terça-feira, 25 de setembro de 2018

ELEIÇÕES 2018: REFLEXÃO SOBRE O MOMENTO ATUAL

São Paulo, 24 de setembro de 2018.
Nós, frades franciscanos que compõem o Conselho de Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, da Ordem dos Frades Menores, reunidos em São Paulo neste dia 24 de setembro, atentos ao compromisso irrenunciável que assumimos com o Evangelho por força de profissão, julgamo-nos no dever de nos pronunciar acerca do momento crucial que estamos vivendo enquanto nação.
Causa-nos imensa preocupação o modo pelo qual opções centrais de nossa democracia e dos direitos conquistados pelo povo a partir de muita luta e organização têm sido colocados em cheque por uma postura aventureira e irresponsável que se vale de feridas há muito plantadas no coração dos brasileiros por aqueles que desejam semear o medo, o ódio, as rixas e incompreensões a fim de manter intactos seus interesses egoístas e excludentes. Sendo assim, manifestamos com total clareza e abertura ao diálogo alguns pontos que nos parecem de fundamental importância como critérios para escolha dos candidatos a ocupar os cargos que devem (ou deveriam) ser exercidos em favor da totalidade.
1) Combate à violência
Inicialmente, deixamos claro que, para além de um combate à violência, precisamos investir com seriedade na promoção de uma Cultura de Paz. Todo discurso que prega o aumento do poderio bélico e policial, a facilitação do acesso às armas e a adoção da vingança em lugar da justiça é ilusório e enganador. Acreditamos que toda ação criminosa deva ser respondida com o mecanismo da lei. Por outro lado, também sabemos que os crimes de maior potencial ofensivo (desvios milionários de verbas públicas, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, gerenciamento do tráfico de armas e drogas) não se realizam nas periferias e favelas, mas em locais de luxo, ostentação e riqueza, geralmente protegidos por forte aparato de segurança. Armar a população ou investir em forças policiais repressivas só aumentará os já alarmantes números da mortalidade de pobres nos lugares abandonados pelo poder público.
Positivamente, acreditamos na força de uma educação de qualidade, na promoção das pessoas através da cultura, do esporte, da ciência, na possibilidade de acesso ao trabalho, no acesso à habitação, saúde e saneamento básico, na parceria entre instituições do Estado (inclusive a polícia) e as comunidades como meios eficazes de promoção da paz e prevenção da violência.
2) Trabalho e emprego
As leis trabalhistas são fruto de uma caminhada de amadurecimento do país e têm o objetivo de garantir aos trabalhadores uma proteção mínima diante das inseguranças de um mercado instável que se rege pelo lucro. Reconhecemos a necessidade de que os negócios sejam viáveis para os empregadores, mas acreditamos que existam outros meios, pautados na solidariedade e na partilha, para garantir o futuro dos empreendimentos sem que necessariamente se coloque o ônus sobre a parte mais fraca da relação, no caso, o trabalhador.
3) Superação da corrupção
Acreditamos num trabalho sério, isento e coletivo para vencermos este mal enraizado em nossa sociedade. É preciso haver investimento em mecanismos que garantam a isenção dos processos especialmente diante da força corruptora do poder econômico.
4) Atenção aos que vivem em vulnerabilidade
O dever do Estado também é priorizar o atendimento àqueles que vivem em situações de vulnerabilidade, como povos indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, crianças e idosos abandonados, pessoas com deficiência, imigrantes e todos os que vivem à margem da pobreza. Promover a autonomia e garantir a defesa da vida em todas as suas etapas e circunstâncias é tarefa irrenunciável dos governantes eleitos pelo povo.
5) Promoção do diálogo e da participação popular
Quanto maior a participação de diferentes setores da sociedade, maior a possibilidade de construirmos um país mais justo e solidário. A esperança de um futuro melhor não deve se pautar apenas do ponto de vista de alguns, mas num trabalho conjunto onde todos, dialogando e cedendo no que for necessário, empenhem-se para a verdadeira construção do bem comum.
Esperamos que, no exercício democrático do voto, o povo brasileiro tenha consciência para buscar aqueles que de fato estão comprometidos com um projeto inclusivo e realmente transformador para nosso país. Que o empenho seja, de fato, na direção de garantir a todos justo e real acesso aos três direitos básicos apontados pelo Papa Francisco: teto, trabalho e terra.
Fraternalmente,
Frades do Conselho de Evangelização da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
Fonte: http://franciscanos.org.br/?p=172347 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

