quinta-feira, 15 de junho de 2017

CORPUS CHRISTI: REFLEXÃO DO PAPA FRANCISCO

“O Senhor, teu Deus, (…) te alimentou com o maná, que tu não conhecias” (Dt 8,3).
Estas palavras de Moisés fazem referência à história de Israel, que Deus fez sair do Egito, da condição de escravidão, e por quarenta anos o guiou no deserto para a terra prometida. Uma vez estabelecido na terra, o povo eleito atingiu uma autonomia, um bem-estar, e correu o risco de esquecer as tristes vicissitudes do passado, superadas graças à intervenção de Deus e à sua infinita bondade. Então as Escrituras exortam a recordar, a fazer memória de todo o caminho feito no deserto, no tempo da penúria e do desconforto. O convite de Moisés é o de voltar ao essencial, à experiência de total dependência de Deus, quando a sobrevivência foi colocada em suas mãos, para que o homem compreendesse que “não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca do Senhor” (Dt 8,3).
Além da fome material o homem leva consigo outra fome, uma fome que não pode ser saciada com comida comum. É a fome de vida, fome de amor, fome de eternidade. O sinal do maná – como toda experiência do êxodo – continha em si também esta dimensão: era figura de uma comida que sacia esta fome mais profunda que existe no homem. Jesus nos dá este alimento, assim, é Ele mesmo o pão vivo que dá vida ao mundo. Seu Corpo é verdadeira comida sob a espécie de pão; seu Sangue é verdadeira bebida sob a espécie de vinho. Não é um simples alimento com o qual sacia nossos corpos, como o maná; o Corpo de Cristo é o pão dos últimos tempos, capaz de dar vida, e vida eterna, porque a substancia deste pão é Amor.
Na Eucaristia se comunica o amor do Senhor por nós: um amor tão grande que nos nutre com Si mesmo; um amor gratuito, sempre à disposição de todos os famintos e necessitados de restaurar as próprias forças. Viver a experiência da fé significa deixar-se alimentar pelo Senhor e construir a própria existência não sobre bens materiais, mas sobre a realidade que não perece: os dons de Deus, sua Palavra e seu Corpo.
Se olharmos ao nosso redor, daremos conta de que existem tantas ofertas de alimento que não vem do Senhor e que aparentemente satisfazem mais. Alguns se nutrem com o dinheiro, outros com o sucesso e com a vaidade, outros com o poder e com o orgulho. Mas a comida que nos alimenta verdadeiramente e que nos sacia é somente aquela que nos dá o Senhor! O alimento que nos oferece o Senhor é diferente dos outros e talvez não nos pareça assim saboroso como certas iguarias que nos oferecem o mundo. Agora sonhamos com outros alimentos, como os hebreus no deserto que choravam a carne e as cebolas que comiam no Egito, mas esqueciam que aqueles alimentos eram comidos na mesa da escravidão. Eles, naqueles momentos de tentação, tinham memória, mas uma memória doente, uma memória seletiva.
Cada um de nós, hoje, pode se perguntar: e eu? Onde quero comer? Em que mesa quero me alimentar? Na mesa do Senhor? Desejo comer comidas gostosas, mas na escravidão? Qual é minha memória? Aquela do Senhor que me salva ou a do alho e das cebolas da escravidão? Com que lembrança eu satisfaço minha alma?
O Pai nos diz: “Te alimentei com o maná que tu não conhecias”. Recuperemos a memória e aprendamos a reconhecer o pão falso que ilude e corrompe, porque fruto do egoísmo, da auto-suficiência e do pecado.
Daqui a pouco, na procissão, seguiremos Jesus realmente presente na Eucaristia. A Hóstia é nosso maná, mediante o qual o Senhor nos dá a si mesmo. A Ele nos dirigimos com fé: Jesus, defende-nos das tentações do alimento mundano que nos faz escravos; purifica nossa memória, para que não se torne prisioneira da seletividade egoísta e mundana, mas seja memória viva da tua presença ao longo da história do teu povo, memória que faz “memorial” do teu gesto de amor redentor. Amém.

terça-feira, 13 de junho de 2017

SANTO ANTÔNIO E A DOAÇÃO DE SI MESMO

Não é amor a busca de si, mas a doação de si

“Hoje se fala tanto de maturidade humana como um estilo de vida, um modo de ser que faz o homem capaz de cumprir com serenidade e com satisfação a própria missão, sem perder o equilíbrio diante de dificuldades, mesmo graves, que se encontram no decorrer da vida. Entende-se que o homem é um “ser para”. Ele possui uma personalidade harmoniosa na medida em que sabe viver pelos outros e com os outros”(Dom Alberto Taveira Corrêa).

Santo Antônio: Sua vida fez-se dedicação completa, numa doação de si mesmo. Ele não brincava de religião. Ele não usava Deus como um talismã. Ele se deixava atrair por Deus e se consumia na graça de Deus, transformando-se a fim de dedicar sua vida, sem reservas, ao amor de Deus que o animava. Santo Antônio se transcendia a cada dia; era homem de superação. Mesmo com saúde frágil, ei-lo pronto, disposto a qualquer sacrifício. Exigia o melhor de si mesmo e se dispunha inteiro na doação de si para o Reino de Deus.

