Frei Nilo Agostini
Vivemos uma “mudança de época”. Ela
é portadora de chances e desafios. Estamos vivendo a emergência de um novo
modelo de sociedade, fundado numa cultura que se refaz constantemente; esta vem
marcada por uma série de características que se aliam, tais como: a
"intelectualização", a "criatividade", a
"flexibilização", a "emotividade", a
"subjetividade". Se a razão triunfou na sociedade industrial e
moderna, hoje emerge com força a esfera emotiva e subjetiva. Está em crise a
sociedade focada exclusivamente no trabalho, no mercado e na competitividade.
Como alternativa, um modelo centrado em outras premissas está em gestação. É a
hora de nos situarmos devidamente ante o novo; este não só bate às nossas
portas, mas já se aninha em nós mesmos.
Redimensionam-se os valores vitais
e os eixos básicos da vida humana. O novo irrompe por todos os lados. Já não é
mais possível encobrir seus “sinais”, nem passar ao largo, num “faz de conta”
que não vimos.
Esta é uma época cheia de chances e
oportunidades. É hora de saber reconhecer o que é bom, encorajar o que constrói a
vida, aliando novas tecnologias, disposição de dialogar e de escutar, com o
componente experiencial, superando o estritamente teórico. Hoje,
quer-se provar, saborear mais do que teorizar e acumular saberes. Em meio a
isso, surge o desafio de promover uma cultura que de novo dê sentido à vida e à
história, buscando a humanização, sem perder o dinamismo e a criatividade. Há
algumas décadas, vem se impondo o ideal da qualidade
de vida, que não é tanto “ter mais”; carregado de um novo ideal de vida,
esta prima pelo qualitativo, estético, emocional e cultural. Há uma busca de
estetização do mundo. A alta tecnologia vem, cada vez mais, recebendo um toque
estético. Importa criar ambientes agradáveis, belos de se viver, mais
conviviais e hospitaleiros, numa cultura do bem-estar e da estética.
Cultivar a
imaginação, viver na diversidade, cuidar do meio ambiente, buscando civilizar a
cultura-mundo: eis o desafio! Precisamos engenhosamente aliar tecnociência e
política em vista de uma solidariedade global. “Trata-se de investir de forma
maciça nas tecnologias limpas, economizar energia, taxar cada vez mais
pesadamente as indústrias poluentes, modificar os hábitos de consumo, criar um
ecodesenvolvimento”[1].
Assistimos, em nossos dias, ao crescimento da solidariedade, à busca por
intercâmbios, à aspiração por uma cultura da paz. Apresenta-se o desafio de
edificar uma sociedade aberta e multicultural, com justiça social.
Cresce a consciência, em nossos
dias, de que as responsabilidades ante os desafios modernos e pós-modernos
devem ser partilhadas. Antes de condenar, temos que compreender. Isto supõe
conhecer as realidades ou ao menos acompanhá-las em sua complexidade,
diversidade e rápida mutação. Em vez de ficar repassando as responsabilidades
aos outros, convém assumi-las nós mesmos. Precisamos passar do tempo da
diabolização para o tempo da responsabilização individual e coletiva, o que implica
numa abertura de espírito, numa capacidade permanente de diálogo e num lastro
ético indispensável.
Não podemos passar ao largo de um
novo sopro ético emergente em nossos dias. Toda iniciativa ou empreendimento
não poderá mais carecer de uma responsabilidade social e terá que ser
ecologicamente limpo. Isto se traduz, sem dúvida, no cultivo de uma “tarefa
interna”, de uma “intimidade moral”, indicando o florescer de um novo sopro
ético, numa revitalização da exigência ética em nossas vidas, em nossas
comunidades e no todo da sociedade. Não podemos pensar este processo nos
refugiando num passado que não mais existe; é necessário encarar, com especial
disposição, um novo diálogo com os interlocutores destes tempos novos, buscando
habilitar desde dentro o ser humano a dar respostas à altura dos novos
desafios.
Fonte: Este texto foi extraído de:
AGOSTINI, Nilo. Cambios de época: oportunidades y desafíos. In: CARRERO, Ángel (coord.). Franciscanesimo e contemporaneità: Ripensare l'evangelizzazione francescana di fronte alle sfide della cultura attuale. Atti dei convegni 11-13 luglio 2012 e 29-31 gennaio 2013, Roma: Ordine Frati Minori, 2014, p. 111-120.
[1]
LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A
cultura-mundo: Reposta a uma sociedade desorientada. São Paulo: Companhia
das Letras, 2011, p. 185.
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