quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Bioética: uma ciência preocupada com a vida

A Bioética é uma ciência nova. Tem 40 anos. Ela teve início na década de 70 do século passado, quando se começou a ver que o avanço das tecnologias necessitava de um acompanhamento ético, sobretudo as biociências. Cunhou-se o termo bioética, justamente para que pudéssemos fazer com que as ciências relacionadas à vida, às biotecnologias, pudessem servir ao ser humano e ajudá-lo no seu processo de humanização. Hoje, o termo bioética abrange toda a preocupação voltada à vida, mas também alcançando os seres não vivos, numa visão abrangente da criação toda.

Há um pluralismo muito grande dentro da Bioética e o consenso está começando a se fazer. Por que tal pluralismo? Porque as mais diferentes ciências são interpeladas e começam a responder aos desafios da Bioética. Aparecem também profissionais os mais diversos, tendo que se pronunciar sobre questões de Bioética, seja do nascer, seja do morrer, seja das questões de saúde ou de engenharia genética, ou até ambientais. E por isso há uma diversidade de posições, quem nem sempre formam um real consenso.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SÃO FRANCISCO DE ASSIS


Entrevista com Frei Nilo Agostini, ofm

1) As idéias de São Francisco de Assis revolucionaram a Igreja. Que reflexos podemos constatar delas na história do cristianismo?

O que marcou o cristianismo foi a “forma de vida” assumida por São Francisco de Assis. Ainda bem jovem, Francisco sonhou ser grande, quis ser cavaleiro, inclusive para lutar contra cidades vizinhas. Porém, uma grande inquietação tomou cedo conta dele, colocando-o a caminho de um ideal que ele vai só aos poucos conseguindo discernir. Filho de um rico comerciante, com a vida garantida, eis que ele foi deixando tudo para seguir uma forma de vida simples e pobre a exemplo de Jesus Cristo e seus discípulos. E quando outros companheiros passaram a acompanhá-lo, Francisco sentiu com clareza que o Altíssimo Pai inspirava-o a viver segundo a forma do Santo Evangelho. Quis um estilo simples e pobre. Colocou-se entre os menores da sociedade. Ao fundar uma Ordem, chamou-a de Ordem dos Frades Menores.

2) O que o levou a tornar-se um franciscano?

A minha vocação despertou ainda na infância. Tudo começou quando uma equipe de missionários visitou as comunidades (capelas) da Paróquia do município de Indaial, SC. Fiquei encantando com as pregações e as atividades que desenvolviam, despertando em mim a vontade de ser como eles. Esta chama ficou guardada em meu coração até que, anos depois, apresentei-me aos frades franciscanos, que atendiam aquela paróquia, para ir ao seminário. Fui prontamente acolhido. Eu tinha apenas 11 anos. Fui paulatinamente descobrindo o quanto São Francisco de Assis poderia inspirar a minha vida, sobretudo ao levar-me para muito próximo de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, compreendi que este modo de vida me colocava próximo do povo, numa presença de serviço, de oração e de trabalho.

3) Como São Francisco de Assis o influenciou em seus estudos na área da Teologia Moral?

É bom saber que a Escolástica, na Idade Média, foi fortemente influenciada pelos teólogos franciscanos. São Boaventura, Beato Duns Scotus, Alexandre de Hales, Guilherme de Ockham e Francis Bacon foram alguns destes nomes que marcaram a Escolástica, com grande contribuição para a Teologia. Com um acento agostiniano, a Escola Franciscana teve sempre a clareza de remeter a reflexão teológica diretamente a Jesus Cristo e seu Evangelho, anunciando-o aos distintos povos, raças e nações. Isto nos tem colocado muito cedo no coração da missão da própria Igreja que é ser evangelizado e evangelizar. O meu trabalho na Teologia Moral busca ser um anúncio do Evangelho, profundamente ligado à pessoa de Jesus, num chamado à conversão. Busco estar muito próximo do povo, inclusive escrevendo especialmente para ele, como no caso do último livro Moral Cristã: Temas para o dia-a-dia, nesta hora da graça de Deus (Editora Vozes).

4) Como é viver o voto da pobreza em meio a um mundo tão consumista?

O modo de vida dos frades franciscanos é profundamente comunitário. Estrutura-se em Fraternidades. Ninguém tem nada em nome próprio. Há uma partilha que é feita no seio da Fraternidade. Temos, na verdade, os instrumentos para que realizemos bem os nossos trabalhos evangelizadores. E diante da sociedade consumista, temos sempre que estar alertas e proceder a um contínuo discernimento, pois a pobreza significa dispor-se inteiramente a ser um dom total, num abandono de tudo, segundo o exemplo de Jesus Cristo, sendo Deus a única e verdadeira riqueza.

