quinta-feira, 3 de outubro de 2013

FRANCISCO DE ASSIS: HOMEM LIVRE!

Frei Nilo Agostini, ofm

São Francisco revela-se surpreendente no modo de viver a liberdade. Não foi um teórico da liberdade. Antes, viveu-a. Sua biografia é a de um homem livre. Sua grandeza provém de uma personalidade integrada e de uma liberdade humanizante e criadora. Tal liberdade é, antes, fruto de uma libertação de tudo o que poderia entorpecer e obstaculizar o seu projeto de vida.

Em Francisco encontramos uma liberdade que é soberana. Por isso, as instituições, com sua tendência a tudo determinar, enquadrar, codificando a vida nos mínimos detalhes, têm no poverello de Assis alguém capaz de ater-se mais ao carisma, mais à espiritualidade que às regras, às leis. Para ele, bastava um mínimo de controle e importava um máximo de expansão espiritual. A sua regra de vida não é senão um convite a galgar os mais altos graus de liberdade. Não temia a lei e a norma; era-lhes até fiel, sem ser escravo. “Conseguiu ser espontâneo, sem cair na arbitrariedade e na anarquia, na mediocridade e na superficialidade” (1).

Frei José Antonio Merino, em seu belo livro Visión franciscana de la vida cotidiana, retrata com acerto o itinerário de conquista da liberdade em Francisco, ao escrever:

“Francisco foi singularmente livre. Porém adquiriu uma exemplar liberdade através de um doloroso e difícil processo de libertação. Libertou-se das forças caprichosas dos próprios instintos, libertou-se da vaidade de ser um personagem importante na sociedade, libertou-se de um amor possessivo e apaixonado carnalmente, libertou-se do particularismo da própria família, libertou-se das paixões paralisantes, libertou-se das formas convencionais da sociedade de seu tempo, libertou-se de coisas e de casas, libertou-se das formas rotineiras da vida religiosa de então, libertou-se de estruturas e de instituições convencionais, libertou-se de pertencer a uma única classe social, libertou-se das formas tradicionais de dirigir-se a Deus, libertou-se da grande tristeza, libertou-se do antagonismo entre alma e corpo e inclusive libertou-se do medo da morte” (2).

O comportamento de Francisco é revelador de uma força e flexibilidade de caráter (3). Intrépido “idealista”, de temperamento afetivo e espírito de intuição, duríssimo se necessário: isto é Francisco! Encontramos nele “a convergência de duas características aparentemente contraditórias, mas que não se excluem mutuamente: a ‘firmeza’ na indicação do próprio ideal e a ‘flexibilidade’ em torná-lo possível nas circunstâncias concretas sem nunca desvirtuar seus elementos constitutivos fundamentais” (4). Podemos compreender, assim, que Francisco tenha se pautado por uma grande liberdade na busca da forma própria de vida evangélica que “o Altíssimo mesmo lhe revelara que deveria viver” (5). Isto causou certo espanto nas autoridades eclesiásticas de então, para quem Francisco deveria assumir “caminhos mais fáceis” (6).

Citações:
1. KOSER, C., Vida com Deus no mundo de hoje, Petrópolis, Ed. Vozes, 1971, p. 113.
2. MERINO, J. A., Visión franciscana de la vida, Madrid: Ed. Paulinas, 1991, p. 101-102.
3. Cf. ZAVALLONI, R., A personalidade de Francisco de Assis - Estudo psicológico, Petrópolis, CEFEPAL, 1993, p. 20ss.
4. Ibidem, p. 22. Cf. MANSELLI, R., São Francisco, Petrópolis, Ed. Vozes/FFB, 1997, p. 238ss.
5. SÃO FRANCISCO DE ASSIS, Testamento, nº 14, em: FONTES FRANCISCANAS, Escritos e biografias de São Francisco de Assis - Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano, Petrópolis, Ed. Vozes, 1988, p. 168.
6. Cf. CELANO, T., Vida I, nº 33, em: FONTES FRANCISCANAS, op. cit., p. 201.

Um comentário:

Anônimo disse...

Francisco compreendeu o que precisava fazer para ser o "alter Christus". Assim conquistou a verdadeira liberdade.