sexta-feira, 28 de outubro de 2016

NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 241


“Não fazer os pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida.”
 (São João Crisóstomo, século IV)

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de 2016, manifesta sua posição a respeito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, de autoria do Poder Executivo que, após ter sido aprovada na Câmara Federal, segue para tramitação no Senado Federal.
Apresentada como fórmula para alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC 241 limita, a partir de 2017, as despesas primárias do Estado – educação, saúde, infraestrutura, segurança, funcionalismo e outros – criando um teto para essas mesmas despesas, a ser aplicado nos próximos vinte anos. Significa, na prática, que nenhum aumento real de investimento nas áreas primárias poderá ser feito durante duas décadas. No entanto, ela não menciona nenhum teto para despesas financeiras, como, por exemplo, o pagamento dos juros da dívida pública. Por que esse tratamento diferenciado? 
A PEC 241 é injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam do Estado para que seus direitos constitucionais sejam garantidos. Além disso, beneficia os detentores do capital financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de juros, não taxa grandes fortunas e não propõe auditar a dívida pública.
A PEC 241 supervaloriza o mercado em detrimento do Estado. “O dinheiro deve servir e não governar! ” (Evangelii Gaudium, 58). Diante do risco de uma idolatria do mercado, a Doutrina Social da Igreja ressalta o limite e a incapacidade do mesmo em satisfazer as necessidades humanas que, por sua natureza, não são e não podem ser simples mercadorias (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 349). 
A PEC 241 afronta a Constituição Cidadã de 1988. Ao tratar dos artigos 198 e 212, que garantem um limite mínimo de investimento nas áreas de saúde e educação, ela desconsidera a ordem constitucional. A partir de 2018, o montante assegurado para estas áreas terá um novo critério de correção que será a inflação e não mais a receita corrente líquida, como prescreve a Constituição Federal.
É possível reverter o caminho de aprovação dessa PEC, que precisa ser debatida de forma ampla e democrática. A mobilização popular e a sociedade civil organizada são fundamentais para superação da crise econômica e política. Pesa, neste momento, sobre o Senado Federal, a responsabilidade de dialogar amplamente com a sociedade a respeito das consequências da PEC 241.
A CNBB continuará acompanhando esse processo, colocando-se à disposição para a busca de uma solução que garanta o direito de todos e não onere os mais pobres.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, continue intercedendo pelo povo brasileiro. Deus nos abençoe!

Dom Sergio da RochaArcebispo de Brasília
Presidente da CNBB

Dom Murilo S. R. Krieger, SCJArcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFMBispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

terça-feira, 25 de outubro de 2016

SANTO ANTÔNIO DE SANT'ANA GALVÃO - 25/10/2016

Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, ou simplesmente Frei Galvão,  foi canonizado no dia 11 de maio de 2007, pelo Papa Bento XVI, em uma grande celebração no Campo de Marte, em São Paulo. Liturgicamente,  Santo Antônio de Sant’Ana Galvão é celebrado em 25 de outubro, a data da sua beatificação pelo saudoso Papa João Paulo II. Frei Galvão morreu em 23 de dezembro de 1822 e está sepultado no Mosteiro da Luz, em São Paulo. Contudo, este santo brasileiro, que era frade desta Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, viveu 60 anos no Convento São Francisco, no Largo São Francisco, em São Paulo.

Segundo Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ter um santo que viveu entre nós tem um significado muito especial. “Significa, antes de tudo, que os santos não são mitos inventados pela fantasia humana, nem caíram do céu, como seres superiores, que não fazem parte da nossa experiência histórica. São pessoas reais, com endereço e história pessoal, com familiares e parentes, e que também lutaram pela vida e sofreram. Os nossos santos são membros da família humana, irmãos de caminhada da comunidade eclesial. Mas foram grandes cristãos, que viveram um intenso amor a Deus e aos irmãos, deixaram um testemunho de fé e caridade, que serviu e serve ainda como referência: muitas outras pessoas, olhando para eles ou aproximando-se deles, sentiram-se encorajadas a imitar seus exemplos e a viver como eles. Os santos são grandes amigos de Deus, que já alcançaram a “casa do Pai”e agora vivem na companhia de Deus; e também são nossos amigos, totalmente interessados em que nós alcancemos igualmente a vida eterna e estejamos, um dia, em sua companhia. Por isso nós podemos recorrer à sua intercessão e eles pedem a Deus por nós”.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=25667 

