quinta-feira, 30 de maio de 2013

Para rever: CÉLULAS-TRONCO - A propósito do artigo de Ferreira Gular “Uma questão teológica”, publicado na Folha de São Paulo, no dia 30 de março de 2008.

Ferreira Gular tem razão de dizer que para ele o assunto é complicado mesmo. Tenta se pronunciar sobre um assunto amplo e importante e que não pode ser reduzido a meia dúzia de palavras. Ao querer posicionar-se, acaba resvalando no que parece desconhecer e, mesmo assim, pretende criticar a posição da Igreja Católica no tocante ao assunto em questão. Esquece-se o articulista que a interlocução com a sociedade pressupõe respeito com os protagonistas que tem contribuído para salvaguardar a afirmação do valor da vida nesta nação, inclusive quando pessoas eram atentadas em sua dignidade nos tempos da repressão explícita.
 
Caro Ferreira Gular, aquela célula que você diz que é menor que uma cabeça de alfinete, sendo ela já fecundada, mesmo sendo uma só, já contém 3,5 bilhões de informações, reunidas em mais de 50 mil genes, nos 23 pares de cromossomos. O que será a vida no resto de seus dias já está lá inscrito, bastando apenas desenvolver-se. A bela aventura da vida, a sua e a minha ou nossa, já começou naquele primeiro instante. O patrimônio genético não mudará mais. A esta evidência, muitos estudiosos sérios se subscrevem, mesmo sem muito alarde. Só uma parte dos cientistas afirma que a vida humana começa mais tarde ou em outros estágios daquela vida já iniciada na fecundação do óvulo. Quando estamos ante o espermatozóide ou o óvulo, sem a fecundação, não estamos diante de uma vida humana. Isto é tão óbvio que usar essa argumentação é simplório demais, é palavreado desnecessário, o que torna sim a discussão sem fim por pura inépcia do discurso pretendido. Aliás, o que entra em questão não é simples célula, mas o embrião, ainda que menor que cabeça de alfinete.
 
No caso do uso de embriões sobrantes como banco de células-tronco embrionárias, existem algumas ponderações do porque da posição da Igreja, aliás apontada em seu texto. A Igreja é a favor da vida, não importa o estágio em que ela se encontre, não importa a sua origem, classe ou povo a que pertença. A vida detém uma dignidade que ninguém concede, que ninguém outorga, que ninguém confere; diante dessa dignidade cabe uma atitude: reconhecê-la! A partir deste momento, começaremos a cuidar dela, protegê-la, tutelá-la, sobretudo quando esta se encontra em situações vulneráveis, como é o caso dos embriões humanos. Sendo esta vida humana dotada de dignidade, ela não pode ser tratada como objeto, muito menos como descartável. Por isso, a indústria da fecundação artificial erra quando faz do ser humano um objeto vulnerável pelas sobras de embriões, vulnerável pelo descarte e perda de muitos dentre eles. Ecoa forte um grito em favor da vida. Escolhe, pois, a vida! Nós anunciamos o Evangelho da Vida. Não basta que o fim seja bom: os meios também devem sê-lo.
 
Todos queremos que a ciência avance e encontre meios cada vez mais apropriados para suavizar a dor, curar doenças e melhorar a qualidade de vida das pessoas e das comunidades. Mas isso não poderá ser feito à custa de vidas humanas que, não reconhecidas como tais, poderiam ser usadas como objetos, em atentado sem escrúpulos, fazendo das células-tronco embrionárias células “troco” de uma indústria que, mais uma vez na história, atenta contra a vida, invadindo seu espaço sagrado. Queremos que a ciência avance sim e, neste caso, se interesse em desenvolver a tecnologia necessária para a utilização de células-tronco adultas, facilmente encontráveis no corpo humano, cuja versatilidade para originar várias linhas celulares já foi comprovada. Posicionar-se contrariamente à utilização de células-tronco embrionárias é apenas uma questão de defesa da vida. A Igreja Católica é a favor da utilização de células-tronco adultas. Temos a esperança de que as pesquisas nesta vertente trarão bons resultados, aliás já anunciados pela comunidade científica.
 