REFLETINDO EM FAMÍLIA SOBRE O ATUAL MOMENTO QUE ANTECEDE AS ELEIÇÕES

As reflexões que seguem foram inicialmente compartilhadas, nos dias 20 e 21 de setembro de 2018, com a Família Agostini, a nível de Brasil, coligando os mais diversos ramos que se espalham por este País. O momento atual, que antecede as eleições de outubro próximo, requer algumas ponderações. Vejam.

1. Nós viemos da Itália passando fome. Éramos pobres, forasteiros neste mundo. Mas encontramos um país que nos acolheu. As condições encontradas aqui, mesmo muito difíceis, abriram caminho para, com trabalho e suor, construir uma vida digna. A nação que aqui encontramos é complexa desde os primeiros dias, quando foi dividida e entregue a 13 capitanias hereditárias. Herdamos desafios imensos de um tempo em que nós não estávamos sequer aqui. Mas fomos acolhidos por esta terra, vindos da fome e da pobreza. Ao crescer e construir a nossa vida nesta terra, o desafio passou a ser assumir juntos, com o povo daqui, os destinos desta nação. Este povo, mesmo trabalhando, não tem conseguido construir condições de vida digna para todos. Nas últimas décadas, no entanto, conseguimos escrever uma Carta Magna (a Constituição de 1988) que elegeu a democracia participativa como a forma adequada para construirmos juntos a nossa convivência, sem exclusões. Nós, esfomeados do passado, estamos sendo convidados a sermos solidários com os esfomeados de hoje.

2. O Brasil construiu uma economia forte. Eita povo trabalhador! O desenvolvimento econômico é impressionante, mas o progresso social não acompanhou o mesmo ritmo. Isso traz como consequência a persistente desigualdade social ou até o aprofundamento da mesma. Se hoje formamos uma mesma e única nação, este fato não pode ser desconhecido. O desafio é como organizar um espaço social tão cheio de desafios; não há como fazê-lo senão através da política. Mas qual política? Como somos plurais e marcados pela diversidade, escolhemos a manifestação livre, com direito de também nos organizarmos livremente, assinalando que melhor é fazê-lo de forma participativa. Ocorre que a democracia não é pacote pronto; é construção histórica. O desafio é crescer em termos de consciência participante e amadurecer como nação solidária. Somos ainda crianças em termos de democracia, melhor talvez adolescentes. E enquanto tais, ante o desafio da maturação, que se abre diante do desconhecido, temos por vezes a tentação e nos refugiar na infância; outra possibilidade ou chance é a de crescer em maturidade. O que fazer? Voltar à infância ou, desafiados, buscar a maturidade? Vamos assumir de maneira emancipada e livre os destinos de nosso país ou, infantilizados, delegamos a alguém outro que o faça em nosso lugar? Crescer em maturidade, democraticamente falando, requer diálogo e construção de consensos; isto faz com que a política seja a oportunidade de organizar o espaço social com a participação de todos na busca do bem comum e do respeito da dignidade humana, bem como de outros valores daí decorrentes. Mas aí aparecem obstáculos.

3. Trata-se de focar aqui os obstáculos à democracia. Destaco apenas dois para a nossa reflexão, ciente de que há outros. Os obstáculos que mais comprometem a democracia ficam escancarados quando caímos no sectarismo e no fanatismo. O sectarismo costuma aparecer sob uma forma altamente emocional; e, por isso, torna-se acrítico e adota as meias verdades dos mitos que escondem formas disfarçadas de domínio. O fanatismo cai facilmente na irracionalidade, prejudica a capacidade criativa, ama o controle e mata a vida. Um e outro se entregam ao controle do pensamento e da ação, inibem o poder de criar e atuar, permitindo formas totalitárias de organização da sociedade. A consequência mais trágica é o aumento da barbárie, embrutecendo os indivíduos, tornando-os miseráveis até espiritualmente. Esse tipo de miséria corrói a nobreza e compromete a reputação. Torna as pessoas frias e cegas diante dos outros. Para estas, a violência passa a ser a saída, tornada normal ou normalizada. O passo seguinte é eliminar quem pensa diferente. É a instalação do horror.

