lado, puesto que los trabajos tenían lugar en el subsuelo del Santuario, la "música funcional" que los acompañaba fueron los cánticos y oraciones de los fieles.

3) Documento que se prolonga en compromiso, con la Misión Continental

En este contexto de oración y vivencia de fe surgió el deseo de un nuevo Pentecostés para la Iglesia y el compromiso de la Misión Continental. Aparecida no termina con un Documento sino que se prolonga en la Misión Continental.

4) La presencia de Nuestra Señora, Madre de América

Es la primera Conferencia del Episcopado Latinoamericano y El Caribe que se realiza en un Santuario mariano.

3. Dimensiones de la Misión Continental

La Misión Continental se proyecta en dos dimensiones: programática y paradigmática. La misión programática, como su nombre lo indica, consiste en la realización de actos de índole misionera. La misión paradigmática, en cambio, implica poner en clave misionera la actividad habitual de las Iglesias particulares. Evidentemente aquí se da, como consecuencia, toda una dinámica de reforma de las estructuras eclesiales. El "cambio de estructuras" (de caducas a nuevas) no es fruto de un estudio de organización de la planta funcional eclesiástica, de lo cual resultaría una reorganización estática, sino que es consecuencia de la dinámica de la misión. Lo que hace caer las estructuras caducas, lo que lleva a cambiar los corazones de los cristianos, es precisamente la misionariedad. De aquí la importancia de la misión paradigmática.

La Misión Continental, sea programática, sea paradigmática, exige generar la conciencia de una Iglesia que se organiza para servir a todos los bautizados y hombres de buena voluntad. El discípulo de Cristo no es una persona aislada en una espiritualidad intimista, sino una persona en comunidad, para darse a los demás. Misión Continental, por tanto, implica pertenencia eclesial.

Un planteo como éste, que comienza por el discipulado misionero e implica comprender la identidad del cristiano como pertenencia eclesial, pide que nos explicitemos cuáles son los desafíos vigentes de la misionariedad discipular. Señalaré solamente dos: la renovación interna de la Iglesia y el diálogo con el mundo actual.

Renovación interna de la Iglesia

Aparecida ha propuesto como necesaria la Conversión Pastoral. Esta conversión implica creer en la Buena Nueva, creer en Jesucristo portador del Reino de Dios, en su irrupción en el mundo, en su presencia victoriosa sobre el mal; creer en la asistencia y conducción del Espíritu Santo; creer en la Iglesia, Cuerpo de Cristo y prolongadora del dinamismo de la Encarnación.

En este sentido, es necesario que, como Pastores, nos planteemos interrogantes que hacen a la marcha de las Iglesias que presidimos. Estas preguntas sirven de guía para examinar el estado de las diócesis en la asunción del espíritu de Aparecida y son preguntas que conviene nos hagamos frecuentemente como examen de conciencia.

1. ¿Procuramos que nuestro trabajo y el de nuestros Presbíteros sea más pastoral que administrativo? ¿Quién es el principal beneficiario de la labor eclesial, la Iglesia como organización o el Pueblo de Dios en su totalidad?

2. ¿Superamos la tentación de atender de manera reactiva los complejos problemas que surgen? ¿Creamos un hábito pro-activo? ¿Promovemos espacios y ocasiones para manifestar la misericordia de Dios? ¿Somos conscientes de la responsabilidad de replantear las actitudes pastorales y el funcionamiento de las estructuras eclesiales, buscando el bien de los fieles y de la sociedad?

3. En la práctica, ¿hacemos partícipes de la Misión a los fieles laicos? ¿Ofrecemos la Palabra de Dios y los Sacramentos con la clara conciencia y convicción de que el Espíritu se manifiesta en ellos?

4. ¿Es un criterio habitual el discernimiento pastoral, sirviéndonos de los Consejos Diocesanos? Estos Consejos y los Parroquiales de Pastoral y de Asuntos Económicos ¿son espacios reales para la participación laical en la consulta, organización y planificación pastoral? El buen funcionamiento de los Consejos es determinante. Creo que estamos muy atrasados en esto.

5. Los Pastores, Obispos y Presbíteros, ¿tenemos conciencia y convicción de la misión de los fieles y les damos la libertad para que vayan discerniendo, conforme a su proceso de discípulos, la misión que el Señor les confía? ¿Los apoyamos y acompañamos, superando cualquier tentación de manipulación o sometimiento indebido? ¿Estamos siempre abiertos para dejarnos interpelar en la búsqueda del bien de la Iglesia y su Misión en el mundo?

