domingo, 24 de maio de 2015

HABITADOS PELO ESPÍRITO SANTO!

Fonte: AGOSTINI, Nilo. Introdução à Teologia Moral: O grande Sim de Deus à vida. 3ª edicão. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 81-84.

            Em Cristo Jesus, o Espírito de Deus é a força de vida que brota da própria ressurreição; “a partir da Páscoa, ela ‘foi derramada sobre toda a carne’ a fim de fazer com que ela permaneça eternamente viva. No vento impetuoso do divino Espírito de vida tem início a primavera definitiva da criação, e os que desde já o experimentam percebem como a vida se torna novamente viva e digna de ser amada. O corpo doentio, frágil e mortal passa a ser o ‘templo do Espírito Santo’”[1]. São Paulo proclama que o “corpo é para o Senhor e o Senhor é para o corpo” (1Cor 6,13).

            Os cristãos sentem o Espírito Santo como realidade contínua, sempre presente. Antes mesmo do batismo, Ele faz-se presente, suscitando a graça da fé, na acolhida da Boa Nova. Pelo batismo “em nome de Jesus” (cf. At 2,38; 8,15.17, 9,17; 19,6; 1Cor 1,13; 6,11), lá está Ele, confirmando o dom da fé, fortalecendo-o, em vista do testemunho. E sob a ação do Espírito, os cristãos se reúnem em comunidade de fé. “Freqüentam com assiduidade a doutrina dos apóstolos, as reuniões em comum, o partir do pão e as orações” (At 2,42). Nada é mais realizado fora da ação do Espírito. “Os cristãos declaram que a vida nova na qual eles entraram é um efeito do Espírito, dado segundo a promessa do Cristo, que opera neles a salvação realizada nEle”[2]. Na verdade, o Espírito Santo nos incorpora a Cristo e nos faz participar de sua missão[3].

“No mistério da Encarnação, a obra do Espírito, ‘que dá a vida’, atinge o seu vértice... ‘O Verbo fez-se carne, (aquele Verbo no qual) estava a vida e a vida era a luz dos homens... A quantos o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (cf. Jo 1,14.4.12s)... ‘Filhos de Deus’ são, com efeito – como ensina o Apóstolo – ‘todos aqueles que são movidos pelo Espírito de Deus’ (cf. Rm 8,14)... Esta filiação divina, enxertada na alma humana com a graça santificante, é obra do Espírito Santo”[4].

“O próprio Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos igualmente herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm 8,16s).

A criação inteira acaba sentindo-se habitada pela dádiva desta vida nova. “Se enviais o vosso Espírito, serão criados e renovais a face da Terra” (cf. Sl 104 [103],30). Sob múltiplas formas, o Espírito habita o ser humano e se expande em toda a criação com esta  vida, renovando-a pelo mistério da Encarnação. E, numa visão cósmico-teológica, a criação “aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,19), daqueles que Deus “predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho” (Rm 8,29), mediante o qual “se tornam participantes da natureza divina” (cf. 2Pd 1,4).
           A criação inteira acaba sentindo-se habitada pela dádiva desta vida nova. “Se enviais o vosso Espírito, serão criados e renovais a face da Terra” (cf. Sl 104 [103],30). Sob múltiplas formas, o Espírito habita o ser humano e se expande em toda a criação com esta

“Deste modo, a vida humana é impregnada pela participação na vida divina e adquire também ela uma dimensão divina, sobrenatural. Tem-se, assim, a vida nova, pela qual, como participantes do mistério da Encarnação, ‘os homens... têm acesso ao Pai no Espírito Santo’... A graça, portanto, comporta um caráter cristológico e, conjuntamente, um caráter pneumatológico, que se realiza sobretudo naqueles que expressamente aderem a Cristo”[5].

            No entanto, sabemos igualmente que o Espírito “sopra onde quer” (cf. Jo 3,8) e age para além dos limites da própria Igreja, como nos recorda o Concílio Vaticano II. Ao ocupar-se do tema da Igreja, afirma-nos o Concílio que a ação do Espírito Santo dá-se também “fora” do corpo visível da Igreja, precisamente em “todos os homens de boa vontade, no coração dos quais invisivelmente age a graça. Na verdade, se Cristo morreu por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, a saber, a divina, nós devemos manter que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal”[6].

            Habitados pelo Espírito, somos chamados a crescer no conhecimento efetivo e na plena realização da verdade. Neste caminho, Deus torna-se não só próximo ao ser humano, mas íntimo; por obra do Espírito Santo, penetra o mais íntimo de sua vida, transformando-a desde dentro, a partir do mais profundo dos corações e das consciências.

“Neste caminho, o mundo, participante do Dom divino, torna-se – como ensina o Concílio – ‘cada vez mais humano, cada vez mais profundamente humano’[7], ao mesmo tempo que nele vai amadurecendo, através dos corações e das consciências dos homens, o Reino no qual Deus será definitivamente ‘tudo em todos’ (cf. 1Cor 15,28), como Dom e como Amor. Dom e Amor: é esta a eterna potência do abrir-se de Deus uno e trino ao homem e ao mundo, no Espírito Santo”[8].




[1] MOLTMANN, Jürgen, O Espírito da Vida: Uma pneumatologia integral, Petrópolis, Editora Vozes, 1999, p. 88.
[2] WATTIAUX, Henri, Engagement de Dieu et fidélité du chrétien: Perspectives pour une théologie morale fundamentale, col. Lex Spiritus Vitae n° 3, Louvain-la-Neuve, Université Catholique/Centre Cerfaux – Lefort, 1979, p. 151.
[3] Cf. LÉONARD, André, Le fondement de la morale: Essai d´éthique philosophique générale, Paris, Les Éditions du Cerf, 1991, p. 361.
[4] JOÃO PAULO II, Carta encíclica  Dominum et Vivificantem, 6ª edição, São Paulo, Edições Paulinas, 2000, n° 52, p. 86-87.
[5] Ibidem, n° 52, 43, p. 87-89.
[6] Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n° 22, in VIER, Frederico (coord.), op. cit., p. 166; cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, n° 16, in VIER, Frederico (coord.), op. cit., p. 57; cf. JOÃO PAULO II, op. cit., n° 53, p. 89.
[7] Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n° 24, 25, in VIER, Frederico (coord.), op. cit., p. 167-168.
[8] JOÃO PAULO II, op. cit., n° 59, p. 102.

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