Ao abordar conceitos como “pecado original”, “ato sexual”, “corpo”, “alma” e “dogma fundamental”, nosso colunista se imiscui em terreno onde a ciência teológica tem um discurso perspicaz. Sem desconfiar das boas intenções do articulista, teria sido melhor buscar informações com quem melhor maneja tais assuntos, a fim de possibilitar a compreensão de qual seja a melhor impostação em tais questões e qual sua pertinência em relação ao que se pretende defender. Visões dualistas já foram superadas; temos uma compreensão integral do ser humano, valorizado em todas as suas dimensões e em todas as etapas de sua vida. Pretender aproximar a postura clara da Igreja Católica em favor vida com a inquisição é render-se a um discurso não respeitador da interlocução a que nos propomos, discurso que deve ser de alto nível, sem pré-intenções, sem reducionismos comprometedores, sem pré-juízos intencionais. Dizer que a Igreja afirma que um bebê ao morrer, sem ser batizado, vai ao “fogo do inferno” é desconhecer não somente a Tradição da Igreja mas também seu posicionamento atual, incluindo aí as afirmações a respeito do pecado original. Instrumentalizar assim o discurso não é bom para o nível requerido pelo debate quando o que está em jogo é a vida humana, sua dignidade e seu valor.
 
No tocante à sexualidade humana, reduzi-la ao uso ou não da camisinha é render-se a uma visão genital e empobrecida da mesma. É aceitar que o ser humano não se distingue dos animais, subjugado que seria aos instintos e pulsões. A sexualidade humana é uma das maiores riquezas do humano e assim necessita ser encarada. Ela é um bem que marca profundamente o ser humano no seu modo de ser e de se comunicar; ela o atravessa por inteiro e em todas as dimensões (somática, psico-afetiva, social, espiritual). Fragmentar a sexualidade, no resvalo de um reducionismo, é render-se à banalização que afunda o ser humano num vazio existencial comprometedor, fonte das muitas buscas de compensações e compulsões de nossos dias. A sexualidade humana, quando orientada, elevada e vivida no amor, ela encontra sua face humana e humanizadora, pois busca o bem das pessoas e da comunidade, realiza as pessoas num processo de integração e maturidade que dura a vida toda. Com certeza, é mais empenhativo integrar e amadurecer na vida. É mais simples simplesmente deixar rolar, bastando usar a camisinha. Nivelar por baixo não constrói o futuro da humanidade. É, sim, uma bomba-relógio, com hora marcada para estourar. Não teremos uma sociedade equilibrada com uma sexualidade desajustada. A hora é de refletir e de assumir cada um suas responsabilidades e como sociedade construir juntos delimitações em favor da vida. A vida humana urge!
 
Prof. Frei Nilo Agostini, ofm

quarta-feira, 29 de maio de 2013

CORPUS CHRISTI: São Francisco de Assis, Homem Eucarístico - Por Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Francisco foi um homem que amou Jesus em todos os seus aspectos. Ele extasiou-se diante do mistério da encarnação e inventou o presépio, apaixonou-se pelo mistério da cruz e criou o Ofício da Paixão e depois a Via-Sacra, mas foi na Eucaristia que ele derramou todo o seu amor a Jesus Cristo.
 
Na Eucarisria, Jesus vai além da encarnação, paixão e morte, pois ele se diminui, tomando a humilde forma de pão, para nosso bem. Se Jesus faz isso para o bem das pessoas, é bom que nós também sejamos pão e alimento para os outros, nossos irmãos em Cristo.
 
Desta forma, nós somos Eucaristia: graça e bênção para o próximo. Esta compreensão é o cerne do Carisma Franciscano: torna-nos desapegados, nos coloca a serviço, a sermos menores, nos faz sair de nós mesmos, gera a fraternidade que é o sentido de ser franciscano. 
Sobre a Eucaristia
"É o espírito do Senhor que habita nos seus fieis que recebe o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor... Eis que Ele se humilha todos os dias; tal como na hora em que, "descendo do seu trono real" para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado".
Exortação I - São Francisco

CARIDADE: ANÚNCIO DO EVANGELHO - Relembrando o Papa emérito Bento XVI

“Como já tive ocasião de dizer na Carta Apostólica Porta fidei, o Ano da Fé é uma boa oportunidade para intensificar o testemunho da caridade. A fé sem a caridade não dá... fruto e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente para a outra realizar o seu caminho "(n. 14).

Para viver este testemunho de caridade, disse ainda o Papa, o encontro com o Senhor, que transforma o coração e os olhos do homem, é indispensável. “Na verdade, é o testemunho do amor de Deus por todos os nossos irmãos que dá o verdadeiro sentido da caridade cristã. Não se trata só de ajuda material, também ela é necessária, mas caridade é participação ao amor de Cristo recebido e partilhado.”

