terça-feira, 31 de julho de 2018

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO À CONFERÊNCIA MUNDIAL DE ÉTICA TEOLÓGICA DE SARAJEVO


Cidade do Vaticano – O Papa Francisco enviou uma Mensagem, nesta sexta-feira (27/7), aos participantes da III Conferência mundial sobre “Ética teológica católica na Igreja”, que se realiza, até o próximo domingo (29/7), em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina. O tema dos trabalhos, que se iniciaram nesta quinta-feira (26/7), é “Um momento crítico para a construção de pontes: ética teológica católica, hoje”.

Em sua Mensagem, o Santo Padre recorda que, Sarajevo é uma cidade repleta de valor simbólico para o caminho de reconciliação e pacificação, depois dos horrores de uma guerra recente, que causou tantos sofrimentos aos seus povos.

Sarajevo, diz ainda o Papa, é uma cidade de pontes. Por isso, esta Conferência mundial quis inspirar-se neste símbolo para reconstruir, em um clima de divisões e tensões, novos caminhos de aproximação entre povos, culturas, religiões, visões da vida, orientações políticas.

O tema deste encontro, afirma Francisco, coloca-se em uma perspectiva, sobre a qual ele mesmo se referiu, várias vezes, ou seja, “construir pontes e não muros”. Trata-se de colher todos os sinais, sem renunciar à prudência, e mobilizar todas as energias para eliminar do mundo os muros da divisão e construir pontes de fraternidade.

Com efeito, os pontos focais da Conferência cruzam-se, no fundo, com este caminho de construção de pontes, em uma época crítica como a nossa.

O desafio ecológico, recordou o Papa, é colocado pelos conferencistas ao centro da atenção, porque contém aspectos que podem causar graves desequilíbrios, não só entre o homem e a natureza, mas também nas relações entre as gerações e entre os povos. Tal desafio refere-se ao horizonte de compreensão da ética ecológica e da ética social.

Por isso, a referência que os conferencistas fazem em seu encontro sobre o tema dos migrantes e refugiados, é muito oportuna para Francisco porque é um tema muito sério, que leva a uma profunda reflexão ético-teológica, antes de sugerir ações pastorais adequadas e praxes políticas responsáveis e conscientes.

Em um cenário tão complicado e complexo é preciso uma liderança renovada, que ajude a descobrir um modo mais justo de viver no mundo, como participantes de um destino comum.

A ética teológica, afirma o Papa, oferece uma contribuição específica para que, nos cinco Continentes, haja uma rede de reflexão ética, em chave teológica, para encontrar recursos novos e eficazes para o drama humano, que seja acompanhado com cuidado misericordioso, diálogo e confronto.

Neste sentido, o Santo Padre citou seu documento “Veritatis gaudium”, onde propõe critérios sobre a importância do diálogo que está à base da abertura inter e transdisciplinar e indica a necessidade urgente de “tecer redes” entre as instituições que cultivam e promovem estudos eclesiológicos.
Francisco concluiu sua Mensagem fazendo um apelo aos conferencistas, que são cultores da ética teológica, encorajando-os a se dedicarem com afinco ao diálogo e ao lançamento de redes. Desta forma, poderão aprender a ser fiéis à Palavra de Deus, que nos interpela na história, e à solidariedade com o mundo, propondo meios e instrumentos para aliviar as feridas e fragilidades humanas.

domingo, 22 de julho de 2018

NELSON MANDELA: O PAPA CONVIDA A CONSTRUIR UMA CIVILIZAÇÃO DO AMOR


A mensagem do Papa no Twitter para o Dia Internacional dedicado a Mandela: "Jesus nos convida a construir juntos a civilização do amor nas situações em que vivemos todos os dias".
Cidade do Vaticano
Celebra-se neste 18 de julho o Dia Internacional Nelson Mandela, que este ano recorda o 100º aniversário do nascimento do líder sul-africano e vencedor do Prêmio Nobel da Paz.

No Twitter, o Papa Francisco recordou a data com a seguinte mensagem: "Jesus nos convida a construir juntos a civilização do amor nas situações em que vivemos todos os dias".
Em mensagem para a ocasião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, diz que Mandela “foi um grande defensor global da justiça e da igualdade” e que “continua a inspirar o mundo com seu exemplo de coragem e compaixão”.

O caminho a seguir
António Guterres lembra que o ex-presidente da África do Sul “foi mantido em cativeiro por muitos anos”, mas que “nunca se tornou prisioneiro de seu passado”.
Em vez disso, Mandela “colocou sua energia na reconciliação e em sua visão de uma África do Sul pacífica, multiétnica e democrática”.
O secretário-geral diz que este dia serve para comemorar “uma vida inteira de serviço” e que “raramente uma pessoa na História fez tanto para estimular os sonhos das pessoas e movê-las para a ação”.
Guterres acredita que essa luta pela igualdade, dignidade e justiça continua. Segundo ele, o legado de Madiba, como o líder ficou conhecido, mostra o caminho a seguir.