4. Tanto de esquerda quanto de direita, quem se deixa levar pelo sectarismo e pelo fanatismo perde a capacidade de amar, afasta a esperança, nem sequer sonha com dias melhores; até o respeito vai embora. Se embrutece e busca se armar de todas as formas. Quer a intervenção da “força”. O perigo é a regressão à barbárie. Exemplos disso não faltam. Poderíamos elencar o nazismo e o fascismo, como exemplos muito citados. Mas também cabe citar o stalinismo na antiga União Soviética e regimes totalitários em nossa América Latina. Que monstruosidades! No Brasil de hoje, enquanto cidadãos, tomados de assalto pelos malfeitos na política (e seus comparsas) nos sentimos na urgência de uma solução ante a situação criada. A corrupção é um exemplo da “praga” que nos atinge. Pressionados, na hora atual, tendemos a nos posicionar nos extremos e nos rachamos como sociedade. O diálogo, que é uma característica dos humanos, é colocado de lado e perdemos a confiança uns nos outros. O perigo é o de reagir como autômatos, nos tornando presas fáceis de mecanismos sutis de manipulação. Introjetamos isso como normal, nos identificamos com o manipulador e reproduzimos a sua versão dos fatos, sem que desconfiemos. Acabamos indo a reboque, levados de maneira mecanicista, comandados de fora. Como brasileiros, não mais italianos, na dramaticidade da hora atual, nos encontramos numa encruzilhada: Ou delegamos o destino do País à “força” ou assumimos a difícil tarefa de amadurecer pelo caminho da democracia. As águas turvas e até lamacentas dos extremismos autoritários já se anunciam, de lado a lado. Nesta hora dramática, peço ponderação, equilíbrio, diálogo. Não faltem com o respeito. Façam do amor a força que nos une, convivendo em paz, apesar das nossas diferenças. É hora de buscar mais o que nos une. Juízo! Vejo sangue nas mãos de alguns. Quero-lhes um bem do tamanho do meu coração! Coloco tudo isso sob a luz da fé no bom Deus!

Frei Nilo Agostini, ofm

Segue foto do III Encontro da Família Agostini

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Frei Nilo Agostini participa de Congresso Internacional de Direitos Humanos e de Congresso pela Paz


Frei Nilo, professor pesquisador do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da USF, pariticipou, como conferencista, no V Congreso Internacional de Derechos Humanos y Derecho Internacional Humanitario e III Congreso para la Paz, realizado nos dias 11 e 12 de setembro de 2018, na cidade de Bogotá D.C., Colômbia. Estes eventos, realizados em conjunto, foram sediados pela Universidade Católica de Colômbia. 

Frei Nilo apresentou o tema “A paz como experiência da alteridade e o caminho de São Francisco de Assis”. Impactaram, entre outras, duas afirmações: “Não há caminho para a paz; a paz é o caminho” (atribuída a Mahatma Gandhi) e “São Francisco de Assis, o homem feito paz”. A conferência se deteve nos seguintes pontos: 1. Experiência, a anterioridade do outro; 2. A alteridade, sem domesticar e submeter; 3. Francisco de Assis, o homem feito paz; 4. O espírito de Assis: as jornadas mundiais de oração pela paz.

Ao encerrar sua apresentação, Frei Nilo lembrou as palavras do Papa Francisco: “Paz quer dizer Perdão”, “significa Acolhimento”, “Paz quer dizer Colaboração”, “significa Educação”. Sublinhou ainda que o atual Papa enfatiza a cultura do encontro, da comunhão, lembrando-nos de que “o nosso futuro é viver juntos”, formando “uma família de povos”. Enquanto artesãos da paz, sentimos ser esta uma responsabilidade de todos, um empenho universal, para que “cresça o esforço concreto por remover as causas subjacentes aos conflitos: as situações de pobreza, injustiça e desigualdade, a exploração e o desprezo da vida humana”, como muito bem enfatiza o Papa, que lembra: “A paz é o nome de Deus”.