segunda-feira, 15 de abril de 2019

A LITURGIA, CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA

Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Em toda celebração temos três elementos que a constituem: o fato valorizado ou páscoa, a expressão significativa do fato valorizado ou o rito, e a intercomunhão solidária ou a participação no mistério. Queremos agora aprofundar o que se celebra, isto é, a páscoa, a Páscoa de Cristo e a páscoa dos cristãos ou a páscoa dos cristãos na Páscoa de Cristo. Temos, portanto, a páscoa-fato e a páscoa vivida no rito.

A páscoa-fato no Antigo Testamento: Para compreendermos o que é a páscoa, é bom a gente recorrer à experiência religiosa do Povo de Israel no Antigo Testamento. A páscoa é o acontecimento central da história do povo de Israel. Temos uma páscoa-fato, o acontecimento histórico, e uma páscoa-rito, ou a celebração da páscoa através do rito, comemorando a Páscoa-fato.
O povo eleito viveu um acontecimento muito importante, ou seja, uma passagem, a páscoa que vem descrita no livro do Êxodo. Deus passa e o povo passa pela ação de Deus. Esta passagem do povo vai desde a libertação do Egito até a posse da Terra prometida, onde corre leite e mel.
O povo passa da escravidão para a liberdade, da morte para a vida, de não-povo, a povo da aliança. Esta passagem de Deus e do povo, pela ação de Deus, tem dois pontos altos, que podemos chamar de páscoa da libertação e páscoa da Aliança. Deus passa libertando o povo da escravidão do Egito, fazendo-o atravessar o mar Vermelho, guiando-o pelo deserto, fazendo-o atravessar o rio Jordão e tomar posse da terra prometida. O outro ponto alto da passagem de Deus é a Aliança aos pés do monte Sinai.
A páscoa-rito no Antigo Testamento:– Cada ano, cada semana e cada dia, o povo comemora esta passagem libertadora e de aliança e dela participa. Anualmente, pela ceia pascal, cada semana, através da celebração da Palavra nas sinagogas aos sábados, e cada dia, através do louvor vespertino e do louvor matutino, ação de graças pelos benefícios de Deus na história do povo, sobretudo pela páscoa da libertação e a páscoa da Aliança.
A Páscoa-fato no Novo Testamento: – Também no Novo Testamento temos uma páscoa-fato e uma páscoa-rito, a verdadeira Páscoa. A Páscoa-fato é Jesus Cristo que, pelo mistério da Encarnação, deixou o Pai e veio a este mundo e deixou este mundo voltando para o Pai. O ponto alto dessa passagem é sua morte, ressurreição e ascensão aos céus. Por esta passagem, Cristo realizou a Obra da Salvação e estabeleceu a nova e eterna Aliança. Libertou a humanidade do pecado e da morte e mereceu-nos nova vida. Esta obra da salvação é chamada de Mistério pascal.
A Páscoa-rito no Novo Testamento: – Cristo realizou esta Obra da Salvação uma vez para sempre. Mas, ele confiou esta Obra aos Apóstolos e à Igreja para que todos que nele cressem e o seguissem pudessem participar dessa Obra. Uma maneira de tornar a Obra da Salvação presente e dela participar é a comemoração deste fato pascal salvador e de glorificação de Deus através de ritos, ou das celebrações. São as celebrações da Igreja, sobretudo, os sacramentos, tendo como início o Batismo e centro, a Eucaristia. É a páscoa-rito, a salvação de Deus por Cristo e em Cristo vivida através dos ritos que chamamos de mistérios do culto.
Nestas comemorações da Páscoa de Cristo realiza-se aquela comunhão de vida no amor entre Deus e a humanidade que chamamos de mistério. Atualiza-se para nós por Cristo e em Cristo, a Obra da Salvação e da glorificação de Deus, os dois movimentos da ação litúrgica.
Fonte: Este texto é fruto de um Curso de formação ministrado por Frei Alberto Beckhäuser, ofm, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário que faz parte da Arquidiocese de Vitória – ES. Sua a administração está sob os cuidados dos frades franciscanos, da Ordem do Frades Menores (OFM). Acesso:  http://paroquiadorosario.com/2017/10/26/a-liturgia-celebracao-da-pascoa/

O QUE É MISTÉRIO PASCAL? O centro da Liturgia e de toda a vida cristã!