6. Los agentes de pastoral y los fieles en general ¿se sienten parte de la Iglesia, se identifican con ella y la acercan a los bautizados distantes y alejados?

Como se puede apreciar aquí están en juego actitudes. La Conversión Pastoral atañe principalmente a las actitudes y a una reforma de vida. Un cambio de actitudes necesariamente es dinámico: "entra en proceso" y sólo se lo puede contener acompañándolo y discerniendo. Es importante tener siempre presente que la brújula, para no perderse en este camino, es la de la identidad católica concebida como pertenencia eclesial.

Diálogo con el mundo actual

Hace bien recordar las palabras del Concilio Vaticano II: Los gozos y las esperanzas, las tristezas y las angustias de los hombres de nuestro tiempo, sobre todo de los pobres y de cuantos sufren, son a la vez gozos y esperanzas, tristezas y angustias de los discípulos de Cristo (cf. GS, 1). Aquí reside el fundamento del diálogo con el mundo actual.

La respuesta a las preguntas existenciales del hombre de hoy, especialmente de las nuevas generaciones, atendiendo a su lenguaje, entraña un cambio fecundo que hay que recorrer con la ayuda del Evangelio, del Magisterio, y de la Doctrina Social de la Iglesia. Los escenarios y areópagos son de lo más variado. Por ejemplo, en una misma ciudad, existen varios imaginarios colectivos que conforman "diversas ciudades". Si nos mantenemos solamente en los parámetros de "la cultura de siempre", en el fondo una cultura de base rural, el resultado terminará anulando la fuerza del Espíritu Santo. Dios está en todas partes: hay que saber descubrirlo para poder anunciarlo en el idioma de esa cultura; y cada realidad, cada idioma, tiene un ritmo diverso.

4. Algunas tentaciones contra el discipulado misionero

La opción por la misionariedad del discípulo será tentada. Es importante saber por dónde va el mal espíritu para ayudarnos en el discernimiento. No se trata de salir a cazar demonios, sino simplemente de lucidez y astucia evangélica. Menciono sólo algunas actitudes que configuran una Iglesia "tentada". Se trata de conocer ciertas propuestas actuales que pueden mimetizarse en la dinámica del discipulado misionero y detener, hasta hacer fracasar, el proceso de Conversión Pastoral.

1. La ideologización del mensaje evangélico. Es una tentación que se dio en la Iglesia desde el principio: buscar una hermenéutica de interpretación evangélica fuera del mismo mensaje del Evangelio y fuera de la Iglesia. Un ejemplo: Aparecida, en un momento, sufrió esta tentación bajo la forma de asepsia. Se utilizó, y está bien, el método de "ver, juzgar, actuar" (cf. n. 19). La tentación estaría en optar por un "ver" totalmente aséptico, un "ver" neutro, lo cual es inviable. Siempre el ver está afectado por la mirada. No existe una hermenéutica aséptica. La pregunta era, entonces: ¿con qué mirada vamos a ver la realidad? Aparecida respondió: Con mirada de discípulo. Así se entienden los números 20 al 32. Hay otras maneras de ideologización del mensaje y, actualmente, aparecen en Latinoamérica y El Caribe propuestas de esta índole. Menciono sólo algunas:

a) El reduccionismo socializante. Es la ideologización más fácil de descubrir. En algunos momentos fue muy fuerte. Se trata de una pretensión interpretativa en base a una hermenéutica según las ciencias sociales. Abarca los campos más variados, desde el liberalismo de mercado hasta la categorización marxista.

b) La ideologización psicológica. Se trata de una hermenéutica elitista que, en definitiva, reduce el "encuentro con Jesucristo" y su ulterior desarrollo a una dinámica de autoconocimiento. Suele darse principalmente en cursos de espiritualidad, retiros espirituales, etc. Termina por resultar una postura inmanente autorreferencial. No sabe de trascendencia y, por tanto, de misionariedad.

c) La propuesta gnóstica. Bastante ligada a la tentación anterior. Suele darse en grupos de élites con una propuesta de espiritualidad superior, bastante desencarnada, que termina por desembarcar en posturas pastorales de "quaestiones disputatae". Fue la primera desviación de la comunidad primitiva y reaparece, a lo largo de la historia de la Iglesia, en ediciones corregidas y renovadas. Vulgarmente se los denomina "católicos ilustrados" (por ser actualmente herederos de la Ilustración).

d) La propuesta pelagiana. Aparece fundamentalmente bajo la forma de restauracionismo. Ante los males de la Iglesia se busca una solución sólo en la disciplina, en la restauración de conductas y formas superadas que, incluso culturalmente, no tienen capacidad significativa. En América Latina suele darse en pequeños grupos, en algunas nuevas Congregaciones Religiosas, en tendencias a la "seguridad" doctrinal o disciplinaria. Fundamentalmente es estática, si bien puede prometerse una dinámica hacia adentro: involuciona. Busca "recuperar" el pasado perdido.

