Frei Alberto Beckhäuser,
OFM
Em toda celebração temos três elementos que a constituem: o fato
valorizado ou páscoa, a expressão significativa do fato valorizado ou o rito, e
a intercomunhão solidária ou a participação no mistério. Queremos agora
aprofundar o que se celebra, isto é, a páscoa, a Páscoa de Cristo e a páscoa
dos cristãos ou a páscoa dos cristãos na Páscoa de Cristo. Temos, portanto, a
páscoa-fato e a páscoa vivida no rito.
A páscoa-fato no Antigo Testamento: Para compreendermos o que é
a páscoa, é bom a gente recorrer à experiência religiosa do Povo de Israel no
Antigo Testamento. A páscoa é o acontecimento central da história do povo de
Israel. Temos uma páscoa-fato, o acontecimento histórico, e uma páscoa-rito, ou
a celebração da páscoa através do rito, comemorando a Páscoa-fato.
O povo eleito viveu um acontecimento muito importante, ou seja,
uma passagem, a páscoa que vem descrita no livro do Êxodo. Deus passa e o povo
passa pela ação de Deus. Esta passagem do povo vai desde a libertação do Egito
até a posse da Terra prometida, onde corre leite e mel.
O povo passa da escravidão para a liberdade, da morte para a
vida, de não-povo, a povo da aliança. Esta passagem de Deus e do povo, pela
ação de Deus, tem dois pontos altos, que podemos chamar de páscoa da libertação
e páscoa da Aliança. Deus passa libertando o povo da escravidão do Egito,
fazendo-o atravessar o mar Vermelho, guiando-o pelo deserto, fazendo-o
atravessar o rio Jordão e tomar posse da terra prometida. O outro ponto alto da
passagem de Deus é a Aliança aos pés do monte Sinai.
A páscoa-rito no Antigo
Testamento:– Cada ano, cada semana e cada dia, o povo comemora esta
passagem libertadora e de aliança e dela participa. Anualmente, pela ceia
pascal, cada semana, através da celebração da Palavra nas sinagogas aos
sábados, e cada dia, através do louvor vespertino e do louvor matutino, ação de
graças pelos benefícios de Deus na história do povo, sobretudo pela páscoa da
libertação e a páscoa da Aliança.
A Páscoa-fato no Novo
Testamento: – Também no Novo Testamento temos uma páscoa-fato e uma
páscoa-rito, a verdadeira Páscoa. A Páscoa-fato é Jesus Cristo que, pelo
mistério da Encarnação, deixou o Pai e veio a este mundo e deixou este mundo
voltando para o Pai. O ponto alto dessa passagem é sua morte, ressurreição e ascensão
aos céus. Por esta passagem, Cristo realizou a Obra da Salvação e estabeleceu a
nova e eterna Aliança. Libertou a humanidade do pecado e da morte e mereceu-nos
nova vida. Esta obra da salvação é chamada de Mistério pascal.
A Páscoa-rito no Novo Testamento: – Cristo realizou
esta Obra da Salvação uma vez para sempre. Mas, ele confiou esta Obra aos
Apóstolos e à Igreja para que todos que nele cressem e o seguissem pudessem
participar dessa Obra. Uma maneira de tornar a Obra da Salvação presente e dela
participar é a comemoração deste fato pascal salvador e de glorificação de Deus
através de ritos, ou das celebrações. São as celebrações da Igreja, sobretudo,
os sacramentos, tendo como início o Batismo e centro, a Eucaristia. É a
páscoa-rito, a salvação de Deus por Cristo e em Cristo vivida através dos ritos
que chamamos de mistérios do culto.
Nestas comemorações da Páscoa de Cristo realiza-se aquela
comunhão de vida no amor entre Deus e a humanidade que chamamos de mistério.
Atualiza-se para nós por Cristo e em Cristo, a Obra da Salvação e da
glorificação de Deus, os dois movimentos da ação litúrgica.
Fonte: Este texto é fruto de um Curso de formação ministrado por Frei Alberto Beckhäuser, ofm, na Paróquia Nossa Senhora do Rosário que faz parte da Arquidiocese de Vitória – ES. Sua a administração está sob os cuidados dos frades franciscanos, da Ordem do Frades Menores (OFM). Acesso: http://paroquiadorosario.com/2017/10/26/a-liturgia-celebracao-da-pascoa/
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