Celebração
Este ano, a Fundação Nelson Mandela dedica o Dia à ação contra a pobreza.
Segundo a fundação, o objetivo é “honrar a liderança e devoção de Nelson Mandela no combate à pobreza e na promoção de justiça social para todos”.
Na sede da ONU, em Nova Iorque, uma exposição destaca as principais contribuições de Mandela para a paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável. A exposição foi inaugurada em 9 de julho e pode ser visitada até 2 de setembro. A ONU também emitiu um selo em homenagem ao centenário de Mandela.
Estabelecido em 2009 pela Assembleia Geral, este Dia convida todos a fazerem a diferença nas suas comunidades.
A ONU diz que o centenário é “uma ocasião para refletir na sua vida e legado, e para seguir a sua chamada para tornar o mundo um lugar melhor”.

O povo no coração
Passados cinco anos de sua morte, Madiba permanece vivo sobretudo na memória das pessoas que o conheceram, como George Johannes, embaixador da África do Sul junto à Santa Sé.
“A sua herança é o testemunho de que não importa quanto seja desesperadora ou difícil uma situação. Se há determinação e vontade, é possível dialogar e chegar a uma solução. Nós chamamos isso de ‘efeito Mandela’”, declarou o embaixador ao Vatican News.
O diplomata recorda Nelson Mandela com afeto. “Ele foi um dos primeiros a dizer: deem metade do meu salário aos pobres. Um dia, estávamos juntos no carro e eu pedi para ver suas mãos, endurecidas pelos anos de trabalho forçado quebrando pedras em Robben Island. E ele me disse: ‘Se você se tornar um político, deve ter sempre o povo no coração’.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2018-07/nelson-mandela-paz.html 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

SEJAMOS MAIS LÚCIDOS E PROATIVOS!

Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

A Copa do Mundo tem envolvido um terço da população do planeta, com um custo altamente bilionário. O sistema empresarial em torno da bola e dos 265 milhões de jogadores profissionais e amadores, em todo o mundo, gera lucros gigantescos. O futebol mundial não foi, no entanto, idealizado dessa forma capitalista pelo católico humanista francês, Jules Rimet, ao criar a Copa do Mundo, sendo a primeira, realizada no Uruguai, em 1930.

Quando criança, ele foi “coroinha” na Igreja de sua aldeia. Em meio a uma grande crise econômica da Europa, sua família mudou-se para Paris, em busca de dias melhores. Ele e seus amigos, influenciados pela primeira Encíclica Social da Igreja Católica, chamada Rerum Novarum (Coisas Novas), do Papa Leão XIII, publicada em 1891, se tornaram jovens idealistas em favor dos trabalhadores assolados pela exploração e pela miséria.

Inspirados por essa Encíclica, eles fundaram uma associação de assistência social e médica aos mais pobres. Ele tornou-se advogado, dedicando se sempre à caridade. Amante do futebol, tomou a iniciativa de promover esse esporte para unir pessoas, especialmente os mais pobres. Fundou, então, um clube aberto a qualquer pessoa, sem discriminação étnica e social, com o objetivo de promover convivência saudável.

Motivado pela possibilidade dos esportistas cultivarem um bom relacionamento, em lugar de “ódio em seus corações e insultos em seus lábios”, como dizia, ele fomentou o futebol, até então, desprezado por ser considerado esporte de classe baixa. Em 1904, ele participou da fundação da Federação Internacional de Futebol (FIFA). O plano dessa associação de organizar uma Copa do Mundo foi frustrado pela primeira guerra mundial, entre 1914 e 1918.

Após a guerra, tornando-se presidente da FIFA, ele se dedicou ao ideal de tornar o futebol um meio de congraçamento entre povos. Esse destino, no entanto, não se tornou tão promissor, pois o futebol incorporou a lógica mercantilista, se tornou objeto de investimento capitalista e corrupção dos próprios dirigentes de futebol, inclusive da FIFA, e passou a ser um instrumento alienador, nocivo à vida sócio-política, pois seu fanatismo passou a anestesiar consciências.

No Brasil, por exemplo, é difícil encontrar alguém que não saiba o nome do técnico da seleção. Mas, poucos sabem os nomes dos ministros do trabalho, da educação e da saúde, e como eles atuam. Enquanto milhões de brasileiros se fanatizam pela seleção, o Congresso aprova leis que lesam a classe trabalhadora e retiram direitos sociais, com informações ínfimas dos meios de comunicação, se comparadas às jogadas futebolísticas mostradas e comentadas com detalhes.

Estamos em processo eleitoral. São poucos, no entanto, os brasileiros esclarecidos e ativos nesse processo. Neste ano, coincidentemente, dedicado pela Igreja ao laicato, qual tem sido a postura dos cristãos leigos e leigas, vocacionados a atuarem, primordialmente, na vida pública? Estão, realmente, fazendo jus à missão confiada por Cristo de serem “sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13-16), construindo projetos coletivos com impacto sócio-político positivo?

Se os belos ideais do criador da Copa do Mundo não foram assegurados por sua própria ingenuidade sócio-política, o que dizer de quem sequer tem ideais sociais? Desafiados a mudar a cultura mercantilista, inspiremo-nos no bom combate do Apóstolo Paulo, travado com fé lúcida (cf. 2Tm 4,7). Que tal, então, sermos mais esclarecidos e proativos politicamente? Senão, mesmo ganhando Copas do Mundo não conquistaremos melhores condições de vida.
Jales, 28 de junho de 2018.


Fonte: http://www.radioassuncao.com.br/colunistas/sejamos-mais-lucidos-e-proativos