2. El funcionalismo. Su acción en la Iglesia es paralizante. Más que con la ruta se entusiasma con la "hoja de ruta". La concepción funcionalista no tolera el misterio, va a la eficacia. Reduce la realidad de la Iglesia a la estructura de una ONG. Lo que vale es el resultado constatable y las estadísticas. De aquí se va a todas las modalidades empresariales de Iglesia. Constituye una suerte de "teología de la prosperidad" en lo organizativo de la pastoral.

3. El clericalismo es también una tentación muy actual en Latinoamérica. Curiosamente, en la mayoría de los casos, se trata de una complicidad pecadora: el cura clericaliza y el laico le pide por favor que lo clericalice, porque en el fondo le resulta más cómodo. El fenómeno del clericalismo explica, en gran parte, la falta de adultez y de cristiana libertad en buena parte del laicado latinoamericano. O no crece (la mayoría), o se acurruca en cobertizos de ideologizaciones como las ya vistas, o en pertenencias parciales y limitadas. Existe en nuestras tierras una forma de libertad laical a través de experiencias de pueblo: el católico como pueblo. Aquí se ve una mayor autonomía, sana en general, y que se expresa fundamentalmente en la piedad popular. El capítulo de Aparecida sobre piedad popular describe con profundidad esta dimensión. La propuesta de los grupos bíblicos, de las comunidades eclesiales de base y de los Consejos pastorales va en la línea de superación del clericalismo y de un crecimiento de la responsabilidad laical.

Podríamos seguir describiendo algunas otras tentaciones contra el discipulado misionero, pero creo que éstas son las más importantes y de más fuerza en este momento de América Latina y El Caribe.

5. Algunas pautas eclesiológicas

1. El discipulado-misionero que Aparecida propuso a las Iglesias de América Latina y El Caribe es el camino que Dios quiere para este "hoy". Toda proyección utópica (hacia el futuro) o restauracionista (hacia el pasado) no es del buen espíritu. Dios es real y se manifiesta en el "hoy". Hacia el pasado su presencia se nos da como "memoria" de la gesta de salvación sea en su pueblo sea en cada uno de nosotros; hacia el futuro se nos da como "promesa" y esperanza. En el pasado Dios estuvo y dejó su huella: la memoria nos ayuda a encontrarlo; en el futuro sólo es promesa… y no está en los mil y un "futuribles". El "hoy" es lo más parecido a la eternidad; más aún: el "hoy" es chispa de eternidad. En el "hoy" se juega la vida eterna.

El discipulado misionero es vocación: llamado e invitación. Se da en un "hoy" pero "en tensión". No existe el discipulado misionero estático. El discípulo misionero no puede poseerse a sí mismo, su inmanencia está en tensión hacia la trascendencia del discipulado y hacia la trascendencia de la misión. No admite la autorreferencialidad: o se refiere a Jesucristo o se refiere al pueblo a quien se debe anunciar. Sujeto que se trasciende. Sujeto proyectado hacia el encuentro: el encuentro con el Maestro (que nos unge discípulos) y el encuentro con los hombres que esperan el anuncio.

Por eso, me gusta decir que la posición del discípulo misionero no es una posición de centro sino de periferias: vive tensionado hacia las periferias… incluso las de la eternidad en el encuentro con Jesucristo. En el anuncio evangélico, hablar de "periferias existenciales" des-centra, y habitualmente tenemos miedo a salir del centro. El discípulo-misionero es un des-centrado: el centro es Jesucristo, que convoca y envía. El discípulo es enviado a las periferias existenciales.

2. La Iglesia es institución pero cuando se erige en "centro" se funcionaliza y poco a poco se transforma en una ONG. Entonces, la Iglesia pretende tener luz propia y deja de ser ese "misterium lunae" del que nos hablaban los Santos Padres. Se vuelve cada vez más autorreferencial y se debilita su necesidad de ser misionera. De "Institución" se transforma en "Obra". Deja de ser Esposa para terminar siendo Administradora; de Servidora se transforma en "Controladora". Aparecida quiere una Iglesia Esposa, Madre, Servidora, facilitadora de la fe y no controladora de la fe.

