segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SEXUALIDADE E REALIZAÇÃO HUMANA

"A sexualidade é uma das maiores riquezas do ser humano; a realização deste está intimamente ligada a ela. Vivê-la com equilíbrio e maturidade é hoje o grande desafio. As mudanças trazidas pela modernidade e... pela pós-modernidade introduziram padrões e comportamentos que mudaram a forma de viver a sexualidade. A visão fragmentada da modernidade e as manifestações miniaturizadas da pós-modernidade tendem a reduzir o seu potencial e a banalizar o seu valor. A Igreja Católica, por sua vez, propõe uma visão integral do ser humano, na qual a sexualidade é parte integrante de todo o seu ser; capta a sua riqueza, sendo ela um bem; busca vivê-la no amor, no dom de si, buscando sempre o bem das pessoas e da sociedade. Assim, a sexualidade torna-se fonte de realização e de comunhão entre as pessoas e com o próprio Deus".

Frei Nilo Agostini, ofm

POR UM EQUILÍBRIO DINÂMICO DA CRIAÇÃO

"A consciência dos limites da natureza leva-nos a sublinhar a interação ser humano-natureza, numa atitude participante, na qual nos sentimos parte de uma teia de relações inclusivas. No entanto, persiste uma atitude depredadora que 'desnatura' a criação, fazendo ecoar muito forte a crise ecológica, que nos reenvia à crise do humano, verdadeira crise civilizatória e ética. Vivemos num desequilíbrio vital grave. Importa reassumirmos a criação, reorientarmos o lugar que nela ocupamos como humanos, numa rede multifacetária de relações. Soou a hora de uma ética capaz de levar-nos a integrar o equilíbrio dinâmico da criação, na teia das relações globais, lastreados na co-responsabilidade. Isto significa engajarmo-nos em favor de todo ser vivente, em favor das gerações futuras, situando-nos parte da criação, gestando uma nova síntese 'Deus-ser humano-natureza'".

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

TEXTOS SELECIONADOS DA ENTREVISTA DO PAPA NO RETORNO DO BRASIL PARA A ITÁLIA (2013-07-30 Rádio Vaticana)


Cidade do Vaticano (RV) – Depois de uma verdadeira maratona, repleta de atividades no Rio de Janeiro, por ocasião da JMJ, Papa Francisco se encontra no Vaticano.

Durante a viagem de retorno a Roma, Papa Francisco concedeu uma longa entrevista aos jornalistas, que viajavam com ele no mesmo avião. Em cerca de quase uma hora e meia, o Pontífice fez um balanço da sua viagem ao Brasil, falando, em italiano, aos jornalistas, com total liberdade:

Vamos apresentar a vocês, amigos ouvintes, parte desta longa entrevista que o Papa Francisco concedeu aos jornalistas acreditados junto à Santa Sé.

Sob a direção do Padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa de Santa Sé, 21 jornalistas, doze homens e 9 mulheres, fizeram suas perguntas ao Papa, em seis línguas: português, espanhol, italiano, francês e inglês.

O jornalista Juan de Lara, da agência de notícias EFE, perguntou em espanhol: “Que tipo de reforma o senhor pretende fazer, no que se refere ao IOR, o Banco do Vaticano?
“Os passos, que comecei a dar nestes quatro meses e meio de Pontificado, provêm de duas vertentes: a primeira é das reuniões gerais dos Cardeais, sobre as muitas coisas que o novo Papa deveria fazer, como a de criar uma Comissão de Cardeais para uma consulta outsider. Estes oito Cardeais favorecem o aspecto sinodal, ou seja, são interlocutores dos episcopados do mundo no governo da Igreja. Além da reforma do IOR, são muitas as propostas de reforma dos Organismos Vaticanos, como por exemplo: a metodologia da Secretaria do Sínodo dos Bispos; o caráter permanente da consulta da Comissão pós-sinodal; as temáticas dos Consistórios, que não devem ser tão formais etc. A segunda vertente refere-se à oportunidade. Por enquanto, constitui uma Comissão de oito Cardeais, mas queria tratar da parte econômica no próximo ano, porque não era tão importante no momento. Mas, devido às circunstâncias, como todos sabem, tivemos que enfrentar alguns problemas concernentes ao IOR: como dirigi-lo, delineá-lo, reformulá-lo. Por isso, constituímos uma Comissão de Referência, com um quirógrafo e seus membros integrantes. Enfim, tivemos a reunião de quinze Cardeais, de diversos Países, encarregados dos aspectos econômicos da Santa Sé”.