domingo, 2 de outubro de 2016

HOMILIA DO PAPA NA MISSA NA GEÓRGIA - TEXTO INTEGRAL

Na manhã deste sábado dia 1 de outubro o Papa Francisco celebrou missa no Estádio Meskhi em Tiblissi na Geórgia. Publicamos aqui o texto integral da homilia do Santo Padre:
“Entre os numerosos tesouros deste país esplêndido, sobressai o grande valor das mulheres. Estas – escrevia Santa Teresinha do Menino Jesus, que hoje recordamos – «amam a Deus em número muito maior que os homens» (Escritos autobiográficos, Manuscrito A, VI). Aqui, na Geórgia, há muitas avós e mães que continuam a guardar e transmitir a fé, semeada nesta terra por Santa Nino, e levam a água fresca da consolação de Deus a muitas situações de deserto e conflito.
Isto ajuda-nos a compreender a beleza daquilo que o Senhor diz hoje na primeira leitura: «Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei» (Is 66, 13). Como uma mãe toma sobre si os pesos e fadigas de seus filhos, assim Deus gosta de tomar conta dos nossos pecados e inquietações; Ele, que nos conhece e ama infinitamente, é sensível à nossa oração e sabe enxugar as nossas lágrimas. Vendo-nos, sempre Se comove e enternece com entranhado amor, porque, para além do mal que possamos fazer, sempre somos os seus filhos; deseja pegar-nos no colo, proteger-nos, livrar-nos dos perigos e do mal. Deixemos ressoar no nosso coração esta palavra que hoje nos dirige: «Como uma mãe, Eu vos consolarei».
A consolação, de que temos necessidade no meio dos eventos tumultuosos da vida, é precisamente a presença de Deus no coração. Porque a sua presença em nós é a fonte da verdadeira consolação, que perdura, liberta do mal, traz a paz e faz crescer a alegria. Por isso, se quisermos viver como consolados, é preciso dar lugar ao Senhor na vida. E, para que o Senhor habite estavelmente em nós, é preciso abrir-Lhe a porta e não O deixar fora. Há portas da consolação que se devem manter sempre abertas, porque Jesus gosta de entrar por elas: o Evangelho lido cada dia e trazido sempre connosco, a oração silenciosa e de adoração, a Confissão, a Eucaristia. Através destas portas, o Senhor entra e dá um novo sabor às coisas. Mas, quando a porta do coração se fecha, a luz d’Ele não chega e fica-se às escuras. Então habituamo-nos ao pessimismo, às coisas que estão erradas, às realidades que nunca se modificarão. E acabamos por fechar-nos na tristeza, nos subterrâneos da angústia, sozinhos dentro de nós. Pelo contrário, se abrirmos de par em par as portas da consolação, entra a luz do Senhor.
Mas Deus não nos consola apenas no coração; de facto, através do profeta Isaías, acrescenta: «Em Jerusalém, sereis consolados» (66, 13). Em Jerusalém, isto é, na cidade de Deus, na comunidade: quando estamos unidos, quando há comunhão entre nós, atua a consolação de Deus. Na Igreja, encontra-se consolação; a Igreja é a casa da consolação: aqui, Deus deseja consolar. Podemos interrogar-nos: Eu, que estou na Igreja, sou portador da consolação de Deus? Sei acolher o outro como um hóspede e consolar a quem vejo cansado e dececionado? Mesmo quando sofre aflições e isolamento, o cristão é sempre chamado a infundir esperança em quem se deu por vencido, reanimar quem está desanimado, levar a luz de Jesus, o calor da sua presença, a renovação do seu perdão. Há tantos que sofrem, experimentam provações e injustiças, vivem na inquietação. Há necessidade da unção do coração, desta consolação do Senhor que não tira os problemas, mas dá a força do amor, que sabe carregar o sofrimento em paz. Receber e levar a consolação de Deus: esta missão da Igreja é urgente. Queridos irmãos e irmãs, sintamo-nos chamados a isto, e não a fossilizar-nos no que está errado ao nosso redor, nem a entristecer-nos por qualquer desarmonia que vemos entre nós. Não é bom habituar-se a um «microclima» eclesial fechado; bom é compartilhar horizontes de esperança amplos e abertos, vivendo a coragem humilde de abrir as portas e sairmos de nós mesmos.