3. En Aparecida se dan de manera relevante dos categorías pastorales que surgen de la misma originalidad del Evangelio y también pueden servirnos de pauta para evaluar el modo como vivimos eclesialmente el discipulado misionero: la cercanía y el encuentro. Ninguna de las dos es nueva, sino que conforman la manera cómo se reveló Dios en la historia. Es el "Dios cercano" a su pueblo, cercanía que llega al máximo al encarnarse. Es el Dios que sale al encuentro de su pueblo. Existen en América Latina y El Caribe pastorales "lejanas", pastorales disciplinarias que privilegian los principios, las conductas, los procedimientos organizativos… por supuesto sin cercanía, sin ternura, sin caricia. Se ignora la "revolución de la ternura" que provocó la encarnación del Verbo. Hay pastorales planteadas con tal dosis de distancia que son incapaces de lograr el encuentro: encuentro con Jesucristo, encuentro con los hermanos. Este tipo de pastorales a lo más pueden prometer una dimensión de proselitismo pero nunca llegan a lograr ni inserción eclesial ni pertenencia eclesial. La cercanía crea comunión y pertenencia, da lugar al encuentro. La cercanía toma forma de diálogo y crea una cultura del encuentro. Una piedra de toque para calibrar la cercanía y la capacidad de encuentro de una pastoral es la homilía. ¿Qué tal son nuestras homilías? ¿Nos acercan al ejemplo de nuestro Señor, que "hablaba como quien tiene autoridad" o son meramente preceptivas, lejanas, abstractas?

4. Quien conduce la pastoral, la Misión Continental (sea programática como paradigmática), es el Obispo. El Obispo debe conducir, que no es lo mismo que mandonear. Además de señalar las grandes figuras del episcopado latinoamericano que todos conocemos quisiera añadir aquí algunas líneas sobre el perfil del Obispo que ya dije a los Nuncios en la reunión que tuvimos en Roma. Los Obispos han de ser Pastores, cercanos a la gente, padres y hermanos, con mucha mansedumbre; pacientes y misericordiosos. Hombres que amen la pobreza, sea la pobreza interior como libertad ante el Señor, sea la pobreza exterior como simplicidad y austeridad de vida. Hombres que no tengan "psicología de príncipes". Hombres que no sean ambiciosos y que sean esposos de una Iglesia sin estar a la expectativa de otra. Hombres capaces de estar velando sobre el rebaño que les ha sido confiado y cuidando todo aquello que lo mantiene unido: vigilar sobre su pueblo con atención sobre los eventuales peligros que lo amenacen, pero sobre todo para cuidar la esperanza: que haya sol y luz en los corazones. Hombres capaces de sostener con amor y paciencia los pasos de Dios en su pueblo. Y el sitio del Obispo para estar con su pueblo es triple: o delante para indicar el camino, o en medio para mantenerlo unido y neutralizar los desbandes, o detrás para evitar que alguno se quede rezagado, pero también, y fundamentalmente, porque el rebaño mismo también tiene su olfato para encontrar nuevos caminos.

No quisiera abundar en más detalles sobre la persona del Obispo, sino simplemente añadir, incluyéndome en esta afirmación, que estamos un poquito retrasados en lo que a Conversión Pastoral se refiere. Conviene que nos ayudemos un poco más a dar los pasos que el Señor quiere para nosotros en este "hoy" de América Latina y El Caribe. Y sería bueno comenzar por aquí.

Les agradezco la paciencia de escucharme. Perdonen el desorden de la charla y, por favor, les pido que tomemos en serio nuestra vocación de servidores del santo pueblo fiel de Dios, porque en esto se ejercita y se muestra la autoridad: en la capacidad de servicio. Muchas gracias.

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO NA MISSA DO ENVIO DA JMJ - Rio de Janeiro 28/07/2013 (em espanhol)

Queridos hermanos en el episcopado y en el sacerdocio,

Queridos jóvenes

... «Vayan y hagan discípulos a todos los pueblos». Con estas palabras, Jesús se dirige a cada uno de ustedes diciendo: «Qué bonito ha sido participar en la Jornada Mundial de la Juventud, vivir la fe junto a jóvenes venidos de los cuatro ángulos de la tierra, pero ahora tú debes ir y transmitir esta experiencia a los demás».