O Pontífice recordou ainda que toda obra de autêntica caridade é uma manifestação concreta do amor de Deus pelos homens e, assim, torna-se anúncio do Evangelho. “Neste tempo de Quaresma, que os gestos de caridade permitam a todos se dirigir a Cristo, que continua a vir ao encontro dos homens!”

segunda-feira, 27 de maio de 2013

ACOLHIMENTO CRISTÃO


Missa do Papa em Santa Marta (L'Osservatore Romano, Cidade do Vaticano, 27 de Maio de 2013).

Os cristãos que pedem nunca devem encontrar as portas fechadas. As igrejas não são escritórios onde apresentar documentos e papelada quando se pede para entrar na graça de Deus. «Não devemos instituir o oitavo sacramento, o da alfândega pastoral!». É o acolhimento cristão o tema da reflexão do Papa Francisco na homilia da missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae esta manhã, sábado 25 de Maio, entre outros com o cardeal Agostino Cacciavillan. Comentando o evangelho de Marcos (10, 13-16) o Pontífice recordou a repreensão dirigida por Jesus aos discípulos que queriam afastar dele as criancinhas que o povo lhe levava para lhe pedir uma carícia. Os discípulos propunham «uma bênção geral e depois todos fora», mas o que diz o Evangelho? Que Jesus se indignou - respondeu o Papa - dizendo «deixai-os vir a mim, não lho impeçais. A quem é como eles pertence o Reino de Deus».

Para explicar melhor o conceito o Pontífice fez alguns exemplos. Em particular o que acontece quando dois noivos que se querem casar se apresentam na sacristia de uma paróquia e, em vez de apoio ou felicitações, ouvem enumerar as despesas da cerimónia ou perguntar se têm todos os documentos. Assim por vezes, recordou o Papa, eles «encontram a porta fechada». Deste modo quem teria a possibilidade «de abrir a porta agradecendo a Deus por este novo matrimónio» não o faz, aliás, fecha-a. Muitas vezes «somos controladores da fé e não felicitadores da fé do povo». Trata-se de algo, acrescentou o Papa, que «começou no tempo de Jesus, com os apóstolos».

Trata-se de «uma tentação que sentimos; a de nos apropriar, de nos apoderar do Senhor». E mais uma vez o Papa recorreu a um exemplo: o caso de uma jovem mãe que vai à Igreja, à paróquia, pede para baptizar o filho e sente-se responder «de um cristão ou de uma cristã»: não, «não podes, não és casada». E prosseguiu: «Olhai para esta moça que teve a coragem de dar continuidade à sua gravidez» e não abortou: «O que encontra? Uma porta fechada. E assim acontece com muitas. Este não é um bom zelo pastoral. Isto afasta do Senhor, não abre as portas. E assim quando nós estamos neste caminho, nesta atitude, não fazemos o bem às pessoas, ao povo de Deus. Mas Jesus instituiu sete sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo, o sacramento da alfândega pastoral».

«Jesus indigna-se quando vê estas coisas, porque quem sofre com isso? O seu povo fiel, o povo que tanto ama». Jesus, explicou o Papa Francisco ao concluir a homilia, quer que todos se aproximem dele. «Pensemos no santo povo de Deus, povo simples, que se quer aproximar de Jesus. E pensemos em todos os cristãos de boa vontade que erram e em vez de abrir uma porta a fecham. E peçamos ao Senhor que todos os que se aproximam da Igreja encontrem as portas abertas para receberem este amor de Jesus».

26 de Maio de 2013

SANTÍSSIMA TRINDADE: A VIDA NO AMOR!


Deus, na interpenetração e intercomunicação das pessoas divinas, torna-se fonte e expressão da mais vívida comunidade (1). Sem se anularem, os Três convergem um para o outro na força do amor que as pervade, gerando a comunhão em relações sempre ternárias, num ser Pessoa com as outras Pessoas e nas outras Pessoas, sem se reduzir uma às outras. Há uma unicidade e uma irredutibilidade de uma para com as outras Pessoas, base para a comunhão, a reciprocidade e a mútua revelação. “O todo da Trindade não elimina a peculiaridade ternária e esta não descaracteriza o todo. Ambas as dimensões se enriquecem porque usufruem mútua e plenamente das relações todas em ativa comunhão”(2).

A Trindade, por sua vez, não é uma comunidade fechada em si mesma. Expande-se em todo o criado e, de maneira especial, a pessoa humana é chamada a ser participante desta comunhão transbordante. Vejamos a oração sacerdotal de Jesus: “Que todos sejam um, ó Pai, como tu estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). O Deus Uno-Trino é o modelo proposto, o protótipo, por analogia e não por identificação, da verdadeira comunidade humana, fundamento de toda sociabilidade. E o ser humano, criado à imagem de Deus, sente-se chamado a viver esta comunhão. Tem no encontro do masculino e do feminino e na relação entre pais e filhos o primeiro e principal triângulo antropológico, no qual a pessoa é solicitada na sua globalidade para uma comunhão, que é à imagem de Deus. Aí está “o modelo da u-topia que aproxima a história das pessoas humanas à realidade de Deus” (3).