Mas, para receber a consolação de Deus, há uma condição fundamental que a sua Palavra nos lembra hoje: tornar-se pequenos como crianças (cf. Mt 18, 3-4), ser «como criança saciada ao colo da mãe» (Sal 131/130, 2). Para acolher o amor de Deus, é necessária esta pequenez de coração: só como pequenos é que podemos estar no colo da mãe.
Quem se fizer pequeno como uma criança – diz-nos Jesus – é «o maior no Reino do Céu» (Mt 18, 4). A verdadeira grandeza do homem consiste em fazer-se pequeno diante de Deus. Porque a Deus não se conhece com altos pensamentos e muito estudo, mas com a pequenez dum coração humilde e confiante. Para ser grande diante do Altíssimo, não é preciso acumular honras e prestígio, bens e sucessos terrenos, mas esvaziar-se de si mesmo. A criança é precisamente alguém que nada tem para dar e tudo a receber. É frágil, depende do pai e da mãe. Quem se faz pequeno como uma criança, torna-se pobre de si mas rico de Deus.
As crianças, que não sentem problemas para compreender Deus, têm muito a ensinar-nos: dizem-nos que Ele realiza grandes coisas com quem não Lhe opõe resistência, com quem é simples e sincero, sem duplicidade. Assim no-lo mostra o Evangelho, onde se fazem grandes maravilhas com coisas pequenas: com poucos pães e dois peixes (cf. Mt 14, 15-20), com um grão de mostarda (cf. Mc 4, 30-32), com o grão de trigo que morre na terra (cf. Jo 12, 24), com um único copo de água que se dá (cf. Mt 10, 42), com duas moedinhas duma viúva pobre (cf. Lc 21, 1-4), com a humildade de Maria, a serva do Senhor (cf. Lc 1, 46-55).
Eis a grandeza surpreendente de Deus, dum Deus cheio de surpresas e que gosta das surpresas: não percamos jamais o desejo e a confiança das surpresas de Deus! E far-nos-á bem lembrar que somos sempre e antes de tudo seus filhos: não donos da vida, mas filhos do Pai; não adultos autónomos e autossuficientes, mas filhos sempre carecidos de ser pegados no colo, de receber amor e perdão. Felizes as comunidades cristãs que vivem esta genuína simplicidade evangélica. Pobres de meios, são ricas de Deus. Felizes os pastores que não cavalgam a lógica do sucesso mundano, mas seguem a lei do amor: o acolhimento, a escuta, o serviço. Feliz a Igreja que não se abandona aos critérios da funcionalidade e da eficiência organizativa, nem se preocupa com fazer boa figura. Pequeno e amado rebanho da Geórgia, que te dedicas tanto à caridade e à formação, acolhe o encorajamento do Bom Pastor, entrega-te a Ele que te leva aos ombros e consola!
Gostaria de resumir estes pensamentos com algumas palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus, que hoje recordamos. Ela indica-nos o seu «pequeno caminho» rumo a Deus, «o abandono da criança pequena, que adormece sem temor nos braços de seu pai», porque «Jesus não pede grandes gestos, mas apenas o abandono e a gratidão» (Escritos autobiográficos, Manuscrito B). Mas infelizmente – escrevia ela então, mas é verdade também hoje – Deus encontra «poucos corações que se abandonem a Ele sem reservas, que compreendam toda a ternura do seu Amor infinito» (ibid.). Ao contrário, a jovem santa e doutora da Igreja era perita na «ciência do Amor» (ibid.) e ensina-nos que «a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não ficar surpreendido com os seus pontos fracos, em sentir-se edificado mesmo pelos mínimos atos de virtude que lhes veja praticar»; lembra-nos também que «a caridade não pode ficar fechada no fundo do coração» (Manuscrito C). Peçamos hoje, todos juntos, a graça de um coração simples, que crê e vive na força suave do amor; peçamos para viver com confiança serena e total na misericórdia de Deus.”
Fonte: http://pt.radiovaticana.va/news/2016/10/01/homilia_do_papa_na_missa_na_ge%C3%B3rgia_%E2%80%93_texto_integral/1261986 

