Frei Nilo Agostini,ofm
Texto do livro de AGOSTINI, Nilo.
Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à Vida. 3ª edição, Petrópolis:
Vozes, 2011, p. 78-81.
Deus comunica vida ao ser humano através do Espírito Santo. Importa
“aproximar-nos do Espírito Santo como aquele
que dá a vida”[1]. “Neste
Espírito, que é o Dom eterno, Deus uno e trino abre-se ao homem, ao espírito
humano”[2]. A
presença de Deus torna-se real ao homem sob a atuação do Espírito; faz-se
presente no seu agir concreto e histórico.
“O sopro recôndito do Espírito divino faz com que o espírito humano, por
sua vez, se abra diante de Deus que se abre para ele com desígnio salvífico e
santificante. Pelo dom da graça, que vem do Espírito Santo, o homem entra ‘numa
vida nova’, é introduzido na realidade sobrenatural da própria vida divina e
torna-se ‘habitação do Espírito Santo’, ‘templo vivo de Deus’ (cf. Rm 8,9; 1Cor
6,19). Com efeito, pelo Espírito Santo, o Pai e o Filho vêm a ele e fazem nele
a sua morada (cf. Jo 14,23). Na comunhão de graça com a Santíssima Trindade,
dilata-se ‘o espaço vital’ do homem, elevado ao nível sobrenatural da vida
divina. O homem vive em Deus e de Deus,
vive ‘segundo o Espírito’ e ‘ocupa-se das coisas do Espírito’”[3].
Podemos descrever o ser humano como
um ser íntimo de Deus. Isto pode ser explicado pela sua participação na
natureza divina e pela sua filiação divina. Porém, existe outro dado de
especial grandeza: a presença viva e ativa do Espírito Santo. Este aparece como
um agente de transformação na fé e no batismo, constituindo-se no dom primeiro
e fundamental da vida nova (cf. 1Cor 6,11; 12,13; 2Cor 1,22; 5,5; Rm 5,5). É,
assim, o elemento constitutivo do ser cristão (cf. Rm 8,2.9.10.11.15), o
princípio dinâmico do agir (cf. Rm 8,13-14.36-27), a norma do nosso agir (cf.
Rm 8,2.4-5.9.14)[4].
Porém, antes mesmo do grande evento
da encarnação de Deus em Jesus Cristo, o Espírito de Deus já está atuando como força de Deus. “O agir do Espírito de
Deus, como o demonstra o Antigo Testamento, antecede o agir de Cristo; e ele
ultrapassa o agir de Cristo, como o mostra o Novo Testamento”[5].
“Em hebraico e grego, ‘espírito’ significa ar em movimento, hálito ou vento.
Por isso, também é sinal ou princípio de vida (cf. Gn 6,7; 7,15; 37,10-14), a
força vital (cf. Jr 10,14; 51,17), a sede dos sentimentos, pensamentos e
decisões da vontade (cf. Ex 35,21; Is 19,3; Jr 51,11; Ez 11,19). Em oposição à
carne, o espírito é aquilo que dá vigor ao homem, é poderoso e imperecível (cf.
Jó 10,4s; Jr 17,5-8; Os 14,4). Deus é que dá o Espírito e age no homem pelo seu
Espírito”[6].
Com o sentido acima, já sentimos o
quanto o Espírito representa em
termos de realidade dinâmica, elementar e vivificante. Ele está lá onde se move
a vida, de forma particular a vida humana. Ele tudo enche, tudo penetra. Não
está ao nosso alcance manipulá-lo. Somente conseguimos abrir-nos à sua força,
que é força de Deus.
No Novo Testamento, está claro que
em Jesus Cristo temos a plenitude da manifestação do Espírito. Nele, o Espírito
é realidade contínua, força própria; Ele tudo diz e faz no Espírito. O
resultado é a fascinação e a admiração dos que o cercam[7].
“Nunca vimos coisa igual”, dizem os que o cercam ( Mt 9,33). “Dele saía uma
força que a todos curava” (Lc 6,19).
“O agir libertador e redentor de Cristo, o Espírito o refere à vida, que
em toda parte procede de sua fonte e que é movida pelo ‘Espírito da vida’, pois
é esta vida que deve ser libertada e remida. O agir do Espírito de Deus,
vivificante e de afirmação à vida, é universal e pode ser reconhecido em todas
as coisas que servem à vida ou que impedem a sua destruição. Este agir do
Espírito não substitui o agir de Cristo, mas confere-lhe relevância universal”[8].
Ao mesmo tempo, a experiência do Espírito é sentida como força de Deus na
comunidade da Igreja primitiva, onde se manifesta nos muitos carismas e atua
gerando forças, palavras e ações. Ser habitado pelo Espírito representa estar
habitado por uma força que move a pessoa por inteiro e que a leva a ultrapassar
os seus próprios limites. Em At 4,8, vemos como Pedro, cheio do Espírito Santo, testemunha e anuncia os eventos pelos
quais Deus revelou a sua salvação; deparamo-nos com toda uma descrição da obra
do Espírito no coração do apóstolo, que fala com convicção a partir de uma
força que é maior do que ele.
Como fundamento objetivo da manifestação do Espírito, temos a sua descida
sobre os Apóstolos ou sua efusão no dia de Pentecostes. Pedro, ao falar deste
evento (cf. At 2,4), explica-o referindo-se, na verdade, a Joel 3,1-5, segundo
o qual os tempos messiânicos são sinalizados como uma espera do dom do Espírito
(cf. Ez 36,26.27; 37,14.27; 39,29; Is 59,21) e como realização da obra de Deus
no poder do Espírito (Is 11,2; 42,1). A partir de Pentecostes, “o Espírito
Santo vem depois de Cristo e graças a ele, para continuar no mundo, mediante a Igreja, a obra da Boa Nova da salvação”[9].
[1] JOÃO
PAULO II, Carta encíclica Dominum et
Vivificantem, 6ª edição, São Paulo, Edições Paulinas, 2000, n° 2, p. 6.
[2] Ibidem, n° 58, p. 100.
[3] Ibidem, n° 58, p. 100-101.
[4] Cf. JUNGES, J. R., Evento Cristo e ação humana: Temas fundamentais da ética teológica,
São Leopoldo, Unisinos, 2001, p. 122.
[5]
MOLTMANN, Jürgen, O Espírito da Vida: Uma
pneumatologia integral, Petrópolis, Editora Vozes, 1999, p. 10.
[6] Cf.
Vocabulário de termos bíblicos, in Bíblia
Sagrada, Petrópolis, Editora Vozes, 1982, p. 1522.
[7] Cf. Lc 1,35; 4,1.14.18; 4,18-21;
4,22; 4,32; 9,43; Mt 1,18; 7,28; 13,54; 15,31;19,25; 21,20; Mc 2,2; 5,41; 6,51;
At 4,27; 10,38; Hb 1,9; 2Cor 1,21; 1Jo 2,22.
[8] MOLTMANN, Jürgen, op. cit., p. 10.
[9] JOÃO
PAULO II, op. cit., n° 3, p. 11.
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