Extraído do livro: AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à vida. 3ª edição, 1ª reimpressão. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 84-86.
Jesus Cristo, uma vez exaltado aos
céus, promete enviar um “outro Paráclito” (Jo 14,16; cf. Jo 7,39;16,7). Segundo
esta promessa, três funções cabem a este “advogado” ou “intercessor” junto de
Deus em favor dos homens: a) ensinar; b) testemunhar; c) revelar e julgar o
pecado. Os textos, que se referem ao Paraklètos
e suas funções, são assim reunidos:
·
“O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai
enviará em meu nome, vos ensinará
tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26). “Quando vier o
Espírito da verdade, ele vos conduzirá
à verdade plena, pois não falará de
si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras”
(Jo 16,13).
·
“Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de
junto do Pai, o Espírito da Verdade, que vem do Pai, ele dará testemunho de mim. E vós também dareis testemunho, porque
estais comigo desde o começo” (Jo 15,26-27).
·
“E quando ele vier, estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento; do pecado,
porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai e não me vereis; do
julgamento, porque o Príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16,8-11).
Estudos das perícopes acima apontam que a plenitude da verdade, à qual deve conduzir o Espírito, é o Cristo
ele mesmo, Ele que realizou, como fiel e justo, as promessas de Deus (cf. 1Jo
1,9). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”
(Jo 14,6). “O Espírito conduz para dentro de Cristo”[1].
“A noção joanina de verdade se define em primeiro lugar, em São João , pela realidade
do Cristo, que é a revelação definitiva de Deus”[2].
O Espírito dará testemunho de
Cristo no sentido de defensor de Cristo e de confirmar os discípulos e
todos os seguidores na certeza e na fidelidade ao Cristo contra toda rejeição e
inveja “do mundo”, sobretudo quando a fé está sendo provada. “Faz-se necessário
insistir, antes de tudo, no aspecto interior deste testemunho do Paráclito: seu
papel será de esclarecer a consciência dos apóstolos em meio às adversidades,
de confirmá-los na sua fé”[3]. E
existe um testemunho a ser dado de Jesus pelos apóstolos e por todos os seus
seguidores. “É o Espírito que, através da fidelidade dos que crêem, testemunha
da verdade do Cristo face ao mundo”[4].
Enquanto testemunho de Cristo, a ação do Paráclito estabelecerá, como que
numa demonstração, na própria consciência dos apóstolos, a culpabilidade do
mundo e a causa justa de Jesus, incorporando-os à vitória de Jesus, ao mesmo
tempo que julga o mundo incrédulo e perseguidor (cf. Jo 16,33; 1Jo 5,5). Porém,
isto será feito para que o mundo se convença do seu pecado que é o de não crer
em Jesus e de não confessar que ele vem do Pai. Enfim, o “mundo” é culpado por rejeitar
o enviado do Pai, seu próprio Filho.
Vimos como o Espírito é o princípio
e a força do testemunho cristão, confirmando aquele que é fiel e conferindo-lhe
uma identidade clara diante das dificuldades que possa vir a encontrar. Mesmo
assim, o dinamismo do Espírito não se esgota aí. Ele é o sinal de que Deus se
engajou a nosso favor, trazendo-nos vida plena. Isto significa que “o Espírito
testemunha, na vida presente, que somos ‘pela fé, filhos de Deus’ (Gl 3,26). É
sob a direção do Espírito, comunicado aos que crêem, que torna-se efetiva a
caminhada que, na escatologia final, completar-se-á na sua assimilação perfeita
ao Cristo, Filho de Deus, e na participação da sua glória”[5].
[1]
FEUILLET, A., Le mystère de l´amour divin
dans la théologie johanique, Paris, Gabalda, 1972, p. 65.
[2]
BUSSCHE, H. Van den, Le discours d´addieu
de Jésus, Tournai, Casterman, 1959, p. 67.
[3] LA POTTERIE , I. de, Le
paraclet, in LA POTTERIE ,
I. de; LYONNET, S., La vie selon l´Esprit,
condition du Chrétien, Paris, Cerf, 1965, p. 99.
[4]
WATTIAUX, Henri, Engagement de Dieu et fidélité du chrétien:
Perspectives pour une théologie morale fundamentale, col. Lex Spiritus Vitae n° 3, Louvain-la-Neuve,
Université Catholique/Centre Cerfaux – Lefort, 1979, p. 153.
[5] Ibidem, p. 154.
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