MISSA EM BAKU, AZERBAIJÃO: HOMILIA DO PAPA (TEXTO INTEGRAL)

O Papa Francisco celebrou Missa na Igreja da Imaculada Conceição em Baku, Azerbaijão, neste dia 2 de outubro., XXVII domingo do Tempo Comum. Publicamos o texto integral da sua homilia:
“Hoje a Palavra de Deus apresenta-nos dois aspetos essenciais da vida cristã: a fé e o serviço. A propósito da fé, temos dois pedidos particulares dirigidos ao Senhor.
O primeiro é do profeta Habacuc, suplicando a Deus para intervir restabelecendo a justiça e a paz que os homens romperam com a violência, lutas e contendas: «Até quando, Senhor – pergunta o profeta –, pedirei socorro, sem que me escutes?» (Hab 1, 2). Em resposta, Deus não intervém diretamente, não resolve bruscamente a situação, nem Se torna presente com a força. Pelo contrário, convida a aguardar com paciência, sem nunca perder a esperança; sobretudo sublinha a importância da fé: porque o homem viverá pela sua fé (cf. Hab 2, 4). Do mesmo modo procede Deus também connosco: não subscreve os nossos desejos que pretenderiam mudar imediata e continuamente o mundo e os outros, mas visa antes de tudo curar o coração: o meu, o teu, o coração de cada um. Deus muda o mundo, mudando os nossos corações, mas isto não o pode fazer sem nós; com efeito, o Senhor deseja que Lhe abramos a porta do coração, para poder entrar na nossa vida. Esta abertura a Ele, esta confiança n’Ele é precisamente «o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé» (1 Jo 5, 4). Porque, quando Deus encontra um coração aberto e confiante, nele pode realizar maravilhas.
Mas ter fé – uma fé viva – não é fácil e, daí, o segundo pedido; o pedido que, no Evangelho, os Apóstolos dirigem ao Senhor: «Aumenta a nossa fé!» (Lc 17, 5). É uma boa petição, uma súplica que poderíamos também nós dirigir a Deus todos os dias. Mas a resposta divina é surpreendente e, também neste caso, devolve-nos o pedido feito: «Se tivésseis fé...» É Ele que nos pede para ter fé; porque a fé, que é um dom de Deus e sempre se deve pedir, tem de ser, por sua vez, cultivada também por nós. Não é uma força mágica que desce do céu, não é um «dote» pessoal que se recebe duma vez para sempre, nem mesmo um superpoder que serviria para resolver os problemas da vida. Com efeito, uma fé útil para satisfazer as nossas necessidades seria uma fé egoísta, completamente centrada em nós. A fé não deve ser confundida com estar bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale a vida inteira, mas que só dá fruto, se fizermos a nossa parte.
E qual é a nossa parte? Jesus faz-nos compreender que é o serviço. De facto no Evangelho, logo depois das palavras sobre a força da fé, o Senhor fala do serviço. Fé e serviço não se podem separar; antes, pelo contrário, estão intimamente ligados, atados entre si. Para explicar isto, gostaria de usar uma imagem que vos é muito familiar: a de um lindo tapete. Os vossos tapetes são verdadeiras obras de arte e provêm duma tradição muito antiga. Também a vida cristã de cada um vem de longe, é um dom que recebemos na Igreja e que provém do coração de Deus, nosso Pai, que deseja fazer de cada um de nós uma obra-prima da criação e da história. Cada tapete, como bem sabeis, deve ser tecido segundo a teia e a tecedura; só com esta estrutura é que o conjunto resulta bem composto e harmonioso. O mesmo se passa com a vida cristã: tem de ser pacientemente tecida cada dia, entrelaçando entre si uma teia e uma tecedura bem definida: a teia da fé e a tecedura do serviço. Quando se enlaça a fé com o serviço, o coração permanece aberto e jovem, e dilata-se ao fazer o bem. Então a fé, como diz Jesus no Evangelho, torna-se poderosa e faz maravilhas. Se caminha por tal estrada, então amadurece e torna-se forte, desde que permaneça sempre unida ao serviço.
