sábado, 26 de novembro de 2016

ESSE TEMPO DO ADVENTO

Frei Almir Ribeiro Guimarães

Nosso Deus há de vir com poder
iluminar nosso olhar, aleluia.

As Normas Litúrgicas para o Ano litúrgico dizem: “ O tempo do Advento possui uma dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal em que se comemora  a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (n. 39).

“O Senhor Jesus vem de muitos modos no presente. Ele manifesta-se nos irmãos; manifesta-se na Sagrada Escritura, na Igreja, nas ações litúrgicas. Ele vem sempre. Podemos dizer que a vida cristã, constitui um permanente advento do Senhor. Contudo, num determinado período do ano este advento do Senhor é tematizado de modo mais intenso.  É o tempo do Advento em que a Igreja se coloca à espera do Senhor, comemorando sua vinda no passado e proclamando sua outra vinda no futuro”  ( Frei Alberto Beckhäuser, OFM,  Viver o Ano Litúrgico, Vozes 2003, Petrópolis, p. 50).

Cirilo de Jerusalém (séc. IV) fala das duas vindas de Cristo. A primeira  se revestiu de um aspecto de sofrimento, a segunda manifestará a coroa da realeza divina. Houve uma primeira descida de Cristo, discreta como a chuva sobre a relva e haverá outra, no esplendor, e que se realizará no futuro: “Na primeira ela foi envolto em faixas e reclinado no presépio; na segunda, será revestido de um manto de luz. Na primeira ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos” (Lit. das Horas, I, p. 113-114).

Bernardo de Claraval  (séc. XII), por sua vez, fala de uma tríplice vinda de Cristo. Entre a primeira, a do presépio, e a última no fim dos tempos, há uma vinda intermediária. A primeira e a última são visíveis, a intermediária, não. “Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi então, como ele próprio declara, que viram-no e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3,6) e olharão para aquele que traspassaram (Zc 12,10).  A vinda intermediária é oculta  e nela somente os eleitos o vêem em si mesmos e recebem a salvação. Na primeira o Senhor veio na fraqueza da carne; na intermediária vem espiritualmente, manifestando o poder de sua graça; na última, virá com o esplendor de sua glória’’ (Lit. das Horas  I, p. 138).
“Celebrando cada ano o mistério do Advento, a Igreja nos exorta a renovar continuamente a lembrança de tão grande amor de Deus para conosco. Ensina-nos também que a vinda de Cristo não foi proveitosa apenas para os seus contemporâneos, mas que a sua eficácia é comunicada a todos nós se,  mediante a fé e os sacramentos, quisermos receber a graça que ele nos prometeu e orientar a nossa vinda conforme os seus ensinamentos  (S. Carlos Borromeu).


Fonte: http://www.franciscanos-rs.org.br/esse-tempo-do-advento/

terça-feira, 1 de novembro de 2016

DECLARAÇÃO CONJUNTA CATÓLICO-LUTERANA: graças ao diálogo já não somos desconhecidos!


DECLARAÇÃO CONJUNTA
por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana da Reforma
Lund, 31 de outubro de 2016


«Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim» (Jo 15, 4).
Com coração agradecido
Com esta Declaração Conjunta, expressamos jubilosa gratidão a Deus por este momento de oração comum na Catedral de Lund, com que iniciamos o ano comemorativo do quinto centenário da Reforma. Cinquenta anos de constante e frutuoso diálogo ecumênico entre católicos e luteranos ajudaram-nos a superar muitas diferenças e aprofundaram a compreensão e confiança entre nós. Ao mesmo tempo, aproximamo-nos uns dos outros através do serviço comum ao próximo – muitas vezes em situações de sofrimento e de perseguição. Graças ao diálogo e testemunho compartilhado, já não somos desconhecidos; antes, aprendemos que aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos separa.
Do conflito à comunhão
Ao mesmo tempo que estamos profundamente gratos pelos dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma, também confessamos e lamentamos diante de Cristo que luteranos e católicos tenham ferido a unidade visível da Igreja. Diferenças teológicas foram acompanhadas por preconceitos e conflitos, e instrumentalizou-se a religião para fins políticos. A nossa fé comum em Jesus Cristo e o nosso Batismo exigem de nós uma conversão diária, graças à qual repelimos as divergências e conflitos históricos que dificultam o ministério da reconciliação. Enquanto o passado não se pode modificar, aquilo que se recorda e o modo como se recorda podem ser transformados. Rezamos pela cura das nossas feridas e das lembranças que turvam a nossa visão uns dos outros. Rejeitamos categoricamente todo o ódio e violência, passados e presentes, especialmente os implementados em nome da religião. Hoje, escutamos o mandamento de Deus para se pôr de parte todo o conflito. Reconhecemos que fomos libertos pela graça para nos dirigirmos para a comunhão a que Deus nos chama sem cessar.
O nosso compromisso em prol dum testemunho comum
Enquanto superamos os episódios da nossa história que gravam sobre nós, comprometemo-nos a testemunhar juntos a graça misericordiosa de Deus, que se tornou visível em Cristo crucificado e ressuscitado. Cientes de que o modo como nos relacionamos entre nós incide sobre o nosso testemunho do Evangelho, comprometemo-nos a crescer ainda mais na comunhão radicada no Batismo, procurando remover os obstáculos ainda existentes que nos impedem de alcançar a unidade plena. Cristo quer que sejamos um só, para que o mundo possa acreditar (cf. Jo 17, 21).
Muitos membros das nossas comunidades anseiam por receber a Eucaristia a uma única Mesa como expressão concreta da unidade plena. Temos experiência da dor de quantos partilham toda a sua vida, mas não podem partilhar a presença redentora de Deus na Mesa Eucarística. Reconhecemos a nossa responsabilidade pastoral comum de dar resposta à sede e fome espirituais que o nosso povo tem de ser um só em Cristo. Desejamos ardentemente que esta ferida no Corpo de Cristo seja curada. Este é o objetivo dos nossos esforços ecuménicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso empenho no diálogo teológico.
Rezamos a Deus para que católicos e luteranos saibam testemunhar juntos o Evangelho de Jesus Cristo, convidando a humanidade a ouvir e receber a boa notícia da ação redentora de Deus. Pedimos a Deus inspiração, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço, defendendo a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres, trabalhando pela justiça e rejeitando todas as formas de violência. Deus chama-nos a estar perto de todos aqueles que anseiam por dignidade, justiça, paz e reconciliação. Hoje, de modo particular, levantamos as nossas vozes para pedir o fim da violência e do extremismo que ferem tantos países e comunidades, e inumeráveis irmãos e irmãs em Cristo. Exortamos luteranos e católicos a trabalharem juntos para acolher quem é estrangeiro, prestar auxílio a quantos são forçados a fugir por causa da guerra e da perseguição, e defender os direitos dos refugiados e de quantos procuram asilo.
Hoje mais do que nunca, damo-nos conta de que o nosso serviço comum no mundo deve estender-se à criação inteira, que sofre a exploração e os efeitos duma ganância insaciável. Reconhecemos o direito que têm as gerações futuras de gozar do mundo, obra de Deus, em todo o seu potencial e beleza. Rezamos por uma mudança dos corações e das mentes que leve a um cuidado amoroso e responsável da criação.
Um só em Cristo
Nesta auspiciosa ocasião, expressamos a nossa gratidão aos irmãos e irmãs das várias Comunhões e Associações cristãs mundiais que estão presentes e unidos connosco em oração. Ao renovar o nosso compromisso de passar do conflito à comunhão, fazemo-lo como membros do único Corpo de Cristo, no qual estamos incorporados pelo Batismo. Convidamos os nossos companheiros de estrada no caminho ecumênico a lembrar-nos dos nossos compromissos e a encorajar-nos. Pedimos-lhes que continuem a rezar por nós, caminhar connosco, apoiar-nos na observância dos compromissos de religião que hoje manifestamos.
Apelo aos católicos e luteranos do mundo inteiro
Apelamos a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera. Mais do que os conflitos do passado, há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a aprofundar a nossa solidariedade. Estreitando-nos a Cristo na fé, rezando juntos, ouvindo-nos mutuamente, vivendo o amor de Cristo nas nossas relações, nós, católicos e luteranos, abrimo-nos ao poder de Deus Uno e Trino. Radicados em Cristo e testemunhando-O, renovamos a nossa determinação de ser fiéis arautos do amor infinito de Deus por toda a humanidade.
Fonte: http://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/catolicos-e-luteranos-assinam-declaracao-conjunta/