Autor: Frei Nilo Agostini, ofm
A fé cristã tem como elemento
central o amor. É sua expressão
fecunda. Lançando raízes nesta fonte, o cristão alimenta sua vida e norteia seu
agir, sentindo-se chamado a fazer-se dom.
A própria sexualidade humana encontra aí o terreno propício para o seu devido
amadurecimento e integração. “A sexualidade deve ser orientada, elevada e
integrada pelo amor que é o único a
torná-la verdadeiramente humana”[1].
Ao
tratarmos do amor, estamos diante de
um tema extremamente rico, crucial e decisivo para as nossas vidas. Não há como
dispensá-lo; seria comprometer nosso desenvolvimento e realização enquanto
pessoas humanas. Em nossos dias, como no passado, continuam numerosas as
publicações a ele dedicadas.
O
chamado para o amor está no coração da mensagem de Jesus.
O amor-ágape
O
ponto de partida do amor-ágape reside em Deus que é amor. Na Santíssima
Trindade, temos a fonte deste amor. Vemo-lo em toda a sua expressão no amor do
Filho pelo Pai e no amor do Pai pelo seu Filho. Nós somos incorporados neste
amor, no vigor do Espírito Santo, chamados a vivê-lo com o próximo. São
numerosas as passagens bíblicas que ilustram com clareza a grandeza deste
mistério. Vejamos algumas:
· “Deus é amor” (1Jo 4,8).
· “Se alguém me ama, (...) o meu Pai o amará e a
ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14,23).
· “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns
aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisso conhecerão
todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo
13,34-35).
· “O fruto do Espírito é amor...” (Gl 5,22).
· “Quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais
terá sede. Pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água
jorrando para a vida eterna” (Jo 4,14).
Estamos diante do amor fundamental. Nele, vemos que a fonte divina
se inclina até nós; é um amor substancial, fonte de uma vida nova. É ágape,
graça e caridade, o amor que transforma a nossa vida humana em vida divina,
tornando-nos co-herdeiros em Cristo da herança divina (cf. Rm 8,17).
Entendemos, então, que Karl Rahner afirme que o ser humano “é o ser que se
perde para dentro de Deus..., ponto donde e ponto para onde, como provir e
porvir do homem”[2].
Em Jesus, este amor tomou totalmente posse de seu coração,
inflamado que está, eterna e divinamente. Liga-o profundamente ao Pai. “Este é
o meu Filho amado, em quem me comprazo: ouvi-o” (Mt 17,5; cf. Mc 9,7). Aí está
a manifestação do mistério do ágape, mistério de amor divino e substancial.
Implica no cumprimento da lei e no seu aperfeiçoamento, até criar um novo
vínculo que não é mais o da lei, mas do ágape. Nele, o ápice é o amor,
incluindo os próprios inimigos. Acrescenta-se aqui que este amor implica
igualmente um serviço, como resposta ao amor divino em Jesus.
O ágape nos
introduz no mistério do Espírito Santo em nós, o mistério do amor divino que
faz de nós filhos de Deus, filhos bem-amados do Pai. Esse amor, inscrito no
mais íntimo de nossos corações, leva-nos a unir-nos profunda e divinamente a
Jesus e, por ele, ao Pai. Incorporados a Jesus, o Cristo Vivente (cf. Ap 1,18), somos transformados nele, sendo que é “Ele
que vive em nós” (cf. Gl 2,20). Faz-se, assim, comunhão, alimento por
excelência que se comunica substancialmente.
No
mistério da cruz, compreendemos a qualidade deste amor que se faz oferenda,
sacrifício, na doação da própria vida. “Ninguém tem maior amor do que aquele
que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). O verdadeiro dom se realiza num
completo ultrapassar-se e num esquecimento de si, o que se concretiza num
sacrifício. “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só;
mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
Ágape
é, assim, um amor substancial, primeiro, fundamental. Ele reclama nosso retorno
para Deus. Exige que amemos nossos irmãos. Cabe-nos fazer a escolha! E, então,
faremos a experiência do que há de maravilhoso e único no ágape, que é o mesmo
amor substancial e fundante que nos une a Jesus, ao Pai, ao Espírito Santo, na
comunhão trinitária, e aos nossos irmãos e irmãs.
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