Jesús te llama a ser discípulo en misión. A la luz de la palabra de Dios que hemos escuchado, ¿qué nos dice hoy el Señor? Tres palabras: Vayan, sin miedo, para servir.

1. Vayan. En estos días aquí en Río, han podido experimentar la belleza de encontrar a Jesús y de encontrarlo juntos, han sentido la alegría de la fe. Pero la experiencia de este encuentro no puede quedar encerrada en su vida o en el pequeño grupo de la parroquia, del movimiento o de su comunidad. Sería como quitarle el oxígeno a una llama que arde.

La fe es una llama que se hace más viva cuanto más se comparte, se transmite, para que todos conozcan, amen y profesen a Jesucristo, que es el Señor de la vida y de la historia (cf. Rm 10,9).

Pero ¡cuidado! Jesús no ha dicho: si quieren, si tienen tiempo, sino: «Vayan y hagan discípulos a todos los pueblos». Compartir la experiencia de la fe, dar testimonio de la fe, anunciar el evangelio es el mandato que el Señor confía a toda la Iglesia, también a ti; es un mandato que no nace de la voluntad de dominio o de poder, sino de la fuerza del amor, del hecho que Jesús ha venido antes a nosotros y nos ha dado, no algo de sí, sino todo él, ha dado su vida para salvarnos y mostrarnos el amor y la misericordia de Dios.

Jesús no nos trata como a esclavos, sino como a hombres libres, amigos, hermanos; y no sólo nos envía, sino que nos acompaña, está siempre a nuestro lado en esta misión de amor.

¿Adónde nos envía Jesús? No hay fronteras, no hay límites: nos envía a todos. El evangelio no es para algunos sino para todos. No es sólo para los que nos parecen más cercanos, más receptivos, más acogedores. Es para todos. No tengan miedo de ir y llevar a Cristo a cualquier ambiente, hasta las periferias existenciales, también a quien parece más lejano, más indiferente.

El Señor busca a todos, quiere que todos sientan el calor de su misericordia y de su amor.

En particular, quisiera que este mandato de Cristo: «Vayan», resonara en ustedes jóvenes de la Iglesia en América Latina, comprometidos en la misión continental promovida por los obispos. Brasil, América Latina, el mundo tiene necesidad de Cristo.

San Pablo dice: «¡Ay de mí si no anuncio el evangelio!» (1 Co 9,16). Este continente ha recibido el anuncio del evangelio, que ha marcado su camino y ha dado mucho fruto. Ahora este anuncio se os ha confiado también a ustedes, para que resuene con renovada fuerza.

La Iglesia necesita de ustedes, del entusiasmo, la creatividad y la alegría que les caracteriza. Un gran apóstol de Brasil, el beato José de Anchieta, se marchó a misionar cuando tenía sólo diecinueve años. ¿Saben cuál es el mejor medio para evangelizar a los jóvenes? Otro joven. Éste es el camino que hay que recorrer.

2. Sin miedo. Puede que alguno piense: «No tengo ninguna preparación especial, ¿cómo puedo ir y anunciar el evangelio?». Querido amigo, tu miedo no se diferencia mucho del de Jeremías, un joven como ustedes, cuando fue llamado por Dios para ser profeta.

Recién hemos escuchado sus palabras: «¡Ay, Señor, Dios mío! Mira que no sé hablar, que sólo soy un niño». También Dios dice a ustedes lo que dijo a Jeremías: «No les tengas miedo, que yo estoy contigo para librarte» (Jr 1,6.. Él está con nosotros.

«No tengan miedo». Cuando vamos a anunciar a Cristo, es él mismo el que va por delante y nos guía. Al enviar a sus discípulos en misión, ha prometido: «Yo estoy con ustedes todos los días» (Mt 28,20). Y esto es verdad también para nosotros. Jesús no nos deja solos, nunca les deja solos. Les acompaña siempre.

Además Jesús no ha dicho: «Ve», sino «Vayan»: somos enviados juntos. Queridos jóvenes, sientan la compañía de toda la Iglesia, y también la comunión de los santos, en esta misión. Cuando juntos hacemos frente a los desafíos, entonces somos fuertes, descubrimos recursos que pensábamos que no teníamos. Jesús no ha llamado a los apóstoles a vivir aislados, los ha llamado a formar un grupo, una comunidad.