Para Santo Antônio, nada é demais quando nos sentimos atraídos por Deus e animados ante a proposta de Cristo. Ele fez de sua vida uma doação completa. Santo Antônio é exemplo de dedicação. “Sua própria vida era oferecida como uma oferta suave a Deus. Nele, um dos maiores milagres aconteceu; a vela, por mais que queimasse, não se consumia. Realizava-se nele uma das maiores lições que precisamos aprender: não precisamos nos economizar para Deus e para o serviço dos outros. Aqui, a lógica é diferente, isto é, quanto mais nos gastamos, mais crescemos. É o milagre da multiplicação, não de pães e peixes, mas de vidas que se dispõem a servir. Imagino o que aconteceria se cada um de nós se dedicasse a Jesus Cristo da mesma maneira e com a mesma intensidade de Antônio. Muitos poderiam intervir e acrescentar: mas era um santo. No entanto, não podemos nos esquecer de que, antes de ser santo, ele era, de fato e de verdade, um discípulo e missionário de Jesus Cristo”, numa doação total de si. (ROSSI, Luiz A. S. Nos passos de Santo Antônio. São Paulo: Paulus).

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24).

Ele não se limitava somente às palavras. Empenhava-se, concretamente, em favor dos pobres, lutando contra as leis dos poderosos de Pádua, opondo-se aos tiranos da Itália. Mesmo com a saúde debilitada por causa de uma doença que o dificultava a ficar em pé, não recusava a nenhum pedido de ajuda, mesmo que isso lhe custasse a vida.

"Através de Santo Antônio, Nosso Senhor está convidando continuamente os cristãos a pensarem no bem do próximo, a amarem o próximo como a si mesmos e a darem uma atenção especial ao necessitado, ao pobre. O cristão celebra a própria vocação de poder imitar a dadivosidade e a generosidade de Deus criador e de Jesus Cristo, pois como diz Jesus: 'Recebestes de graça, de graça dai' (Mt 10,8). É uma graça poder dar. poder partilhar. Dar de graça, ser generoso, pensar no bem comum, no bem do próximo, promover a vida do próximo, eis o mistério revelado no símbolo do pão de Santo António. Não se dá apenas uma esmola. Podemos e devemos dar o trabalho, o tempo, a atenção, o perdão, a seriedade e a honestidade em nossa ação profissional que vale muito mais do que o dinheiro" (Frei Alberto Beckhäuser).

sábado, 3 de junho de 2017

A VIDA ANIMADA PELO ESPÍRITO SANTO

1. O Espírito em ação!
“A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). “O amor de Deus se derramou em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5,5). Com estes textos, podemos traduzir as virtudes como a força de Deus, derramada pelo seu Espírito. Esta comunicação da força de Deus faz com que o ser virtuoso, que define o ser cristão, possa ser identificado como viver segundo o Espírito. Portanto, nas virtudes está em ação o dinamismo do Espírito Santo. Não cabe a nós querermos controlar a sua ação. Igualmente, não há como ficar de braços cruzados ante o seu sopro. O cristão virtuoso sente-se, portanto, impulsionado a viver como Jesus e a ir na direção que o Espírito indicar.

2. Verdade, justiça, honestidade
A verdade, a justiça e a honestidade devem sempre acompanhar nossas vidas. Precisam ser escritas no próprio coração. Na crise ética de hoje, nem sempre se vive assim. Há muita mentira, injustiça, corrupção, roubalheira e abuso de poder. Falta ética; falta moral. Encontramos pessoas que até acham que isso é normal. Quando isto acontece, é sinal de que a consciência está ficando deformada, acostumando-se com o erro, a mentira, enfim a maldade. É muito grave. O cristão, que vive a fé, busca sempre o bem e a verdade; quer um mundo justo para todos e cultiva a honestidade. Sabe que tudo isto é precioso aos olhos de Deus.

3. Cristão não vive de braços cruzados
Um cristão e uma cristã virtuosos não ficam só olhando de fora a vida acontecer; não ficam isolados. Participam! Estão presentes na família, participam da comunidade, se interessam pela sociedade. Buscam gerar vida nova, no vigor da prática. Semeiam a justiça para colher a paz. Cultivam a honestidade para superar a corrupção. São fraternos e vivem a comunidade. Sentem-se responsáveis para com suas famílias. Estendem a mão ao necessitado. Lutam por uma sociedade justa. Querem uma política que cuide do que é de todos e não vire roubalheira. Sentem que Deus nos chama a sermos seus colaboradores na construção deste mundo.

4. Ser um cristão virtuoso

O cristão virtuoso participa do combate de Deus contra as forças do mal (cf. Ef 6,10-12). Segundo nos diz São Paulo (cf. Ef 6,13-17), o cristão participa deste combate com “a armadura de Deus”, cinge-se com “o cinturão da verdade”, reveste-se com “a couraça da justiça”, sempre pronto a “anunciar a boa-nova da paz”, protegendo-se a todo tempo com “o escudo da fé”, tomando “o capacete da salvação” e empunhando “espada do espírito, que é a palavra de Deus”. Neste combate, ele é chamado a cultivar as virtudes morais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) e a viver as virtudes teologais (fé, esperança e caridade).