Em nome do grupo de jornalistas de língua inglesa, um representante da Reuters perguntou ao Santo Padre: “Em algumas das suas afirmações, o senhor tem dito que no Vaticano trabalham muitas pessoas santas, mas também algumas menos santas, que colocam resistência ao seu desejo de renovar e mudar o Vaticano. Por exemplo o fato de permanecer residindo na Casa Santa Marta, ao invés do Palácio Apostólico. O senhor gostaria que seus colaboradores, inclusive os Cadeais, seguissem seu exemplo de austeridade ou é uma escolha apenas pessoal?
“As mudanças também provêm de duas vertentes: as que os Cardeais pedem e as que eu gostaria de fazer, pessoalmente. Eu quis ficar na Casa de Santa Marta, porque não conseguiria viver sozinho no Palácio Apostólico: embora ele seja espaçoso e não tão luxuoso, eu não posso viver sozinho com um pequeno grupo de colaboradores. Preciso estar no meio da gente, encontrar a gente, falar com a gente... Não é por austeridade ou pobreza, mas simplesmente por questões psicológicas. Cada um tem seu estilo de vida e de ação... Os Cardeais que conheço, moram em apartamentos simples e austeros no Vaticano... É justo que cada um deve viver como o Senhor quer... a austeridade é exigida, sobretudo, para aqueles que vivem a serviço da Igreja... existem tantos aspectos da austeridade, mas cada um deve seguir o caminho que é mais oportuno... Em relação às pessoas santas é verdade: existem tantos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, leigos que são realmente santos! Trata-se de gente que reza, que trabalha muito e que se dedicada aos pobres, mesmo no escondimento. Sei de alguns que, no tempo livre, vão dar de comer aos famintos, mas, depois, voltam a exercer seu ministério na igreja ou em outros lugares... Também na Cúria há pessoas santas, mas há alguns menos santos, que fazem mais barulho, causam escândalo, praticam o mal. Vocês sabem que “faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce”! Pessoalmente, acho que a Cúria Romana decaiu um pouco, em relação aos antigos curiais, que trabalhavam seriamente Precisamos de gente assim! Na verdade, até agora encontrei mais ajuda que resistência! Eu gosto de pessoas que dizem “que não concordam”. Isto não quer dizer fazer resistência! Este sim pode ser um bom colaborador, ao invés daquele que sempre diz “que bom, que bonito” e depois age ao contrário!

Uma representante da Rádio Renascença, de Portugal, Aura Miguel, perguntou ao Papa: “Por que o senhor pede tanto orações aos fiéis para a sua pessoa... a gente não está acostumada a ouvir um Papa que pede tantas orações para si...”.
“Eu sempre fiz este pedido, mesmo quando era sacerdote, embora de maneira não muito frequente... comecei a pedir, de modo mais insistente, quando exercia a missão de bispo, porque, se o Senhor não ajudar no trabalho com o Povo de Deus, a pessoa não consegue ir adiante. Eu tenho tantas limitações, tantos problemas, mesmo como pecador... eis porque tenho que pedir orações aos fiéis. Esta é uma coisa que nasce espontaneamente dentro de mim... Eu também peço a Nossa Senhora, pra que interceda por mim junto a Deus”.

Depois, uma jornalista brasileira, Patrícia Zorzan, tomou a palavra, em nome dos jornalistas brasileiros, dizendo: “A sociedade mudou e os jovens também, mesmo no Brasil. Mas, durante a JMJ o senhor não falou sobre o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por que?
“A Igreja já se expressou perfeitamente a este respeito. Por isso, não era necessário voltar sobre este assunto, como também não falei sobre corrupção e outras coisas, sobre as quais a Doutrina da Igreja é muito clara! Sei que isto interessa aos jovens, mas achei que deveria falar mais de coisas positivas, que pudessem ajudar os jovens em seu caminho de fé. Eles sabem muito bem qual é a posição da Igreja sobre tais temas. Eu sou filho da Igreja e, por isso, a minha posição é a mesma da Igreja”.

