sábado, 21 de maio de 2016

SANTÍSSIMA TRINDADE: A FORÇA DO AMOR!

Deus, na interpenetração e intercomunicação das pessoas divinas, torna-se fonte e expressão da mais vívida comunidade . Sem se anularem, os Três convergem um para o outro na força do amor que os pervade, gerando a comunhão em relações sempre ternárias, num ser Pessoa com as outras Pessoas e nas outras Pessoas, sem se reduzir uma às outras. Há uma unicidade e uma irredutibilidade de uma para com as outras Pessoas, base para a comunhão, a reciprocidade e a mútua revelação. “O todo da Trindade não elimina a peculiaridade ternária e esta não descaracteriza o todo. Ambas as dimensões se enriquecem porque usufruem mútua e plenamente das relações todas em ativa comunhão” (1).
A Trindade, por sua vez, não é uma comunidade fechada em si mesma. Expande-se em todo o criado e, de maneira especial, a pessoa humana é chamada a ser participante desta comunhão transbordante. Vejamos a oração sacerdotal de Jesus: “Que todos sejam um, ó Pai, como tu estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). O Deus Uno-Trino é o modelo proposto, o protótipo, por analogia e não por identificação, da verdadeira comunidade humana, fundamento de toda sociabilidade. E o ser humano, criado à imagem de Deus, sente-se chamado a viver esta comunhão. Tem no encontro do masculino e do feminino e na relação entre pais e filhos o primeiro e principal triângulo antropológico, no qual a pessoa é solicitada na sua globalidade para uma comunhão, que é à imagem de Deus. Aí está “o modelo da u-topia que aproxima a história das pessoas humanas à realidade de Deus” (2).
Notas:
1. RIBEIRO, Hélcion, A condição humana e a solidariedade cristã, Petrópolis, Editora Vozes, 1998, p. 89.
2. Ibidem, p. 94.
Extrato do livro de AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à vida. 3ª edição. 1ª reimpressão, Petrópolis: Vozes, 2016, p. 111-112

sábado, 14 de maio de 2016

O ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO

Extraído do livro: AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à vida. 3ª edição, 1ª reimpressão. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 84-86.

            Jesus Cristo, uma vez exaltado aos céus, promete enviar um “outro Paráclito” (Jo 14,16; cf. Jo 7,39;16,7). Segundo esta promessa, três funções cabem a este “advogado” ou “intercessor” junto de Deus em favor dos homens: a) ensinar; b) testemunhar; c) revelar e julgar o pecado. Os textos, que se referem ao Paraklètos e suas funções, são assim reunidos:

·         “O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26). “Quando vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras” (Jo 16,13).

·         “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da Verdade, que vem do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o começo” (Jo 15,26-27).

·         “E quando ele vier, estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento; do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai e não me vereis; do julgamento, porque o Príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16,8-11).

Estudos das perícopes acima apontam que a plenitude da verdade, à qual deve conduzir o Espírito, é o Cristo ele mesmo, Ele que realizou, como fiel e justo, as promessas de Deus (cf. 1Jo 1,9). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). “O Espírito conduz para dentro de Cristo”[1]. “A noção joanina de verdade se define em primeiro lugar, em São João, pela realidade do Cristo, que é a revelação definitiva de Deus”[2].

O Espírito dará testemunho de Cristo no sentido de defensor de Cristo e de confirmar os discípulos e todos os seguidores na certeza e na fidelidade ao Cristo contra toda rejeição e inveja “do mundo”, sobretudo quando a fé está sendo provada. “Faz-se necessário insistir, antes de tudo, no aspecto interior deste testemunho do Paráclito: seu papel será de esclarecer a consciência dos apóstolos em meio às adversidades, de confirmá-los na sua fé”[3]. E existe um testemunho a ser dado de Jesus pelos apóstolos e por todos os seus seguidores. “É o Espírito que, através da fidelidade dos que crêem, testemunha da verdade do Cristo face ao mundo”[4].

Enquanto testemunho de Cristo, a ação do Paráclito estabelecerá, como que numa demonstração, na própria consciência dos apóstolos, a culpabilidade do mundo e a causa justa de Jesus, incorporando-os à vitória de Jesus, ao mesmo tempo que julga o mundo incrédulo e perseguidor (cf. Jo 16,33; 1Jo 5,5). Porém, isto será feito para que o mundo se convença do seu pecado que é o de não crer em Jesus e de não confessar que ele vem do Pai. Enfim, o “mundo” é culpado por rejeitar o enviado do Pai, seu próprio Filho.

            Vimos como o Espírito é o princípio e a força do testemunho cristão, confirmando aquele que é fiel e conferindo-lhe uma identidade clara diante das dificuldades que possa vir a encontrar. Mesmo assim, o dinamismo do Espírito não se esgota aí. Ele é o sinal de que Deus se engajou a nosso favor, trazendo-nos vida plena. Isto significa que “o Espírito testemunha, na vida presente, que somos ‘pela fé, filhos de Deus’ (Gl 3,26). É sob a direção do Espírito, comunicado aos que crêem, que torna-se efetiva a caminhada que, na escatologia final, completar-se-á na sua assimilação perfeita ao Cristo, Filho de Deus, e na participação da sua glória”[5].




[1] FEUILLET, A., Le mystère de l´amour divin dans la théologie johanique, Paris, Gabalda, 1972, p. 65.
[2] BUSSCHE, H. Van den, Le discours d´addieu de Jésus, Tournai, Casterman, 1959, p. 67.
[3] LA POTTERIE, I. de, Le paraclet, in LA POTTERIE, I. de; LYONNET, S., La vie selon l´Esprit, condition du Chrétien, Paris, Cerf, 1965, p. 99.
[4] WATTIAUX, Henri, Engagement de Dieu et fidélité du chrétien: Perspectives pour une théologie morale fundamentale, col. Lex Spiritus Vitae n° 3, Louvain-la-Neuve, Université Catholique/Centre Cerfaux – Lefort, 1979, p. 153.
[5] Ibidem, p. 154.