terça-feira, 22 de outubro de 2019

ENTREVISTA SOBRE O LIVRO "OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A PARTIR DE PAULO FREIRE E WALTER BENJAMIN" DE NILO AGOSTINI

Entrevista concedida à jornalista Natália França, da Coordenação Nacional de Vendas da Editora Vozes Ltda, por ocasião do lançamento do livro Os desafios da educação a partir de Paulo Freire e Walter Benjamin. Autor: Nilo Agostini. Editora Vozes, 2019.

1) Como surgiu a ideia de escrever o livro?

A ideia do livro surgiu quando participei do Congresso Internacional de Teoria Crítica, sediado na Universidade Federal de São Carlos, em 2016. O Prof. Michael Löwy, Diretor emérito de pesquisas do CéSor (Centre d'études en sciences sociales du religieux), da EHESS – CNRS (École des hautes études en sciences sociales - Centre national de la recherche scientifique), Paris, França, também estava presente no evento. Segui com muita atenção a exposição do Prof. Löwy sobre Walter Benjamin. Ao final, fiz-lhe em público uma pergunta sobre a convergência deste pensamento com o de Paulo Freire, ao que ele respondeu não saber responder, mas disse que seria um bom tema para um pós-doutorado. Desfeita a mesa, fui falar com ele no sentido dele me acompanhar neste pós-doc, sendo positiva a sua resposta.

Portanto, o presente livro é resultado de meu pós-doutorado em Educação. Após ver as possibilidades de realizar o meu pós-doc, decidi fazê-lo na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com estágio na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS). Iniciei o pós-doc na UFSCar em agosto de 2017, onde participei ativamente do segundo semestre letivo, tanto em sala de aula como nas atividades de pesquisa, sob a supervisão do Prof. Luiz Roberto Gomes, do Departamento de Educação de do PPGE - UFSCar. O estágio na EHESS (École des hautes études en sciences sociales) iniciou em meados de fevereiro de 2018 e se encerrou no final de junho seguinte, sob a supervisão do Prof. Michael Löwy.

2) Qual a proposta da obra?

A presente obra busca traçar as convergências e as transversalidades do pensamento e respectiva práxis de Paulo Freire e de Walter Benjamin. Ela é um "grito de alerta" sobre a condição humana, especialmente ante o processo de desumanização hoje em curso, especialmente dos pobres, as vítimas da sociedade, tendo presente o processo de "semiformação". Por meio de uma investigação teórico-conceitual, busca entrever caminhos que apontem para uma transformação "criadora de vida" (expressão de Paulo Freire). Elementos constitutivos da Teoria Crítica da Sociedade se juntam aqui e impulsionam esta obra, em especial o comportamento crítico e a orientação para a emancipação.

3) É um livro abrangente? Para quem os textos são voltados?

Sim, é um livro abrangente, mas atrai de imediato a atenção dos Programas de Pós-graduação stricto sensu em Educação de nossas Universidades, bem como dos Cursos de Graduação de Pedagogia e afins que buscam uma leitura crítica da sociedade no viés destes dois Autores. Igualmente, o texto é capaz de levar informação e alimentar a visão de um universo amplo de leitores, sempre que buscarem respostas a altura dos desafios de nosso tempo, no sentido da humanização, da emancipação, aguçando a criticidade na problematização de nosso mundo e alimentando a esperança de livrar a humanidade da catástrofe e fomentar uma humanidade "criadora de vida".

4) O que o leitor pode esperar deste livro?

O leitor pode esperar deste livro um mergulho na vasta obra de Walter Benjamin e Paulo Freire, proporcionando conhecimento e aguçando a criticidade ante a fissura social existente em nossa sociedade e ante as investidas fascistas que danificam o tecido social. E, em meio a uma indústria cultural que dissemina a semiformação, preferindo um espírito alienado e adestrado, o leitor encontrará neste livro um grito de alerta para empenharmos os melhores esforços em favor de uma educação crítica e emancipadora, no sentido da autonomia do ser humano. Cabe exorcizar a barbárie, o horror da servidão, perpetradas pela conformação das consciências. Cabe romper a continuidade da opressão e investir na educação como ruptura emancipadora e, pelo diálogo, realizar uma inserção lúcida na realidade histórica, captando suas contradições e, de forma crítica, "libertar o futuro de sua forma presente desfigurada" (Walter Benjamin). Benjamin e Freire apostam numa revolução "criadora de vida", "biófila", engajados no "caminho do amor" (Paulo Freire), por "uma vida mais elevada", preservando o "espírito criador", numa "reconstrução integral", enquanto membros de uma "comunidade de criadores que atua através do amor" (Walter Benjamin), sem que nos ajustemos a reboque ou de maneira mecanicista à sociedade liberal e sua "tendência burguesa, indisciplinada e mesquinha" (Walter Benjamin).

5) Em que esta obra se difere das outras publicações de sua autoria?

Esta publicação foi escrita mais no âmbito da educação, enquanto outras foram desenvolvidas no ambiente mais teológico, com destaque para a ética e a moral. Porém, em praticamente todas, há um espírito crítico que alimenta as análises e a busca de horizontes práticos. A obra atual é, em parte, devedora à tese de doutorado, publicada em 1990, sob o título "Nova evangelização e opção comunitária: Conscientização e movimentos populares" (Editora Vozes), para a qual eu já havia estudado a obra de Paulo Freire.

Nilo Agostinipós-doutor em Educação e doutor em Teologia. Professor pesquisador do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Educação da Universidade São Francisco (USF).