5) Que trabalhos os franciscanos vêm desenvolvendo no Rio de Janeiro?

Atenho-me aqui mais ao município do Rio de Janeiro. Os franciscanos da Ordem dos Frades Menores estão presentes no Santuário Santo Antônio (Largo da Carioca), no Hospital de São Francisco da Penitência (Tijuca, com filantropia para carentes), na Pontifícia Universidade Católica (Gávea) e em diversos trabalhos sociais como o SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade), com desdobramentos através da Educafro (pré-vestibular para negros e carentes, com 78 núcleos no Estado do Rio de Janeiro) e do Info-Sefras (programa de inclusão digital), ambos com sede e salas na Praça Tiradentes, n. 73. Outros trabalhos sociais: creches (Vidigal, Tijuca, Vila Ideal e Prainha em Duque de Caxias), Escola Pe. Dr. Francisco da Motta (Praça. Mauá), Escola de Enfermagem São Francisco de Assis (gratuita), Cemitério (no Caju). Além disso, prestamos auxílios a várias paróquias e promovemos Cursos de Teologia para Leigos nos finais de tarde, atualmente com núcleos na Igreja N. Sra. da Glória, no Largo do Machado, e no Colégio Sagrado Coração de Maria, em Copacabana, e em Niterói, na Paróquia São Francisco Xavier (totalizando 700 alunos). Além disso, há uma paróquia atendida pelos Frades em Niterói e cinco outras na Baixada Fluminense, sem falar das regiões serranas, sobretudo Petrópolis, Paty dos Alferes e Andrade Pinto.

6) Como é a estrutura mundial da Ordem?

A Ordem dos Frades Menores subdivide-se em Províncias; cada uma reúne um número variável de Fraternidades e Frades, com um projeto evangelizador enraizado localmente e sintonizado com a Ordem a nível mundial. Há sempre uma inserção muito grande na Igreja local (dioceses), buscando enriquecer a Igreja com o nosso estilo próprio de vida.

7) O que recomenda para aqueles que desejam seguir uma vida consoante aos ensinamentos de São Francisco de Assis?

Muitos são os que nos procuram para entrar na Ordem Franciscana. No Convento Santo Antônio, Largo da Carioca, há um atendimento vocacional para os que nos procuram. Quem queira fazer parte de nossa Ordem, terá que ter uma vontade grande de seguir Jesus Cristo simples e pobre, segundo a forma de vida de São Francisco de Assis e abraçar a vida em fraternidade; terá que estar pronto a servir o nosso povo, qualificando-se para os serviços prestados; terá que sentir-se profundamente ligado à Igreja Católica; terá que dispor-se a um crescimento espiritual fundado no seguimento de Jesus Cristo até chegar a formar uma unidade no seu ser, capaz de doação, transparência e qualidade evangélica de vida.

8) Quantas Ordens Franciscanas (masculinas e femininas) existem na cidade do Rio de Janeiro e quais são?

Existem seis Ordens Franciscanas na cidade do Rio de Janeiro. São elas: Ordem dos Frades Menores (OFM), Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (OFMCap), Ordem dos Frades Menores Conventuais (OFMConv), Ordem Franciscana Secular (OFS), Ordem de Santa Clara (Clarissas) e Ordem de Santa Beatriz da Silva (Concepcionistas franciscanas). Além destas Ordens, existem quatro Congregações Franciscanas na cidade do Rio de Janeiro: Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo, Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus, Irmãs Franciscanas de Dilling e Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.

9) Qual a diferença entre as diversas ordens franciscanas?

Todas as Ordens e Congregações Franciscanas se irmanam na chamada “Família Franciscana” que, no Brasil, têm um Centro de animação comum (revista, cursos e sessões de formação) com sede em Brasília e que reúne 149 Ordens e Congregações franciscanas só do Brasil. Todas se inspiram no carisma comum da São Francisco e Santa Clara, ambos de Assis. Há uma diferença fundamental entre essas Ordens. Algumas cultivam uma vida contemplativa (Clarissas e Concepcionistas). As outras assumem uma vida apostólica, com serviços diversos prestados à Igreja ou com inserções diversas na sociedade. Porém, nós franciscanos e franciscanas achamos que os dois aspectos se complementam muito bem. Mesmo havendo estes e outros matizes e até estilos próprios entre as várias Ordens e Congregações Franciscanas, encontramos um profundo elo entre todas, fundadas no carisma de São Francisco e Santa Clara, que muitos chamam de carisma fracisclariano.

Entrevista publicada no Jornal Testemunho de Fé,
da Arquidiocese do Rio de Janeiro