Quisiera dirigirme también a ustedes, queridos sacerdotes que concelebran conmigo en esta eucaristía: han venido para acompañar a sus jóvenes, y es bonito compartir esta experiencia de fe. Pero es una etapa en el camino. Sigan acompañándolos con generosidad y alegría, ayúdenlos a comprometerse activamente en la Iglesia; que nunca se sientan solos.

3. La última palabra: para servir. Al comienzo del salmo que hemos proclamado están estas palabras: «Canten al Señor un cántico nuevo» (95,1).

¿Cuál es este cántico nuevo? No son palabras, no es una melodía, sino que es el canto de su vida, es dejar que nuestra vida se identifique con la de Jesús, es tener sus sentimientos, sus pensamientos, sus acciones. Y la vida de Jesús es una vida para los demás. Es una vida de servicio.

San Pablo, en la lectura que hemos escuchado hace poco, decía: «Me he hecho esclavo de todos para ganar a los más posibles» (1 Co 9,19). Para anunciar a Jesús, Pablo se ha hecho «esclavo de todos».

Evangelizar es dar testimonio en primera persona del amor de Dios, es superar nuestros egoísmos, es servir inclinándose a lavar los pies de nuestros hermanos como hizo Jesús.

Vayan, sin miedo, para servir. Siguiendo estas tres palabras experimentarán que quien evangeliza es evangelizado, quien transmite la alegría de la fe, recibe alegría. Queridos jóvenes, cuando vuelvan a sus casas, no tengan miedo de ser generosos con Cristo, de dar testimonio del evangelio.

En la primera lectura, cuando Dios envía al profeta Jeremías, le da el poder para «arrancar y arrasar, para destruir y demoler, para reedificar y plantar» (Jr 1,10). También es así para ustedes. Llevar el evangelio es llevar la fuerza de Dios para arrancar y arrasar el mal y la violencia; para destruir y demoler las barreras del egoísmo, la intolerancia y el odio; para edificar un mundo nuevo. Jesucristo cuenta con ustedes. La Iglesia cuenta con ustedes.

El Papa cuenta con ustedes. Que María, Madre de Jesús y Madre nuestra, les acompañe siempre con su ternura: «Vayan y hagan discípulos a todos los pueblos». Amén.

sábado, 27 de julho de 2013

ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PAPA FRANCISCO A AUTORIDADES, DIPLOMATAS, POLÍTICOS E ARTISTAS


Theatro Municipal - Rio de Janeiro - 27/07/2013

"Excelências,
Senhoras e Senhores!
...
Agradeço a Deus pela possibilidade de me encontrar com tão respeitável representação dos responsáveis políticos e diplomáticos, culturais e religiosos, acadêmicos e empresariais deste Brasil imenso. Saúdo cordialmente a todos e lhes expresso o meu reconhecimento.

Queria lhes falar usando a bela língua portuguesa de vocês mas, para poder me expressar melhor manifestando o que trago no coração, prefiro falar em castelhano. Peço-vos a cortesia de me perdoar!

Agradeço as amáveis palavras de boas vindas e de apresentação de Dom Orani e do jovem Walmyr Júnior. Nas senhoras e nos senhores, vejo a memória e a esperança: a memória do caminho e da consciência da sua Pátria e a esperança que esta, sempre aberta à luz que irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da pessoa.

Todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nação, são chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade", como dizia o pensador brasileiro Alceu Amoroso Lima ["Nosso tempo", in: A vida sobrenatural e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106]. Queria considerar três aspectos deste olhar calmo, sereno e sábio: primeiro, a originalidade de uma tradição cultural; segundo, a responsabilidade solidária para construir o futuro; e terceiro, o diálogo construtivo para encarar o presente.

É importante, antes de tudo, valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade, os princípios fundamentais da sua vida, os critérios de juízo sobre as prioridades, sobre as normas de ação, assentam numa visão integral da pessoa humana.

Esta visão do homem e da vida, tal como a fez própria o povo brasileiro, muito recebeu da seiva do Evangelho através da Igreja Católica: primeiramente a fé em Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o próximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente valorizada! Ela pode fecundar um processo cultural fiel à identidade brasileira e construtor de um futuro melhor para todos. Assim se expressou o amado papa Bento 16, no discurso de abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida.

Fazer que a humanização integral e a cultura do encontro e do relacionamento cresçam é o modo cristão de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos da cultura humana: arte, ciência, trabalho, literatura... O cristianismo une transcendência e encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusão e o de encanto que invadem os corações e saltam para a rua.

