Cidade do
Vaticano (RV) –
“Igreja
e Sínodo são sinônimos”, porque “a Igreja não é outra coisa que o caminhar
juntos” do Povo de Deus. Esta é uma das passagens do forte discurso do Papa Francisco pronunciado na manhã deste sábado na
Sala Paulo VI, por ocasião do 50º aniversário da instituição
do Sínodo dos Bispos por Paulo VI, em 15 de outubro de
1965.
Em seu
denso pronunciamento, o Santo Padre sublinhou que “em uma Igreja sinodal,
também o exercício do primado petrino poderá receber maior luz” e desejou,
referindo-se à Evangelii gaudium, uma
“salutar descentralização”, já que o Papa não deve substituir os episcopados
locais “no discernimento de todas as problemáticas” de seus territórios.
A informação é publicada por Rádio Vaticano,
17-10-2015.
O
Pontífice desenvolveu o seu discurso concentrando-se sobre o significado de
“ser uma Igreja a caminho” para o Bispo de Roma. Desde o Concílio Vaticano até
o atual Sínodo sobre a família – ressaltou – “experimentamos de modo mais
intenso a necessidade e a beleza de caminhar juntos”. E recordou que desde o
início de seu Pontificado quis valorizar o Sínodo, que “constitui uma das
heranças mais preciosas” do Concílio.
O caminho da sinodalidade é o
que Deus pede à Igreja
Francisco então recordou que Paulo VI pretendia com o Sínodo “repropor a
imagem do Concílio Ecumênico e refletir nele o Espírito e o método”. Então
referiu-se às palavras de João Paulo II que pensava em uma melhoria do
instrumento sinodal de forma que a “colegial responsabilidade pastoral” pudesse
“exprimir-se no Sínodo ainda mais plenamente”:
“Devemos
prosseguir por este caminho. O mundo em que vivemos, e que somos chamados a
amar e servir também nas suas contradições, exige da Igreja o potenciamento das
sinergias em todos os âmbitos da sua missão. Precisamente o caminho da sinodalidade
é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio. O que o Senhor nos
pede, num certo sentido, está tudo contido na palavra “Sínodo”. Caminhar juntos
– Leigos, Pastores, Bispo de Roma – é um conceito fácil de ser expresso em
palavras, mas não tão fácil de ser colocado em prática”.
Confiar na “intuição” do Povo
de Deus
O Papa
então enfatizou a “intuição” que o Povo de Deus tem em “discernir os novos
caminhos que o Senhor abre à Igreja”. O Povo de Deus – observou – é santo em
razão da unção recebida de Deus que o torna “infalível no crer”. Foi esta
convicção - explicou – a guiar-me quando desejei que o Povo de Deus fosse
consultado na preparação do dúplice encontro sinodal sobre a família”:
“Certamente,
uma consulta do gênero de nenhuma forma poderia bastar para escutar o sensus
fidei. Mas como teria sido possível falar da família sem interpelar as
famílias, escutando as suas alegrias e as suas esperanças, as suas dores e as
suas angústias? Por meio das respostas aos dois questionários enviados às Igrejas
particulares, tivemos a possibilidade de escutar ao menos algumas delas sobre
as questões que lhes dizem respeito de perto e sobre as quais têm tanto a
dizer”.
Uma Igreja sinodal é uma Igreja
de escuta
“Uma
Igreja sinodal – prosseguiu o Papa – é uma Igreja de escuta, na consciência de
que escutar ‘é mais do que ouvir’. É uma escuta recíproca em que cada um tem
alguma coisa a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: um na
escuta dos outros e todos na escuta do Espírito Santo”, para conhecer aquilo
que ele “diz às Igrejas”. O Sínodo dos Bispos – prosseguiu o Papa – “é o ponto
de convergência deste dinamismo de escuta conduzido em todos os níveis da vida
da Igreja”. O caminho sinodal inicia “escutando o Povo” e “prossegue escutando
os Pastores”.
“Por meio
dos Padres sinodais, os Bispos agem como autênticos custódios, intérpretes e
testemunhos da fé de toda a Igreja, que devem saber atentamente distinguir dos
fluxos frequentemente mutáveis da opinião pública. Na vigília do Sínodo do ano
passado eu afirmava: “Do Espírito Santo, peçamos para os Padres sinodais, antes
de tudo, o dom da escuta: escuta de Deus, até ouvir com ele o grito do Povo;
escuta do Povo, até a respirar a vontade a qual Deus nos chama”.