Frei Alberto Beckhäuser, OFM
Para se compreender o que seja a Liturgia é de suma importância saber o que significa mistério pascal.
Temos aqui dois termos que devemos aprofundar: mistério e páscoa. As duas palavras têm a ver com Jesus Cristo, pois se trata do mistério de Cristo e da Páscoa verdadeira que também é Jesus Cristo que saiu do Pai e veio a este mundo e novamente deixou o mundo e voltou para o Pai.
Entende-se por mistério algo fechado que pode ser aberto e é feito para ser aberto, como, por exemplo, a porta, a janela. É algo oculto que se revela, mas que, na ordem da criação, nunca se revela totalmente. É aquela realidade que está por trás de uma realidade sensível. Devemos superar a ideia de mistério como algo simplesmente oculto, como algo secreto, algo inatingível pela razão humana. Mistério é ação, é relação, é comunicação. Onde há uma relação de vida no amor aí se realiza o mistério.
Podemos dizer que Deus é mistério em si mesmo, enquanto Deus é intercomunhão de amor e de vida entre as pessoas da Trindade Santa. Mistério é também o plano de Deus de fazer outros seres fora dele participar de sua vida, do seu amor, da sua felicidade e de sua glória, plano este revelado e realizado no Filho Encarnado, Jesus Cristo e em todos aqueles que aderem a esse plano em Cristo. Enquanto este plano se revela e se realiza em Cristo Jesus, ele se chama mistério de Cristo. Onde se realiza a comunhão de vida e de amor entre Deus e os seres humanos realiza-se o mistério. O mistério se realiza onde Deus e o ser humano se encontram, onde convivem no amor, onde se realiza a comunhão divino-humana. Realiza-se também onde acontece a comunhão de amor dos seres humanos em Deus como, por exemplo no amor conjugal. São Paulo diz: É grande este mistério!
Mistérios de Cristo, no plural, são ações de Jesus Cristo, pelas quais se revela e se realiza o plano de Deus de salvação, de comunhão divino-humana como são a Encarnação, o Nascimento, o Batismo no rio Jordão e, particularmente, sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos Céus.
A partir desta compreensão de mistério, podemos agora compreender o mistério pascal. Eis o que diz o Concílio Vaticano II:
“Esta obra da Redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de sua sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão. Por este mistério, Cristo ‘morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, recuperou a nossa vida’. Pois do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5).
Cristo, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, recuperou a nossa vida. O Senhor Jesus, passando deste mundo para o Pai, isto é, pela sua Páscoa, vence o pecado e a morte não só para si, mas para toda a humanidade. Por sua Páscoa Ele recuperou a nossa vida. O mistério pascal compreende todos os mistérios de Cristo, mas particularmente, sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão ao céu.
Jesus confiou o mistério pascal aos Apóstolos e a toda a Igreja, que o realizam através do anúncio deste mistério, de sua celebração na Sagrada Liturgia e pelas ações da caridade, vivendo o novo Mandamento.
Por isso, o mistério pascal se encontra no centro da Liturgia e de toda a vida cristã.

Fonte: Este texto é fruto de um Curso de formação ministrado por Frei Alberto Beckhäuser, ofm, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário que faz parte da Arquidiocese de Vitória – ES. Sua a administração está sob os cuidados dos frades franciscanos, da Ordem do Frades Menores (OFM). Acesso:http://paroquiadorosario.com/2017/11/02/o-que-e-misterio-pascal/

JESUS CRISTO, O CENTRO DA SAGRADA LITURGIA


A Liturgia é obra da Santíssima Trindade na celebração da Obra da Salvação realizada por Cristo comemorada pela Igreja. Assim, podemos dizer que o Centro da Liturgia é Jesus Cristo, seus mistérios, sintetizados no mistério pascal de sua morte e ressurreição.
Toda celebração litúrgica da Igreja, a celebração dos sacramentos ou outras celebrações dos mistérios de Cristo, sempre fazem memória de Jesus Cristo. Tudo deve, pois, convergir para Cristo e nada desviar deste Centro.
Quem representa ritualmente esse Centro, nas celebrações?
São pessoas ou coisas que representam Cristo, como diz o número a Sacrosanctum Concilium: “Para levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, ‘pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na Cruz’, quanto, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Presente está pela sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles’ (Mt 18,20)” (SC 7).
Cristo, que está presente e age pelo seu Espírito na Sagrada Liturgia, manifesta-se, portanto, de vários modos. 1. Nas sagradas espécies do pão, e do vinho com água. Daí, a sacralidade do momento da apresentação dos dons, da preparação do altar, da consagração e da Sagrada Comunhão. 2. No ministro. Mas, o ministro que, nos principais sacramentos é o sacerdote, está a serviço da Liturgia e da assembleia. Ele não pode e não deve ser o centro das atenções. Ele preside em nome de Cristo e representa Cristo. “Quando celebra a Eucaristia, ele deve servir a Deus e ao povo com dignidade e humildade, e, pelo seu modo de agir e proferir as palavras divinas, sugerir aos fiéis uma presença viva de Cristo” (IGMR, n. 93). Os fiéis não irão participar da Missa por causa deste daquele padre, mas por causa de Cristo. Portanto, nada de vedetismo ou de showman. 3. Está presente na Palavra. O leitor não é o centro, mas é Cristo que está falando. Ele está a serviço da Palavra de Deus. Que sublime ministério o de proclamar a Palavra de Deus na assembléia celebrante! 4. Na assembléia. A assembléia constitui o Corpo de Cristo, formado de muitos membros, mas formando um só corpo. Daí as ações comuns da assembleia na celebração, as posições comuns do corpo, os gestos e as palavras. Todos os demais ministérios também devem expressar a presença de Cristo que serve. Pensemos diáconos; depois, no salmista, nos acólitos, nos coletores, no comentarista, no grupo de cantores, no animador do canto, nos instrumentistas. Todos devem lembrar Cristo e servir a Cristo, servindo à assembléia. 5. O espaço celebrativo, a igreja. Nela existem, sobretudo, três centros, sinais da presença e da ação de Cristo, a serviço da assembleia, e nos quais se concentra a atenção da mesma. São eles o altar que é Cristo, o ambão, em que a Palavra é Cristo, e a cadeira do Presidente, que age em nome de Cristo. Temos, portanto, o Cristo presente no altar, na mesa da Palavra e cadeira de presidência. O centro de convergência de todo o espaço deverá ser, pois, o altar.
Tudo fala de Cristo, tudo deve transmitir um clima sagrado de nobre simplicidade. O altar é despojado, coberto de ao menos uma toalha de cor branca, a cor sacerdotal. Não pode ser um depósito de tudo quanto é bugiganga. Tudo estará centralizado em Cristo Jesus.


Fonte: Este texto é fruto de um Curso de formação ministrado por Frei Alberto Beckhäuser, ofm, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário que faz parte da Arquidiocese de Vitória – ES. Sua a administração está sob os cuidados dos frades franciscanos, da Ordem do Frades Menores (OFM). Acesso: http://paroquiadorosario.com/2017/11/08/jesus-cristo-o-centro-da-sagrada-liturgia/