O segundo elemento que queria tocar é a responsabilidade social. Esta exige um certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de política. Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos. O futuro exige de nós a tarefa de ralbilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro nos exige também uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir. Já no tempo do profeta Amós era muito forte a advertência de Deus: "Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível". Os gritos por justiça continuam ainda hoje.

Quem detém uma função de guia, permitam-me que diga, a quem a vida ungiu como guia, deve ter objetivos muito concretos, e buscar os meios específicos para consegui-los. Pode haver, porém, o perigo da desilusão, da amargura, da indiferença, quando as aspirações não se cumprem. Apelo à dinâmica da esperança incentiva a ir sempre mais longe, a empregar todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem se trabalha, aceitando os resultados e criando condições para descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperança.

A liderança sabe escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencê-los com a ousadia de ações corajosas e livres. No exercício da nossa responsabilidade, sempre limitada, é importante abarcar o todo da realidade, observando, medindo, avaliando, para tomar decisões na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro, refletindo sobre as consequências de tais decisões. Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Temos que provocá-lo, temos que inseri-lo na sociedade. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária.

Para completar o "olhar" que me propus, além do humanismo integral, que respeite a cultura original, e da responsabilidade solidária, termino indicando o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o diálogo construtivo. Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia. É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos.

Considero também fundamental neste diálogo a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressões concretas.

Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Essa atitude aberta e disponível, sem preconceitos, eu definiria como humildade social, que é o que favorece o diálogo. Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras livre de suposições gratuitas e no respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem, todos perdem. Por aqui, o caminho é fecundo.

Excelências, senhoras e senhores!

Agradeço-lhes pela atenção. Acolham estas palavras como expressão da minha solicitude de pastor da igreja e do amor que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre os homens e a colaboração para construir uma sociedade mais justa não constituem uma utopia, mas são o resultado de um esforço harmônico de todos em favor do bem comum. Encorajo os senhores no seu compromisso pelo bem comum, que exige da parte de todos sabedoria, prudência e generosidade.

Confio-lhes ao pai do céu, pedindo-lhe, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, que cumule de seus dons a cada um dos presentes, suas respectivas famílias e comunidades humanas de trabalho e, de coração, a todos concedo a minha bênção".

TEXTO DA HOMILIA DO PAPA EM MISSA NA CATEDRAL METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO (27/07/2013)

"Amados Irmãos em Cristo,

vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor. Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia  (coragem, ousadia) de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo e se tornem construtores de um mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.
 
1. Chamados por Deus: Creio que é importante reavivar em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia-a-dia: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos Jesus. Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Temos que nos lembrar sempre deste primeiro chamado. Fomos chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus, unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim. Este viver em Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em Cristo é justamente o que garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: Eu vos designei para irdes e para que produzas fruto e o vosso fruto permaneça. Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, isso ajuda e muito, mas temos que ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. E nós sabemos bem o que isso significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e no abraço às pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: Devemos estar muito orgulhosos da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nas favelas, nos cantegriles, nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; que procuremos fixar sempre mais n’Ele o nosso coração.
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Muitos de vocês, queridos bispos e sacerdotes senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles também ouviram as palavras do mandato de Jesus: Ide e fazei discípulos entre todas as nações. É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o desejo de serem discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser missionário significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Deus quer que sejamos missionários onde estivermos. Deus me mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência de ser batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e os amigos. Não poupemos forças na formação da juventude. Os jovens precisam ser escutados. Temos que ajudá-los e ter a paciência de escutar. São Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristãos: Meus filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado em vós”. Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso ministério. Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou. Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho. Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta afora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a cultura do descartável. Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois dogmas modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e também vocês seminaristas, que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente desta cultura. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade, palavra escondida nessas culturas, e a fraternidade são os elementos que tornam a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos neste aspecto. Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la.
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o Evangelho e promover com alegria a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu exemplo daquele afeto  maternal de que deve estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de regenerar os homens. Não podemos esquecer das pessoas da periferia que tem sede de Deus. Que sejamos discípulos do Senhor e concedamos a todos esta graça".

TEXTO DA REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO NA VIA SACRA EM COPACABANA - RJ (26 de julho de 2013)

"Queridos jovens,

Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial d...a Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: "Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção" (Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamenti VII,1 [1984], 1105). A partir de então a cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso país? E o que terá deixado a cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta cruz ensina para a nossa vida?

1. Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: "Para onde vais, Senhor?". E a resposta de Jesus foi: "Vou a Roma para ser crucificado outra vez". Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho. Na cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo 3,16).

2. E assim podemos responder à segunda pregunta: o que foi que a cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta Encíclica Lumen fidei, 16)! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida.

O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa Cruz". A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.

3. Mas a cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres... Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria?

Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz de Cristo; encontraremos um coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

PRMEIRO DISCURSO DO PAPA EM COPACABANA (25/07/2013)

"Queridos jovens,
Boa tarde!

Vejo em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo e meu coração se enche de alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial da Juventude a nível internacional.... Foi celebrada em 1987 na Argentina, na minha cidade de Buenos Aires. Guardo vivas na memória estas palavras do Bem-aventurado João Paulo II aos jovens: «Tenho muita esperança em vocês! Espero, sobretudo, que renovem a fidelidade de vocês a Jesus Cristo e à sua cruz redentora» (Discurso aos jovens (11 de abril de 1987): Insegnamenti, X/1 (1987), 1261).

Antes de continuar, queria lembrar o trágico acidente na Guiana francesa, no qual a jovem Sophie Morinière perdeu a vida, e que deixou outros jovens feridos.

Convido-lhes a fazer um minuto de silêncio e dirigir ao Senhor a nossa oração por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.

Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez, à América Latina. E vocês, jovens, responderam numerosos ao convite do Papa Bento XVI, que lhes convocou para celebrá-la. Agradecemos-lhe de todo coração! O meu olhar se estende por esta grande multidão: vocês são muitíssimos! Vocês vêm de todos os continentes! Normalmente vocês estão distantes não somente do ponto de vista geográfico, mas também do ponto de vista existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocês estão aqui, ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para partilhar a fé e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discípulos. Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu coração vivo e jovem, pois vocês responderam com generosidade e coragem ao convite que Jesus lhes fez de permanecerem com Ele, de serem seus amigos.

O "trem" desta Jornada Mundial da Juventude, veio de longe e atravessou toda a Nação brasileira seguindo as etapas do projeto «Bote Fé». Hoje chegou ao Rio de Janeiro. Do Corcovado, o Cristo Redentor nos abraça e abençoa. Olhando para este mar, para a praia e todos vocês, me vem ao pensamento o momento em que Jesus chamou os primeiros discípulos a segui-lo nas margens do lago de Tiberíades. Hoje Jesus ainda pergunta: Você quer ser meu discípulo? Você quer ser meu amigo? Você quer ser testemunha do meu Evangelho? No coração do Ano da Fé, estas perguntas nos convidam a renovar o nosso compromisso de cristãos. Suas famílias e comunidades locais transmitiram a vocês o grande dom da fé; Cristo cresceu em vocês. Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo entusiasmo da fé de vocês!

Saúdo a todos com muito carinho. A vocês, aqui congregados dos cinco Continentes e, por meio de vocês, a todos os jovens do mundo, particularmente aqueles que não puderam vir ao Rio de Janeiro, mas estão em ligação conosco através do rádio, televisão e internet, digo: Bem-vindos a esta grande festa da fé! Em várias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jovens estão reunidos para viver juntos este momento: sintamo-nos unidos uns com os outros, na alegria, na amizade, na fé. E tenham a certeza: o meu coração de Pastor abraça a todos com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanha do Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.

Quero saudar o Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, estimado Cardeal Estanislau Rylko, e todos aqueles que com ele trabalham. Agradeço a Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela cordialidade com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para preparar esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas dioceses desse imenso Brasil. Agradeço a todas autoridades nacionais, estaduais e locais, além de outros envolvidos, para concretizar esse momento único de celebração da unidade, da fé e da fraternidade. Obrigado aos Irmãos no Episcopado, aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e fieis que acompanham os jovens de diferentes partes do nosso planeta, na sua peregrinação rumo a Jesus. A todos e a cada um meu abraço afetuoso no Senhor.

Irmãos e amigos, bem-vindos à vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro!"

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NO HOSPITAL SÃO FRANCISCO DE ASSIS, RIO DE JANEIRO (24/07/2013)



"Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o... Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta Enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu.

"Abraçar, abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como fez São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.

"Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!

"No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Quantas vezes nós dizemos: não é um meu problema! Quantas vezes olhamos para o outro lado e fingimos que não vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.

"E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo. Obrigado!"