Igreja e Sínodo são sinônimos,
caminhar juntos ao rebanho de Deus
Por fim,
afirmou, “o caminho sinodal culmina na escuta do Bispo de Roma, chamado a
pronunciar-se como “Pastor e Doutor de todos os cristãos”: não a partir das
suas convicções pessoais, mas como suprema testemunha” da fé de toda a Igreja.
O fato de que o Sínodo “aja sempre cum Petro et sub Petro – portanto, não
somente cum Petro, mas também sub Petro – disse ainda – não é uma limitação da
liberdade, mas uma garantia de unidade”.
“A
sinodalidade, como dimensão constitutiva da Igreja, nos oferece o contexto
interpretativo mais adequado para compreender o próprio ministério hierárquico.
Se entendemos que, como disse São João Crisóstomo, “Igreja e Sínodo são
sinônimos” – porque a Igreja não é outra coisa senão ‘o caminhar juntos’ do
Rebanho de Deus nos caminhos da história de encontro a Cristo Senhor –
entendemos também que dentro dela ninguém pode ser “elevado” acima dos outros.
Pelo contrário, na Igreja é necessário que alguém “se abaixe” para colocar-se a
serviço dos irmãos ao longo do caminho”.
Francisco então reiterou que Jesus constituiu a “Igreja
colocando no seu vértice o Colégio apostólico no qual o Apóstolo Pedro é a
rocha”. Mas nesta Igreja – afirmou – “como em uma pirâmide ao contrário, o
vértice se encontra abaixo da base. Por isto, aqueles que exercem a autoridade
se chamam ministros: porque segundo o significado original da palavra, são os
menores entre todos”. E – afirmou – “em um horizonte similar, o próprio
Sucessor de Pedro não é outro senão “o servo dos Servos de Deus”. “Não
esqueçamos nunca – advertiu – que para os discípulos de Jesus, ontem hoje e
sempre, a única autoridade é a autoridade do serviço, o único poder é o poder
da cruz”.
Necessário proceder em uma
saudável “descentralização”
Em uma
Igreja sinodal – prosseguiu o Santo Padre – o Sínodo dos Bispos é somente “a
mais evidente manifestação de um dinamismo de comunhão que inspira todas as
decisões eclesiais”. O primeiro nível de exercício da sinodalidade – continuou
– realiza-se nas Igrejas particulares, naqueles organismos de comunhão que
devem permanecer “ligados com a base e partem das pessoas, dos problemas de
cada dia”. O segundo nível se manifesta em particular nas Conferências
Episcopais:
“Em uma
Igreja sinodal, como já afirmei, não é oportuno que o Papa substitua os
Episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que se prospectam
em seus territórios. Neste sentido, advirto para a necessidade de proceder em
uma salutar descentralização”.
Primado petrino recebe maior
luz de uma Igreja sinodal
O último nível – sublinhou - é o da Igreja universal e o
Sínodo dos Bispos, “representando o episcopado católico, torna-se expressão da
colegialidade episcopal dentro de uma Igreja inteiramente sinodal”. O empenho
em “edificar uma Igreja sinodal”, “missão à qual todos somos chamados” –
constatou – “é repleta de implicações ecumênicas”. Francisco, então, referiu-se
a João Paulo II quando colocava a urgência de uma
“conversão do papado”:
“Estou
convencido que, em uma Igreja sinodal, também o exercício do primado petrino
poderá receber maior luz. O Papa não está sozinho, acima da igreja; mas dentro
dela como batizado entre os batizados e dentro do Colégio Episcopal como Bispo
entre os Bispos, chamado ao mesmo tempo – como Sucessor do apóstolo Pedro – a
guiar a Igreja de Roma que preside no amor todas as Igrejas”.
Igreja sinodal ajudará também a
sociedade civil a construir fraternidade
O nosso
olhar – concluiu o Santo Padre – “se alarga também para a humanidade”. Uma
Igreja sinodal “é como um estandarte entre as nações em um mundo que – mesmo
invocando participação, solidariedade e transparência na administração da coisa
pública – entrega frequentemente o destino de inteiras populações nas mãos
ávidas de restritos grupos de poder”:
“Como
Igreja que ‘caminha junto’ aos homens, partícipe das dificuldades da história,
cultivamos o sonho de que a redescoberta da dignidade inviolável dos povos e da
função do serviço da autoridade poderão ajudar também a sociedade civil a
edificar-se na justiça e na fraternidade, gerando um mundo mais bonito e mais
digno para as gerações que virão depois de nós”.