Citações:
1. Cf. MOLTMANN, Jürgen, La giustizia crea il futuro, Brescia, Queriniana, 1990, p. 82, especialmente nota 3.
2. RIBEIRO, Hélcion, A condição humana e a solidariedade cristã, Petrópolis, Editora Vozes, 1998, p. 89.
3. Ibidem, p. 94.


Fonte do texto: AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à Vida. 3a. edição, Petrópolis: Editora Vozes, 2011, p. 111-112.

domingo, 19 de maio de 2013

A FORÇA DO ESPÍRITO SANTO - O VIGOR DA NOSSA VIDA NO ESPÍRITO

Frei Nilo Agostini,ofm

Texto do livro de AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à Vida. 3ª edição, Petrópolis: Vozes, 2011, p. 78-81.
 
            Deus comunica vida ao ser humano através do Espírito Santo. Importa “aproximar-nos do Espírito Santo como aquele que dá a vida”[1]. “Neste Espírito, que é o Dom eterno, Deus uno e trino abre-se ao homem, ao espírito humano”[2]. A presença de Deus torna-se real ao homem sob a atuação do Espírito; faz-se presente no seu agir concreto e histórico.

“O sopro recôndito do Espírito divino faz com que o espírito humano, por sua vez, se abra diante de Deus que se abre para ele com desígnio salvífico e santificante. Pelo dom da graça, que vem do Espírito Santo, o homem entra ‘numa vida nova’, é introduzido na realidade sobrenatural da própria vida divina e torna-se ‘habitação do Espírito Santo’, ‘templo vivo de Deus’ (cf. Rm 8,9; 1Cor 6,19). Com efeito, pelo Espírito Santo, o Pai e o Filho vêm a ele e fazem nele a sua morada (cf. Jo 14,23). Na comunhão de graça com a Santíssima Trindade, dilata-se ‘o espaço vital’ do homem, elevado ao nível sobrenatural da vida divina. O homem vive em Deus e de Deus, vive ‘segundo o Espírito’ e ‘ocupa-se das coisas do Espírito’”[3].

            Podemos descrever o ser humano como um ser íntimo de Deus. Isto pode ser explicado pela sua participação na natureza divina e pela sua filiação divina. Porém, existe outro dado de especial grandeza: a presença viva e ativa do Espírito Santo. Este aparece como um agente de transformação na fé e no batismo, constituindo-se no dom primeiro e fundamental da vida nova (cf. 1Cor 6,11; 12,13; 2Cor 1,22; 5,5; Rm 5,5). É, assim, o elemento constitutivo do ser cristão (cf. Rm 8,2.9.10.11.15), o princípio dinâmico do agir (cf. Rm 8,13-14.36-27), a norma do nosso agir (cf. Rm 8,2.4-5.9.14)[4].

            Porém, antes mesmo do grande evento da encarnação de Deus em Jesus Cristo, o Espírito de Deus já está atuando como força de Deus. “O agir do Espírito de Deus, como o demonstra o Antigo Testamento, antecede o agir de Cristo; e ele ultrapassa o agir de Cristo, como o mostra o Novo Testamento”[5]. “Em hebraico e grego, ‘espírito’ significa ar em movimento, hálito ou vento. Por isso, também é sinal ou princípio de vida (cf. Gn 6,7; 7,15; 37,10-14), a força vital (cf. Jr 10,14; 51,17), a sede dos sentimentos, pensamentos e decisões da vontade (cf. Ex 35,21; Is 19,3; Jr 51,11; Ez 11,19). Em oposição à carne, o espírito é aquilo que dá vigor ao homem, é poderoso e imperecível (cf. Jó 10,4s; Jr 17,5-8; Os 14,4). Deus é que dá o Espírito e age no homem pelo seu Espírito”[6].

            Com o sentido acima, já sentimos o quanto o Espírito representa em termos de realidade dinâmica, elementar e vivificante. Ele está lá onde se move a vida, de forma particular a vida humana. Ele tudo enche, tudo penetra. Não está ao nosso alcance manipulá-lo. Somente conseguimos abrir-nos à sua força, que é força de Deus.