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

FREI NILO AGOSTINI PUBLICA DOIS NOVOS LIVROS

Aos 30 anos de seu doutorado em Teologia, defendido na Universidade de Ciências Humanas de Strasbourg, França, Frei Nilo lança mais um livro em Teologia intitulado Moral Fundamental, pela Editora Vozes. Este livro faz parte da coleção Iniciação à Teologia. Veja a descrição da obra:
O atual contexto histórico-social passa por grandes transformações. Enquanto pessoas de fé, nossa missão de cristãos é a de acompanhar atentamente as mudanças em curso e buscar respostas à altura dos desafios de nosso tempo. Apresenta-se o desafio de formar sujeitos éticos, capazes de identificar os engajamentos morais nos níveis pessoal e social. Este livro leva-nos a conhecer a riqueza que brota de nossas raízes cristãs, tão bem guardadas e cultivadas pela Igreja Católica, segundo a experiência percorrida e vivenciada a partir do Concílio Vaticano II. Traça uma fundamentação bíblico-teológica consistente, buscando captar o convite de Deus, acolher a proposta de Jesus Cristo e viver na força do Espírito Santo. Estabelece uma visão integral do ser humano, inclui a natureza, enfatiza o lugar da consciência moral e move-nos em favor da vida.
Frei Nilo lança, ao mesmo tempo, um livro na área da Educação, fruto de seu pós-doutorado feito na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com estágio na Escola de Altos Estudos de Paris (Sorbonne), no segundo semestre de 2017 e primeiro semestre de 2018. Descrição da obra:
Esta obra recolhe os desafios apresentados por Paulo Freire e Walter Benjamin à educação. Seguindo o legado deixado por ambos, assume um olhar crítico em meio às contradições de nossa sociedade. Isso representa “escovar a história a contrapelo”, segundo Benjamin, e uma história escrita a partir dos “esfarrapados do mundo” ou “demitidos da vida”, segundo Freire. A partir de uma acurada pesquisa biobibliográfica, traça os eixos em torno dos quais condensa a contribuição dos autores estudados. Apresenta a história a partir dos vencidos e demitidos da vida; estuda a religião em Benjamin e Freire; identifica a apropriação que ambos fizeram do marxismo e do materialismo histórico; e decifra a contribuição dos autores para o campo da educação.
Frei Nilo Agostini é professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu da Universidade São Francisco (USF), membro do Comitê de Ética em Pesquisa da mesma Universidade, líder do grupo de pesquisa “Educação e Ética: aproximações, convergências, transversalidades” e vice-líder do grupo de pesquisa “TCTCLAE – Teoria Crítica e Teorias Críticas Latino-Americanas e Educação”. Distingue-se por sua produção também de artigos científicos em revistas com Qualis A1 e A2, entre outras.


domingo, 6 de outubro de 2019

O PAPA FRANCISCO ABRE O SÍNODO: por e com os irmãos na Amazônia, caminhemos juntos


“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”, disse o Papa Francisco na missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, celebrada na manhã deste domingo (06/10) na Basílica de São Pedro.

Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“Reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada. E ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazônia, para que não se apague o fogo da missão.”
Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada na manhã deste domingo (06/10) na Basílica de São Pedro, na abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, evento eclesial que se realizará no Vaticano até o dia 27 deste mês, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
No início da celebração, a longa procissão de entrada com os 185 padres sinodais, 58 do Brasil. Na assembleia, também representantes de comunidades indígenas. A Eucaristia foi concelebrada com os treze novos cardeais, criados no Consistório presidido pelo Santo Padre no sábado à tarde.

Fazer Sínodo, caminhar juntos
Dirigindo-se aos padres sinodais, bispos provenientes não só da região Pan-Amazônica, mas também de outras regiões, Francisco, referindo-se à segunda carta de São Paulo a Timóteo proposta nesta liturgia do XXVII Domingo do Tempo Comum, ressaltou que o apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a ‘fazer Sínodo’, a ‘caminhar juntos’; e que “parece dirigido a nós, Pastores ao serviço do povo de Deus, aquilo que escreve a Timóteo”, observou.
Recebemos um dom, para sermos dom, disse o Pontífice, acrescentando:
“Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se de prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de Pastores a funcionários: fazemos do dom uma função, e desaparece a gratuidade; assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja.”
A nossa vida, dom recebido, é para servir, continuou. “Colocamos toda a nossa alegria em servir, porque fomos servidos por Deus: fez-Se nosso servo. Queridos irmãos, sintamo-nos chamados aqui para servir, colocando no centro o dom de Deus”, exortou Francisco.

Dom que recebemos é amor ardente a Deus e aos irmãos
Para sermos fiéis a este chamado, à nossa missão, enfatizou, “São Paulo lembra-nos que o dom deve ser reaceso. O verbo usado é fascinante: reacender é, literalmente, ‘dar vida a uma fogueira’”, explicou o Papa. “O dom que recebemos é um fogo, é amor ardente a Deus e aos irmãos. O fogo não se alimenta sozinho; morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir.”

Passar da pastoral de manutenção a uma pastoral missionária
Em seguida, o Pontífice fez uma premente exortação aos Pastores a serviço do povo de Deus:
“A Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial. Jesus veio trazer à terra, não a brisa da tarde, mas o fogo. O fogo que reacende o dom é o Espírito Santo, doador dos dons.”

Deus nos preserve da ganância de novos colonialismos
O fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome). É fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida; não fogo que alastra e devora. “Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos.”
“O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.”
Francisco exortou a reacender o dom; receber a prudência audaciosa do Espírito, fiéis à sua novidade, acrescentando que o anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja.

Irmãos amazônicos aguardam consolação do Evangelho
Convidando a olhar juntos para Jesus Crucificado, para o seu coração aberto por nós, o Santo Padre concluiu com mais uma exortação: “Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”.

Fonte:https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-10/papa-francisco-missa-abertura-sinodo-bispos-regiao-pan-amazonica.html