Entrevista concedida à jornalista Natália
França, da Coordenação Nacional de Vendas da Editora Vozes Ltda, por ocasião do
lançamento do livro Os desafios da educação a partir de Paulo Freire e Walter
Benjamin. Autor: Nilo Agostini. Editora Vozes, 2019.
1) Como surgiu a ideia de escrever
o livro?
A ideia do livro surgiu quando
participei do Congresso Internacional de Teoria Crítica, sediado na
Universidade Federal de São Carlos, em 2016. O Prof. Michael Löwy, Diretor
emérito de pesquisas do CéSor (Centre d'études en sciences sociales du
religieux), da EHESS – CNRS (École des hautes études en sciences sociales -
Centre national de la recherche scientifique), Paris, França, também estava presente no evento. Segui com muita
atenção a exposição do Prof. Löwy sobre Walter Benjamin. Ao final, fiz-lhe em
público uma pergunta sobre a convergência deste pensamento com o de Paulo
Freire, ao que ele respondeu não saber responder, mas disse que seria um bom tema
para um pós-doutorado. Desfeita a mesa, fui falar com ele no sentido dele me
acompanhar neste pós-doc, sendo positiva a sua resposta.
Portanto, o presente livro é
resultado de meu pós-doutorado em Educação. Após ver as possibilidades de realizar o meu pós-doc, decidi fazê-lo na Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar), com estágio na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais
de Paris (EHESS). Iniciei o pós-doc na UFSCar em agosto de 2017, onde
participei ativamente do segundo semestre letivo, tanto em sala de aula como
nas atividades de pesquisa, sob a supervisão do Prof. Luiz Roberto Gomes, do
Departamento de Educação de do PPGE - UFSCar. O estágio na EHESS (École des
hautes études en sciences sociales) iniciou em meados de fevereiro de 2018 e
se encerrou no final de junho seguinte, sob a supervisão do Prof. Michael Löwy.
2) Qual a proposta da obra?
A presente obra busca traçar as
convergências e as transversalidades do pensamento e respectiva práxis de Paulo
Freire e de Walter Benjamin. Ela é um "grito de alerta" sobre a
condição humana, especialmente ante o processo de desumanização hoje em curso,
especialmente dos pobres, as vítimas da sociedade, tendo presente o processo de "semiformação". Por meio de uma investigação teórico-conceitual,
busca entrever caminhos que apontem para uma transformação "criadora de
vida" (expressão de Paulo Freire). Elementos constitutivos da Teoria Crítica da Sociedade se juntam aqui e impulsionam
esta obra, em especial o comportamento crítico e a orientação para a
emancipação.
3) É um livro abrangente? Para quem
os textos são voltados?
Sim, é um livro abrangente, mas atrai de imediato a atenção dos Programas de Pós-graduação stricto sensu em Educação de
nossas Universidades, bem como dos Cursos de Graduação de Pedagogia e afins que
buscam uma leitura crítica da sociedade no viés destes dois Autores.
Igualmente, o texto é capaz de levar informação e alimentar a visão de um
universo amplo de leitores, sempre que buscarem respostas a altura dos desafios
de nosso tempo, no sentido da humanização, da emancipação, aguçando a
criticidade na problematização de nosso mundo e alimentando a esperança de
livrar a humanidade da catástrofe e fomentar uma humanidade "criadora de
vida".
4) O que o leitor pode esperar
deste livro?
O leitor pode esperar deste livro
um mergulho na vasta obra de Walter Benjamin e Paulo Freire, proporcionando
conhecimento e aguçando a criticidade ante a fissura social existente em nossa
sociedade e ante as investidas fascistas que danificam o tecido social. E, em
meio a uma indústria cultural que dissemina a semiformação, preferindo um
espírito alienado e adestrado, o leitor encontrará neste livro um grito de
alerta para empenharmos os melhores esforços em favor de uma educação crítica e
emancipadora, no sentido da autonomia do ser humano. Cabe exorcizar a barbárie,
o horror da servidão, perpetradas pela conformação das consciências. Cabe romper a continuidade
da opressão e investir na educação como ruptura emancipadora e, pelo diálogo,
realizar uma inserção lúcida na realidade histórica, captando suas contradições
e, de forma crítica, "libertar o futuro de sua forma presente desfigurada"
(Walter Benjamin). Benjamin e Freire apostam numa revolução "criadora de
vida", "biófila", engajados no "caminho do amor"
(Paulo Freire), por "uma vida mais elevada", preservando o
"espírito criador", numa "reconstrução integral", enquanto
membros de uma "comunidade de criadores que atua através do amor"
(Walter Benjamin), sem que nos ajustemos a reboque ou de maneira mecanicista à
sociedade liberal e sua "tendência burguesa, indisciplinada e
mesquinha" (Walter Benjamin).
5) Em que esta obra se difere das
outras publicações de sua autoria?
Esta publicação foi escrita mais no
âmbito da educação, enquanto outras foram desenvolvidas no ambiente mais
teológico, com destaque para a ética e a moral. Porém, em praticamente todas,
há um espírito crítico que alimenta as análises e a busca de horizontes
práticos. A obra atual é, em parte, devedora à tese de doutorado, publicada em
1990, sob o título "Nova evangelização e opção comunitária:
Conscientização e movimentos populares" (Editora Vozes), para a qual eu já
havia estudado a obra de Paulo Freire.
Nilo Agostini, pós-doutor em Educação e doutor em Teologia. Professor pesquisador do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Educação da Universidade São Francisco (USF).
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