Em nome dos nove jornalistas de língua francesa, Antoine-Marie Izoard perguntou ao Santo Padre: “Desde o início do seu Pontificado, 13 de março, o senhor insiste em afirmar que é Bispo de Roma. Isto significa colegialidade, ecumenismo?
“Sim, de fato, mas não devemos ir além do que se diz, pois o Papa é Bispo; é Bispo de Roma por ser o Sucessor de Pedro, Vigário de Cristo... há outros títulos, mas o principal é este: “Bispo de Roma”. Daí vêm os demais títulos, que podem favorecer o que você diz sobre ecumenismo etc... Ser Bispo é belo! O problema nasce quando alguém pretende ser Bispo, para ser superior aos outros, não como os outros... querendo ser Príncipe... Assim, pode-se correr o risco de cair em pecado. Mas a missão do Bispo é maravilhosa, pois confirma os fiéis na fé, os ajuda a trilhar na fé. O Bispo deve viver em comunhão com o seu rebanho. Eu gosto muito de ser Bispo. Em Buenos Aires eu era muito feliz como sacerdote e depois como Bispo. E agora, faço a vontade de Deus como Papa, Bispo de Roma”.

Uma jornalista norte-americana da CNN, Ada Messia, perguntou ao Papa: “No encontro com os argentinos, na Catedral de Rio de Janeiro, o senhor falou, brincando ou seriamente, que, às vezes, se sente “enjaulado”. O que queria dizer, exatamente?
“Você sabe quantas vezes eu gostaria de sair pelas ruas de Roma, como fazia em Buenos Aires? Lá eu era chamado de “padre ruador” porque gostava de sair... É neste sentido que eu me sinto um pouco enjaulado... Quanto são bons os gendarmes do Vaticano, que me permitem sair um pouco dos esquemas protocolares... me deixam fazer um pouco mais do que eu deveria... Claro, entendo que o dever deles é cuidar da minha segurança. Por isso, eu lhes agradeço e entendo que não é possível sair sozinho pelas ruas de Roma”.

Entre os jornalistas brasileiros, Márcio Campos, que representa os demais colegas do Diário, do Estado, da Globo, perguntou ao Papa Bergoglio: “A Igreja católica no Brasil perdeu muitos fiéis nestes últimos anos. O senhor acha que o Movimento da Renovação Carismática poderia ser um meio para evitar este êxodo para as Igrejas pentecostais?
“È verdade o que você diz sobre a queda dos fiéis, mas, sobre estas estatísticas, conversei com os Bispos do Brasil... Para dizer a verdade, no fim dos anos Sessenta, eu não podia ver e nem falar do Movimento da Renovação Carismática. Uma vez, comentando sobre seus membros, eu até disse: “Eles confundem a celebração litúrgica com uma escola de samba”. Eu disse, mas me arrependi, depois que os conheci. Eles percorreram tanta estrada e fizeram também muito bem à Igreja, em geral. Hoje, acho que os Movimentos na Igreja são muito necessários: são uma graça do Espírito Santo; eles podem ajudar a manter os fiéis na Igreja, mas devem servir à Igreja. Cada um se insere no Movimento eclesial segundo o próprio carisma, segundo a inspiração do Espírito“.

A jornalista francesa, Guénois, representante dos jornais Le Figaro e Le Croix, perguntou ao Papa: “O senhor fala sobre a importância da mulher na Igreja. Quais as medidas concretas o senhor vai tomar: criar um diaconato feminino ou colocar alguma mulher como chefe de Organismos vaticanos?
“Uma Igreja sem mulheres é como um Colégio apostólico sem Maria. A função da mulher na Igreja não é somente a de maternidade, de mãe de família, de doméstica, mas é bem maior. Ela deve ser como o ícone de Nossa Senhora: aquela que ajuda a Igreja a crescer! Vocês não acham que Maria era maior que os Apóstolos? De fato, ela era mais importante que eles! O papel das mulheres na Igreja não deve ser limitado. Os Papas falaram sobre a sua função e carisma em âmbito eclesial. Não se pode conceber uma Igreja sem as mulheres, sem a sua atividade! Na Igreja, deve-se pensar à mulher na perspectiva de escolhas mais ousadas. Seria preciso uma profunda teologia sobre a mulher na Igreja! Mas, a respeito de uma eventual ordenação de mulheres, a Igreja se declara contrária. No entanto, repito: Maria era mais importante que os Apóstolos, bispos, diáconos e sacerdotes. Eis porque acho que deve haver uma teologia sobre as mulheres, para dar uma maior explicação teológica sobre a sua presença e função na Igreja!”. (MT)