            No Novo Testamento, está claro que em Jesus Cristo temos a plenitude da manifestação do Espírito. Nele, o Espírito é realidade contínua, força própria; Ele tudo diz e faz no Espírito. O resultado é a fascinação e a admiração dos que o cercam[7]. “Nunca vimos coisa igual”, dizem os que o cercam ( Mt 9,33). “Dele saía uma força que a todos curava” (Lc 6,19).

“O agir libertador e redentor de Cristo, o Espírito o refere à vida, que em toda parte procede de sua fonte e que é movida pelo ‘Espírito da vida’, pois é esta vida que deve ser libertada e remida. O agir do Espírito de Deus, vivificante e de afirmação à vida, é universal e pode ser reconhecido em todas as coisas que servem à vida ou que impedem a sua destruição. Este agir do Espírito não substitui o agir de Cristo, mas confere-lhe relevância universal”[8].
 
Ao mesmo tempo, a experiência do Espírito é sentida como força de Deus na comunidade da Igreja primitiva, onde se manifesta nos muitos carismas e atua gerando forças, palavras e ações. Ser habitado pelo Espírito representa estar habitado por uma força que move a pessoa por inteiro e que a leva a ultrapassar os seus próprios limites. Em At 4,8, vemos como Pedro, cheio do Espírito Santo, testemunha e anuncia os eventos pelos quais Deus revelou a sua salvação; deparamo-nos com toda uma descrição da obra do Espírito no coração do apóstolo, que fala com convicção a partir de uma força que é maior do que ele.
 
Como fundamento objetivo da manifestação do Espírito, temos a sua descida sobre os Apóstolos ou sua efusão no dia de Pentecostes. Pedro, ao falar deste evento (cf. At 2,4), explica-o referindo-se, na verdade, a Joel 3,1-5, segundo o qual os tempos messiânicos são sinalizados como uma espera do dom do Espírito (cf. Ez 36,26.27; 37,14.27; 39,29; Is 59,21) e como realização da obra de Deus no poder do Espírito (Is 11,2; 42,1). A partir de Pentecostes, “o Espírito Santo vem depois de Cristo e graças a ele, para continuar no mundo, mediante a Igreja, a obra da Boa Nova da salvação[9].



[1] JOÃO PAULO II, Carta encíclica Dominum et Vivificantem, 6ª edição, São Paulo, Edições Paulinas, 2000, n° 2, p. 6.
[2] Ibidem, n° 58, p. 100.
[3] Ibidem, n° 58, p. 100-101.
[4] Cf. JUNGES, J. R., Evento Cristo e ação humana: Temas fundamentais da ética teológica, São Leopoldo, Unisinos, 2001, p. 122.
[5] MOLTMANN, Jürgen, O Espírito da Vida: Uma pneumatologia integral, Petrópolis, Editora Vozes, 1999, p. 10.
[6] Cf. Vocabulário de termos bíblicos, in Bíblia Sagrada, Petrópolis, Editora Vozes, 1982, p. 1522.
[7] Cf. Lc 1,35; 4,1.14.18; 4,18-21; 4,22; 4,32; 9,43; Mt 1,18; 7,28; 13,54; 15,31;19,25; 21,20; Mc 2,2; 5,41; 6,51; At 4,27; 10,38; Hb 1,9; 2Cor 1,21; 1Jo 2,22.
[8] MOLTMANN, Jürgen, op. cit., p. 10.
[9] JOÃO PAULO II, op. cit., n° 3, p. 11.

sábado, 11 de maio de 2013

MÃE, UM JORRAR DE AMOR!


Mãe, como é difícil defini-la. Ao mesmo tempo, quão cheia de sentido. Heidegger tinha razão ao afirmar: “A impossibilidade de se definir o ser não dispensa a questão de seu sentido”. A singularidade da mãe reside na sua presença, que se desdobra em possibilidades, sempre cheia de sentido.

A mãe tem nas mãos o sentido da vida, no amar sem condições. É como trazer um pedacinho do céu para a terra; e que pedacinho! São tantas as suas formas de amar; algo divino sem explicação. Chora e ri ao mesmo tempo. Lágrimas se derramam, sorrisos se abrem, sempre generosos e ternos pelos filhos queridos.

Ser mãe é lutar pela vida, é desempenhar papéis os mais diversos, sobretudo num contexto como o nosso, em que as disparidades sociais insistem em ser grandes e os limites da sobrevivência desafiam numerosos lares.

Mãe, construção social. Mãe, um jorrar de amor. Mãe, um presente de Deus, tão fundamental para as relações estabelecidas no decorrer da vida, primeiro elo de comunicação, garantia de manutenção, porta aberta ao outro e ao mundo.

Frei Nilo Agostini, ofm