"Amados Irmãos em Cristo,
vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor. Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia (coragem, ousadia) de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo e se tornem construtores de um mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.
1. Chamados por Deus: Creio que é importante reavivar em nós esta realidade
que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do
dia-a-dia: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos
Jesus. Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho
vocacional, há uma eleição divina. Temos que nos lembrar sempre deste primeiro
chamado. Fomos chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus, unidos a
Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: Eu vivo, mas
não eu, é Cristo que vive em mim. Este viver em Cristo configura realmente tudo
aquilo que somos e fazemos. E esta vida em Cristo é justamente o que garante a
nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: Eu vos designei para
irdes e para que produzas fruto e o vosso fruto permaneça. Não é a criatividade
pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os frutos, isso
ajuda e muito, mas temos que ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência:
Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. E nós sabemos bem o que isso
significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa
fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na
Eucaristia e no abraço às pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo
não é se isolar, mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à
cabeça umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: Devemos estar
muito orgulhosos da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo
nos pobres. É nas favelas, nos cantegriles, nas Villas miseria, que nós devemos
ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima
do altar, cheio de alegria. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; que
procuremos fixar sempre mais n’Ele o nosso coração.
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Muitos de vocês, queridos bispos e
sacerdotes senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles
também ouviram as palavras do mandato de Jesus: Ide e fazei discípulos entre
todas as nações. É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o
desejo de serem discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante
desse convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser
missionário significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Deus
quer que sejamos missionários onde estivermos. Deus me mostrou que o meu
território de missão estava muito mais perto: na minha pátria. Ajudemos os
jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência de ser
batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde
evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e
os amigos. Não poupemos forças na formação da juventude. Os jovens precisam ser
escutados. Temos que ajudá-los e ter a paciência de escutar. São Paulo usa uma
bela expressão, que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus
cristãos: Meus filhos, por vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser
formado em vós”. Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso
ministério. Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé, a
alegria de ser pessoalmente amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para
nossa salvação. Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir. Jesus fez
assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como uma galinha com
os seus pintinhos; Ele os enviou. Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas
nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho. Não se trata
simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta afora para
procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a partir da periferia,
daqueles que estão mais afastados, daqueles que habitualmente não frequentam a
paróquia. Também eles são convidados para a Mesa do Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes,
infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a cultura do descartável. Não
há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter
com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as
relações humanas sejam regidas por dois dogmas modernos: eficiência e
pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e também vocês
seminaristas, que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra a
corrente desta cultura. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade,
palavra escondida nessas culturas, e a fraternidade são os elementos que tornam
a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da comunhão
e da cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos
neste aspecto. Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que
nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e
transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la.
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o
Evangelho e promover com alegria a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o
nosso modelo. Na sua vida, Ela deu exemplo daquele afeto maternal de que deve
estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de
regenerar os homens. Não podemos esquecer das pessoas da periferia que tem sede
de Deus. Que sejamos discípulos do Senhor e concedamos a todos esta graça".
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