Mas que é o serviço? Poderíamos pensar que consistisse apenas em ser fiéis aos próprios deveres ou na prática de qualquer obra boa. Mas, para Jesus, é muito mais. No Evangelho de hoje, pede-nos, mesmo com palavras muito fortes e radicais, uma disponibilidade total, uma vida totalmente disponível, sem olhar a cálculos nem conveniências. Porque é tão exigente? Porque Ele nos amou assim, fazendo-Se nosso servo «até ao extremo» (Jo 13, 1), tendo vindo «para servir e dar a sua vida» (Mc 10, 45). E isto acontece ainda agora todas as vezes que celebramos a Eucaristia: o Senhor vem estar no meio de nós e, por mais que nos proponhamos de O servir e amar, é sempre Ele que nos precede, servindo-nos e amando-nos imensamente mais de quanto possamos imaginar e merecer. Dá-nos a sua própria vida; e convida-nos a imitá-Lo, dizendo: «Se alguém Me serve, que Me siga» (Jo 12, 26).
Portanto, não somos chamados a servir apenas para ter uma recompensa, mas para imitar Deus, que Se fez servo por nosso amor. Nem somos chamados a servir de vez em quando, mas a viver servindo. Então o serviço é um estilo de vida; mais ainda, resume em si todo o estilo cristão de vida: servir a Deus na adoração e na oração; estar abertos e disponíveis; amar concretamente o próximo; trabalhar com ardor pelo bem comum.
E não faltam, aos crentes, também as tentações, que afastam do estilo de serviço e acabam por tornar a vida inútil. Também aqui podemos pôr em evidência duas delas. Uma é deixar o coração entibiar-se. Um coração tíbio fecha-se numa vida preguiçosa e sufoca o fogo do amor. Quem é tíbio vive para satisfazer as suas próprias comodidades, que não bastam jamais e, por isso, nunca está contente; pouco a pouco acaba por se contentar com uma vida medíocre. O tíbio reserva, para Deus e os outros, uma determinada «percentagem» do seu tempo e do seu coração, sem nunca exagerar, antes procurando poupar. Assim a sua vida perde o sabor: torna-se como um chá que era verdadeiramente bom, mas, quando fica frio, não se pode beber. Estou certo, porém, de que vós, fixando os exemplos daqueles que vos precederam na fé, não deixareis entibiar o coração. A Igreja inteira, que por vós nutre uma simpatia especial, tem os olhos postos em vós e vos encoraja: sois um rebanho pequeno mas muito precioso aos olhos de Deus.
Mas há uma segunda tentação, na qual se pode cair, não por ser passivo, mas porque se é «demasiado ativo»: a tentação de pensar como donos, trabalhar apenas para ganhar crédito e tornar-se alguém. Então o serviço torna-se um meio e não um fim, porque o fim passou a ser o prestígio; depois, vem o poder, o desejo de ser grande. Mas Jesus lembra a todos nós: «Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo» (Mt 20, 26). É assim que se edifica e embeleza a Igreja. Retomo a imagem do tapete, aplicando-a à vossa bela comunidade: cada um de vós é como um esplêndido fio de seda, mas os vários fios só criam uma composição bonita se estiverem bem entrelaçados uns com os outros; sozinhos, não servem. Permanecei sempre unidos, vivendo humildemente em caridade e alegria; o Senhor, que cria a harmonia nas diferenças, vos guardará.
Assim nos ajude a intercessão da Virgem Imaculada e dos Santos, especialmente de Santa Teresa de Calcutá, cujos frutos de fé e serviço estão presentes no meio de vós. Acolhamos uma das suas palavras estupendas que resume a mensagem de hoje: «O fruto da fé é o amor. O fruto do amor é o serviço. O fruto do serviço é a paz» (O caminho simples, Introdução).”
Fonte: http://pt.radiovaticana.va/news/2016/10/02/missa_em_baku,_azerbaij%C3%A3o_homilia_do_papa_(texto_integral)/1262268