Fonte: AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à vida. 3ª edicão. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 81-84.
Os cristãos sentem o Espírito Santo
como realidade contínua, sempre presente. Antes mesmo do batismo, Ele faz-se
presente, suscitando a graça da fé, na acolhida da Boa Nova. Pelo batismo “em
nome de Jesus” (cf. At 2,38; 8,15.17, 9,17; 19,6; 1Cor 1,13; 6,11), lá está
Ele, confirmando o dom da fé, fortalecendo-o, em vista do testemunho. E sob a
ação do Espírito, os cristãos se reúnem em comunidade de fé. “Freqüentam com
assiduidade a doutrina dos apóstolos, as reuniões em comum, o partir do pão e
as orações” (At 2,42). Nada é mais realizado fora da ação do Espírito. “Os
cristãos declaram que a vida nova na qual eles entraram é um efeito do
Espírito, dado segundo a promessa do Cristo, que opera neles a salvação
realizada nEle”[2]. Na
verdade, o Espírito Santo nos incorpora a Cristo e nos faz participar de sua
missão[3].
“No mistério da Encarnação, a obra
do Espírito, ‘que dá a vida’,
atinge o seu vértice... ‘O Verbo fez-se carne, (aquele Verbo no qual) estava a vida e a vida era a luz dos
homens... A quantos o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de
Deus (cf. Jo 1,14.4.12s)... ‘Filhos de Deus’ são, com efeito – como ensina
o Apóstolo – ‘todos aqueles que são
movidos pelo Espírito de Deus’ (cf. Rm 8,14)... Esta filiação divina,
enxertada na alma humana com a graça santificante, é obra do Espírito Santo”[4].
“O próprio Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se somos filhos,
somos igualmente herdeiros: herdeiros de
Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8,16s).
A criação inteira acaba sentindo-se habitada
pela dádiva desta vida nova. “Se enviais o vosso Espírito, serão criados e
renovais a face da Terra” (cf. Sl 104 [103],30). Sob múltiplas formas, o
Espírito habita o ser humano e se expande em toda a criação com esta vida, renovando-a pelo mistério da
Encarnação. E, numa visão cósmico-teológica, a criação “aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,19),
daqueles que Deus “predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho” (Rm
8,29), mediante o qual “se tornam participantes da natureza divina” (cf. 2Pd
1,4).
A criação inteira acaba sentindo-se
habitada pela dádiva desta vida nova. “Se enviais o vosso Espírito, serão
criados e renovais a face da Terra” (cf. Sl 104 [103],30). Sob múltiplas
formas, o Espírito habita o ser humano e se expande em toda a criação com esta
“Deste modo, a vida humana é impregnada pela participação na vida divina
e adquire também ela uma dimensão divina, sobrenatural. Tem-se, assim, a vida nova, pela qual, como participantes
do mistério da Encarnação, ‘os homens... têm acesso ao Pai no Espírito
Santo’... A graça, portanto, comporta um caráter cristológico e, conjuntamente,
um caráter pneumatológico, que se realiza sobretudo naqueles que expressamente
aderem a Cristo”[5].
No entanto, sabemos igualmente que o
Espírito “sopra onde quer” (cf. Jo 3,8) e age para além dos limites da própria
Igreja, como nos recorda o Concílio Vaticano II. Ao ocupar-se do tema da
Igreja, afirma-nos o Concílio que a ação do Espírito Santo dá-se também “fora”
do corpo visível da Igreja, precisamente em “todos os homens de boa vontade, no
coração dos quais invisivelmente age a graça. Na verdade, se Cristo morreu por
todos e a vocação última do homem é realmente uma só, a saber, a divina, nós
devemos manter que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus
conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal”[6].
Habitados pelo Espírito, somos
chamados a crescer no conhecimento efetivo e na plena realização da verdade.
Neste caminho, Deus torna-se não só próximo ao ser humano, mas íntimo; por obra
do Espírito Santo, penetra o mais íntimo de sua vida, transformando-a desde
dentro, a partir do mais profundo dos corações e das consciências.
“Neste caminho, o mundo, participante do Dom divino, torna-se – como
ensina o Concílio – ‘cada vez mais humano, cada vez mais profundamente humano’[7],
ao mesmo tempo que nele vai amadurecendo, através dos corações e das
consciências dos homens, o Reino no qual Deus será definitivamente ‘tudo em
todos’ (cf. 1Cor 15,28), como Dom e como Amor. Dom e Amor: é esta a eterna
potência do abrir-se de Deus uno e trino ao homem e ao mundo, no Espírito
Santo”[8].
[1] MOLTMANN, Jürgen, O Espírito da Vida: Uma pneumatologia integral, Petrópolis, Editora Vozes, 1999, p. 88.
[2] WATTIAUX, Henri, Engagement de Dieu et fidélité du chrétien:
Perspectives pour une théologie morale fundamentale, col. Lex Spiritus Vitae n° 3, Louvain-la-Neuve,
Université Catholique/Centre Cerfaux – Lefort, 1979, p.
151.
[3]
Cf. LÉONARD, André, Le fondement de la
morale: Essai d´éthique philosophique générale, Paris, Les Éditions du
Cerf, 1991, p. 361.
[4] JOÃO
PAULO II, Carta encíclica
Dominum et Vivificantem,
6ª edição, São Paulo, Edições Paulinas, 2000, n° 52, p. 86-87.
[5] Ibidem, n° 52, 43, p. 87-89.
[6]
Constituição Pastoral Gaudium et Spes,
n° 22, in
VIER, Frederico (coord.), op. cit., p. 166; cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, n° 16, in VIER, Frederico
(coord.), op. cit., p. 57; cf. JOÃO
PAULO II, op. cit., n° 53, p. 89.
[7]
Constituição Pastoral Gaudium et Spes,
n° 24, 25, in
VIER, Frederico (coord.), op. cit.,
p. 167-168.
[8] JOÃO
PAULO II, op. cit., n° 59, p. 102.
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